O adeus de três tenores

Digamos que Ana Gomes será um nome que toda a extrema-esquerda quererá apoiar, embora possa afastar os socialistas moderados que não se reveem nesse estilo de vida.

As presidenciais de 2026 ainda ainda estão longe, mas já há muitas movimentações em curso, sendo que o Partido Socialista, que não tomou partido por nenhum candidato nas duas últimas eleições, é a maior incógnita. Se António Costa ainda estiver à frente do Executivo e do PS, é natural que, no caso de não querer avançar na corrida presidencial, lance o nome de Augusto Santos Silva, o homem que queria acabar os seus dias ativos como professor universitário, mas que deverá sorrir com a possibilidade de se sentar na cadeira do Palácio de Belém. Mas se Costa se fartar e Pedro Nuno Santos for o comandante da nau rosa, então Ana Gomes poderá ser o nome escolhido pelo enfant terrible do Partido Socialista. Se é verdade que Ana Gomes ficou bem longe, em 2021, do resultado de Sampaio da Nóvoa, em 2016, a eurodeputada rebelde – que gosta de apregoar o que, por vezes, não cumpre – também não é menos evidente que Pedro Nuno Santos simpatiza com o lado mais radical da antiga diplomata de Timor. Digamos que Ana Gomes será um nome que toda a extrema-esquerda quererá apoiar, embora possa afastar os socialistas moderados que não se reveem nesse estilo de vida.

Já à direita, tudo está em suspense à espera da decisão de Pedro Passos Coelho. Se este avançar, não é crível que Luís Marques Mendes se atreva a puxar das suas audiências televisivas para exigir o apoio do PSD. Se o antigo primeiro-ministro optar por outros caminhos, então não há dúvidas que Marques Mendes estará na linha da frente para ser candidato, seguindo as pisadas do seu amigo Marcelo Rebelo de Sousa. Até porque à direita não se vislumbra nenhuma hipotética candidatura, tirando, como é óbvio, a oportunidade de André Ventura querer ser o João Ferreira do PCP e candidatar-se a tudo. 

As eleições poderão ser ainda mais divertidas, pois o eventual avanço do almirante Gouveia e Melo poderá complicar as contas à esquerda e à direita. Logo se verá se nessa altura o povo já se esqueceu da covid ou não. É que o almirante ganhou o seu estatuto de homem fazedor devido ao processo de vacinação contra a covid-19, aparecendo em todas as sondagens à frente da concorrência.

Tudo se encaminha para uma luta entre Marques Mendes e Gouveia e Melo, até atendendo a que três senadores da direita, Santana Lopes, Durão Barroso e Paulo Portas não se deverão querer meter nestas guerras, bastando olhar para as sondagens para perceberem que não terão qualquer hipótese. Isto, claro está, não passa de um exercício de adivinhação, mas nos tempos que correm é mais divertido escrever sobre algo que ocorrerá em 2026 do que escrever sobre os sucessivos escândalos que envolvem políticos – desde ministros, a secretários de Estado ou autarcas.

Diz-se que a Justiça portuguesa é muito lenta, mas a verdade é que tem memória e lá vai fazendo o seu trabalho ao seu ritmo. E é engraçado que quando as investigações aparecem em público há quem tenha a tentação de falar em agenda política. Por exemplo, não há mais casos judiciais por resolver envolvendo a Câmara de Lisboa? Não há uma queixa quanto ao famoso prédio da Avenida Fontes Pereira de Melo que não podia ter determinado número de andares, mas depois da mudança de  proprietário teve licença para construir o que tinha sido rejeitado? Há muitos mais casos que foram noticiados nos últimos anos, e, portanto, é natural que nos próximos tempos se venha a saber se havia matéria para se avançar ou não com as queixas-crimes. 

P. S. A estridente Cristina Ferreira adora polémicas, e tornou-se um pouco um símbolo do novo-riquismo. Não gosto do estilo, acho uma bimbice completa, mas a mulher tem todo o direito de ir falar para os papalvos que a querem ouvir. É a célebre história da procura e da oferta. Se existe procura para os seus discursos motivacionais (!!??) qual a razão para Cristina Ferreira não os fazer? 

vitor.rainho@nascerdosol.pt