Teste Voight-Kampff para socialistas

Julgo que a melhor solução para recrutar os próximos governantes socialistas será recorrer ao teste Voight-Kampff do filme Blade Runner …

Por João Cerqueira

Confrontado no Parlamento com as demissões sucessivas de membros do seu Governo, António Costa afirmou que doravante as escolhas iram ser mais rigorosas para evitar os tais casos, casinhos e casões que ele próprio tem criado. Para tal, propôs associar o Presidente da República ao processo, responsabilizando-o assim se houvessem mais trapalhadas. Mas parece que o Presidente não ficou entusiasmado com ideia. 
Como tal, julgo que a melhor solução para recrutar os próximos governantes socialistas será recorrer ao teste Voight-Kampff do filme Blade Runner – afinal, este Governo parece ter descolado da realidade para a ficção científica. Destinado a detetar se o indivíduo testado é um ser humano ou um androide (replicant), o teste avalia a reação emocional desencadeada por diversas perguntas. Quando a íris se dilata, isso significa que o indivíduo é um androide. Aplicado a um ou a uma candidata a governante socialista, a dilatação da sua pupila ante algumas afirmações de teor político e ético determinará se está moralmente qualificada para servir o país e não embaraçar ainda mais o primeiro-ministro.

Foi já feito um teste experimental com um militante socialista típico. Ou seja, alguém que entrou para JS aos catorze anos, foi subindo na hierarquia do partido, nunca questionou ninguém, apoiou José Sócrates, votou nele, ameaçou quem o criticava, considera que a bancarrota foi uma invenção da direita e vê em Pedro Nuno Santos um profeta que os levará à Terra Prometida. Por precaução, este militante foi também escolhido por nunca ter tido nenhum cargo público, recebido fundos de apoio ou ter estado sequer perto de alguma decisão que envolvesse o dinheiro dos contribuintes. Ou seja, como nunca esteve preso, não deverá ter tido condutas impróprias – à exceção de multas de trânsito e urinar na via pública.

Eis o resultado do teste. «Em julho de 1990, o jornal Independente noticia que o governador de Macau recebeu um fax…» – a íris do testado sofre uma dilatação.
«Em janeiro de 1996, o antigo dirigente socialista Rui Mateus publica o livro Contos proibidos: Memórias de um PS desconhecido onde denuncia uma rede de tráfico de influências…» – a íris dilata-se ainda mais.
«É claro que o Independente e Rui Mateus não tinham credibilidade nenhuma» – a íris volta ao tamanho normal.
«José Sócrates foi um primeiro-ministro corajoso e inovador que foi vítima de uma cabala política» – a íris permanece inalterada.

«O modo de vida de José Sócrates era incompatível com os seus rendimentos como político…» – a íris dilata-se.
«Os membros do Governo de José Sócrates foram cúmplices das suas decisões…» – a íris continua a dilatar-se.
«Passos Coelho quis a austeridade para castigar os portugueses» – a íris volta ao tamanho normal.
«Angela Merkel tinha simpatias nazis e odiava Portugal» – a íris não se altera.
«A ‘geringonça’ de António Costa tornou Portugal um país mais rico, justo e competitivo» – a íris até fica mais pequena.
«As políticas atuais de António Costa vão resolver os problemas da Saúde, Educação, Justiça e Habitação» – a íris continua a diminuir.
«Os três biliões de euros investidos na TAP poderiam ter sido investidos na Saúde e na Educação» – a íris começa a dilatar-se.
«Os jovens qualificados emigram porque não acreditam no futuro de Portugal» – a íris dilata-se ainda mais.
«Ser um boy ou uma girl socialista garante mais oportunidades de emprego do que fazer um doutoramento» – a íris volta a atingir a dilatação máxima.
«Portugal ter sido ultrapassado por vários países e ter quatro milhões de pobres é o resultado do falhanço das políticas socialistas dos últimos vinte anos». 

Neste momento o entrevistador é forçado a parar o teste com receio de que a íris do entrevistado rebente. No próprio dia, um oftalmologista recomendou-lhe dois dias de repouso com os olhos fechados e muita cenoura. 
Seja como for, a conclusão do teste é clara. Ainda que não tenha a menor experiência profissional e não tenha feito mais nada na vida senão subir no elevador do partido, ainda que não se lhe conheça uma ideia própria ou iniciativa original, ainda que não queira saber do país para nada, acredite que a Terra é plana e consulte o Tarot, este militante é, por isso mesmo, alguém com o perfil ideal para ser nomeado secretário de Estado, ministro ou qualquer outra coisa de um Governo de António Costa. Não vai dar problemas e ninguém vai dar por ele. Desde que não lhe peçam para fazer uma reforma.