Depósitos a prazo. Juros em alta mas remuneração em ponto pequeno

Aumento de juros não se reflete nos produtos de poupança. Portugal continua a ser dos piores países para se investir em depósitos a prazo. Ainda assim, Outubro foi o mês em que se registou maior procura face aos os últimos três anos, ao atingir 4726 milhões de euros.

Os depósitos a prazo continuam a ser os campeões na captação de poupanças. E se a subida dos juros por parte do Banco Central Europeu (BCE) penaliza quem tem crédito à habitação que se vê a braços com uma subida nas prestações mensais, o mesmo não acontece com a remuneração paga pelo sistema financeiro em relação a este produto de poupança. Os dados não são animadores. Portugal continua a ser dos piores países para se investir em depósitos a prazo. De acordo com o banco central, apresentamos uma das taxas mais baixas da Europa no que diz respeito ao investimento em depósitos a prazo, ficando à frente apenas da Eslovénia, da Irlanda, da Grécia e do Chipre. Isto dizer que, quando comparados com os restantes países europeus, “os portugueses têm atualmente muitas dificuldades em considerar a opção do depósito a prazo como uma solução válida para as suas poupanças”, revela o estudo do ComparaJá realizado para o i.

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Apesar do aumento geral de 0,25%, a taxa de juro na Europa para depósitos com prazo inferior a um ano encontra-se a 0,83% e assinala uma diferença substancial de 0,50% quando comparada com Portugal. As tendências da evolução entre as taxas em Portugal e as taxas na Europa são normalmente semelhantes e os números representam, por norma, subidas e descidas semelhantes ao longo do tempo – foi apenas durante quatro anos (entre 2011 e 2015) que os portugueses viram estas taxas serem mais vantajosas do que a média europeia, assistindo, por vezes, a uma diferença superior a 2%.

“Muito por causa da inflação que se tem vivido nos últimos tempos e pelas previsões de recessão económica que têm sido transmitidas, a procura por este produto financeiro tem aumentado de forma exponencial nos últimos meses. O mês de outubro, por exemplo, foi o mês em que se registou o maior montante de depósitos a prazo nos últimos três anos: 4726 milhões e nesse mês assistiu-se mesmo a um dos maiores aumentos mensais da história da banca portuguesa”, revela a plataforma digital.

 

Prioridade em investir

Para André Pedro, diretor do ComparaJá, esta poderá ser uma “altura importante” para investir em depósitos a prazo, dado que “as ferramentas de poupança serão cada vez mais uma prioridade tanto para as pessoas como para as instituições”. Segundo as últimas indicações do Banco de Portugal, os portugueses têm investido cada vez mais neste tipo de soluções: “Tudo indica que os tempos que se aproximam são, economicamente falando, frágeis e as previsões têm indicado que num futuro próximo iremos mesmo assistir a um fenómeno de recessão económica. É, por isso, importante refletir e apostar cada vez mais na poupança em si de forma a salvaguardar o nosso bem estar financeiro”.

No entanto, a análise de depósitos a prazo nem sempre é “assim tão simples” e na maior parte das vezes torna-se mesmo numa “tarefa tão complicada quanto importante” . De acordo com a ronda feita pelo site, as remunerações variam entre 1% e 2,15% (ver tabelas).

 

Centeno pede prudência

O governador do Banco de Portugal já pediu aos portugueses “alguma paciência” para a demora dos bancos portugueses na subida dos juros aplicados aos seus depósitos, apesar de chamar a atenção para o facto de já haver instituições a subir os juros. “Quando as taxas de juro eram negativas, em Portugal os bancos nunca cobraram juros negativos. Esta décalage no tempo [de os juros nos depósitos demorarem a subir mais no que nos créditos] pode ser justificada por isso”, disse recentemente Mário Centeno.

E não hesitou: “É verdade que as taxas de juro nos depósitos têm e devem acompanhar a evolução das taxas de juro. Já começaram a fazê-lo. Se me pergunta se a dimensão é suficiente, a resposta é clara: é não”.

Filipe Santos, professor de Inovação Social e diretor da Católica Lisbon School of Business & Economics garante que “é um sinal que o mercado bancário em Portugal não está a ser suficientemente competitivo. Qualquer banco podia subir as suas taxas até mais de 1% para atrair mais depósitos e colocar essa liquidez a 2% no BCE”, defendendo que os “bancos em Portugal não estão a remunerar os depósitos de forma justa em relação às condições de mercado, em particular num contexto em que as poupanças dos seus clientes estão a perder valor face a uma inflação que ronda os 10%”.

 

Alternativas

De acordo com o economista, os portugueses têm uma opção. “O único produto garantido que tem um rendimento que se ajusta automaticamente à Euribor são os Certificados de Aforro (CA) do Estado, emitidos pelo IGCP e referenciados à Euribor 3 meses + 1%”.

A perda de atratividade dos depósitos a prazo tem estado a levar os aforradores portugueses a olharem cada vez mais para os produtos de poupança do Estado. Neste universo, os Certificados do Tesouro Poupança Crescimento (CTPC) – que vieram substituir os Certificados do Tesouro Poupança Mais – são o produto que mais interesse tem despertado. No caso do aforro, a taxa de remuneração é calculada com base na média dos valores da Euribor a três meses observados nos dez dias úteis anteriores, acrescida de 1%. “O único produto garantido que tem um rendimento que se ajusta automaticamente à Euribor são os Certificados de Aforro do Estado, emitidos pelo IGCP”, chama a atenção Filipe Santos.

A taxa de juro para novas subscrições de certificados de aforro (série E) foi fixada em 3,088%. Já nos CTPC, a taxa de juro é crescente: no primeiro e segundo anos são pagos 0,75% (remuneração bruta), e sobe para 1,05% no terceiro ano, 1,35% no quarto, 1,65% no quinto e 1,95% no sexto, até atingir no último ano 2,25%. A taxa de juro a partir do segundo ano é acrescida de um prémio correspondente a 40% do crescimento médio real do PIB, a preços de mercado nos últimos quatro trimestres conhecidos no mês anterior à data de pagamento de juros.

E agora conte com uma novidade. Ao contrário do que acontecia até aqui, os Correios e IGCP renovaram o contrato de distribuição de dívida pública para os próximos três anos e passa a contar com “níveis adicionais de satisfação dos aforradores, entre os quais o desenvolvimento dos canais online pelos CTT, além do tradicional canal presencial da rede de Lojas CTT”, garantiu a empresa liderada por João Bento.