Pedi a paz para Jerusalém!

Subir ao Monte do Templo, em Jerusalém, e pensar nos acontecimentos históricos que ali se realizaram ao longo de milhares de anos deixa-me sempre impressionado.

Estou em Jerusalém no momento em que escrevo esta crónica. É a cidade que mais gosto de visitar. O motivo não é propriamente ou estritamente religioso, mas cultural.

Passo horas a ver as pessoas. Passo horas a analisar os seus comportamentos, a maneira de vestir, a maneira de falar, de rezar. Jerusalém é realmente uma cidade muitíssimo diferente.

Subir ao Monte do Templo e pensar nos acontecimentos históricos que ali se realizaram ao longo de milhares de anos deixa-me sempre  impressionado. Segundo a tradição hebraica, ali Abraão foi para sacrificar Isaac, conforme o pedido de Deus. Isaac estava intrigado. Havia um sacrifício a fazer e ele próprio trazia a lenha as costas, mas não havia vítima. Então Abraão deixa uma das frases que pode ajudar a todos: Deus providenciará!!! No momento do sacrifício, Deus providenciou um cordeiro.

Ali David mandou colocar a Arca da Aliança que continha as pedras com os dez mandamentos e a cara de Moisés com o nome de Deus gravado bem como o nome dos três Patriarcas (Abraão, Isaac e Jacob) e das seis Matriarcas de Israel.

Os judeus sempre acreditaram que nessa arca estava a shekinah de Deus, isto é, a presença real de Deus. Aquele momento onde foi edificado o templo por Salomão (filho do Rei David) é também conhecido na tradição judaica como Ha-makom, isto é, o Lugar. Este é para os judeus o lugar do encontro com Deus.

No ano 70 d.C., os romanos arrasaram o Templo e os judeus perderam o lugar do sacrifício, dando, assim, maior importância à sinagoga. Desde então, lamentam-se os judeus junto do Muro do Templo que tem maior proximidade à rocha onde Abraão foi para sacrificar Isaac.

O que existe hoje nessa rocha? A mesquita que assinala a subida de Maomé aos céus… toda a esplanada do templo está desde há séculos entregue aos muçulmanos. Ninguém não muçulmano pode entrar na Mesquita da Rocha sem uma autorização específica.

Várias vezes ao dia escutamos o chamamento da mesquita para a oração. Junto ao Muro das Lamentações vemos os corpos dos judeus que se balançam numa oração constante. Entrelaçam-se os sons constantes de orações ininterruptas.

A cidade velha, onde se cruzam todos estes acontecimentos, está cheia de pequenos caminhos cheios de comerciantes árabes que vendem todo o tipo de coisas. São como que túneis labirínticos onde se situa o Santo Sepulcro, onde Jesus foi crucificado e, depois de três dias, ressuscitou.

O que consigo descrever nestas poucas palavras parece não ser mais do que a discrição de uma realidade exterior, mas quem por aqui passa percebe que esta cidade relata angústias, sofrimentos e alegrias de tantos homens. Aqui o exterior penetra o interior de cada homem… aquele interior que temos destruído desde há três séculos.

A técnica e o progresso podem-nos ter dado muita qualidade de vida, mas a paz interior não advém daí. Porque podemos ter tudo, mas se o nosso coração não encontra descanso vivemos um inferno. Por isso pedimos  a paz para Jerusalém e para nós.