O fim da ‘Jacindamania’

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, anunciou que se iria afastar do cargo. Diz que não tem mais ‘energia’.

O fim da ‘Jacindamania’

Foi a mais jovem mulher a tornar-se líder de um governo. Aos 37 anos, guiou o país pela pandemia da covid-19, por um ataque terrorista em duas mesquitas e uma erupção vulcânica. Esta quinta-feira, Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, anunciou que se iria demitir do cargo no próximo mês, admitindo não ter mais «energia» para continuar aos comandos do país.

«Não posso e não devo fazer o trabalho a menos que tenha um tanque cheio e um pouco de reserva para os desafios não planeados e inesperados que inevitavelmente surgem. Tendo refletido no verão, sei que não tenho mais aquele pouco extra no tanque para fazer justiça ao trabalho. É simples», declarou, acrescentando que esta decisão não se deve a «nenhum escândalo desconhecido».

O mandato da primeira-ministra cessante vai terminar no dia 7 de fevereiro, mas, entretanto, este domingo, o Partido Trabalhista deve eleger o seu líder e novo primeiro-ministro, que irá continuar no poder até às próximas eleições, a 14 de outubro.

Durante os cinco anos em que esteve no poder, Ardern gozou de uma enorme popularidade internacional, um fenómeno que ficou conhecido como ‘Jacindamania’.

Uma das razões pelas quais esta conseguiu tanto reconhecimento global foi pela forma como lidou com a pandemia quando o coronavírus chegou à Nova Zelândia, conseguindo durante meses controlar a propagação do vírus dentro das suas fronteiras.

Foi também muito elogiada pela forma como apoiou a comunidade muçulmana da Nova Zelândia após o ataque, em 2019, perpetrado por Brenton Tarrant, um australiano de 28 anos, que matou 51 pessoas em duas mesquitas na cidade de Christchurch. 

A primeira-ministra, que tinha chegado ao poder 18 meses antes, usou um hijab quando se reuniu com a comunidade muçulmana um dia após o ataque.

Mas não ficou apenas pelas demonstrações de afeto, e introduziu uma legislação bipartidária de controle de armas, que valeu comparações (pela positiva) com a forma apática como o então Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lidou com a violência armada no seu país.

«Ardern será recordada como uma líder de crise com grandes capacidades», escreveu Tim Watkin, produtor executivo da Radio New Zealand, citado pelo Al Jazeera.

Contudo, no ano passado, a sua popularidade registou uma descida motivada pelo aumento da inflação, que atingiu um pico máximo das últimas três décadas, pelo aumento agressivo da taxa de câmbio e do crime.

Foi ainda registada uma maior divisão política na Nova Zelândia motivada por questões como a reforma governamental da infraestrutura hídrica e a introdução de um programa de emissões agrícolas.