Pedro Nuno Santos já faz mexer o PS

Em silêncio desde que abandonou o Secretariado Nacional do PS, antecipa-se que marque uma posição no congresso no final do ano. E não lhe faltam apoios nas bases.

Na última reunião da Comissão Nacional do PS, que decorreu este sábado em Coimbra, houve uma ausência que não passou despercebida. Em rutura com a atual direção do partido, Pedro Nuno Santos não marcou presença e o seu nome não foi pronunciado ao longo das quase cinco horas em que o órgão máximo entre congressos discutiu o rumo a seguir, após os casos que têm marcado a governação socialista nos últimos meses.

Apesar de ter protagonizado uma saída de peso, a demissão do ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação do Governo foi um não-assunto, ainda que a sua ausência fosse esperada, uma vez que se demitiu do Secretariado Nacional e já não tem assento naquele órgão. Esse foi, aliás, o argumento invocado pelo presidente do PS, Carlos César, quando questionado pelos jornalistas sobre a falta do ex-governante na reunião.

Essa decisão de se demarcar da condução estratégica da direção de António Costa surgiu um dia depois de o primeiro-ministro ter convidado dois dos seus discípulos (João Galamba e Marina Gonçalves) para o substituir.

Ainda que tenha pedido “descanso” à saída do Palácio de Belém, após os seus sucessores terem tomado posse, a cisão entre Pedro Nuno Santos e o secretário-geral do PS está mais que oficializada. E isso não quer dizer que as hostes socialistas estejam sossegadas. Muito pelo contrário.

Nesta altura, sabe o i, o ex-ministro tem interesse em ficar na sombra, pelo menos durante uns meses, até poder começar a traçar o seu próprio caminho como principal candidato à sucessão de Costa na liderança do PS. Mas a verdade é que já tem feito mexer as bases que anseiam pelo dia em que este tomará as rédeas do partido.

Exemplo disso é o facto de Pedro Sousa, presidente do PS/Braga, ter vindo logo declarar o seu apoio a Pedro Nuno Santos.

“Tem qualidades políticas e humanas absolutamente ímpares (…) Quem, como eu, com ele convive há mais de 20 anos, sabe bem que a força das suas convicções, a sua energia, a sua garra, a sua autenticidade, a nobreza do seu caráter, o seu sentido humanista da vida e do mundo, aliados à sua visão progressista, reformista e transformadora para o país, somada à capacidade de decidir, de fazer, de empreender, de realizar, fazem com que o Pedro Nuno seja (ontem, hoje e amanhã) um ator central da vida do PS e do país”, escreveu o líder da estrutura concelhia no Facebook.

Ao Nascer do SOL, Pedro Sousa já tinha atestado que as ambições políticas futuras de Pedro Nuno não saíam beliscadas pela polémica em torno da indemnização que a ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, recebeu da TAP. Precisamente, porque “deu a cara, chamou a si o erro e demitiu-se”.

Nesta equação, a preocupação com o desgaste de António Costa, que conta já oito anos à frente do PS, e do Governo, que acumula 13 demissões em apenas nove meses de vida, tem também levado a que as bases comecem a pensar nos próximos anos, convergindo no nome de Pedro Nuno Santos.

 

O inevitável?

Com influência estendida a grande parte do aparelho socialista, já são várias as vozes, que destacam o trabalho que desenvolveu nos sete anos que esteve no Executivo e que o reconhecem como um ativo fundamental no futuro do PS.

Logo após o anúncio da demissão de Pedro Nuno Santos, a deputada socialista Alexandra Leitão foi das primeiras a vir a terreiro com declarações de solidariedade para com o ex-colega de Governo.

“Eu gostarei seguramente de o ver a ter um papel ativo e importante no futuro do PS e do país, da forma que ele entenda que deve desempenhar esse papel”, declarou a antiga ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública.

A este coro juntou-se João Soares, membro da Comissão Política do PS, e também Carlos César que disse que Pedro Nuno Santos, embora fazendo “falta no Governo”, pode vir a ajudar o partido “noutras áreas da intervenção política e partidária”. Mais assertiva na declaração de apoio, a antiga eurodeputada socialista Ana Gomes disse mesmo que o ex-ministro saiu “a tempo de revigorar o PS”.

Mais que assumido candidato à sucessão de Costa, Pedro Nuno deverá marcar uma posição no próximo congresso do PS, que deverá acontecer no outono.

A dúvida que permanece é se Pedro Nuno Santos é inevitavelmente ‘o sucessor’. Com um Governo que mais parece em fim de ciclo, mesmo que a sua ambição seja chegar a líder do PS, pode nunca chegar a primeiro-ministro. E, nesse cenário, ressurgem outros nomes, como Fernando Medina, Ana Catarina Mendes, José Luís Carneiro  ou Duarte Cordeiro.