Estes partidos são um problema!

A designada direita portuguesa precisa de uma IL forte, não apenas pelas suas ideias liberais que não se encontravam representadas na sociedade portuguesa, mas também para fortalecer a democracia. O PSD continua bastante apático como principal partido de oposição e, mesmo nestas circunstâncias difíceis, não gera a perceção de se constituir como alternativa.

1. A maioria absoluta que saiu há um ano das eleições de janeiro de 2022, trouxe ao país a convicção de que finalmente teríamos estabilidade e condições para termos um Governo que, assumindo a linha programática socialista, pudesse aplicar o programa que o PS apresentou aos eleitores e, porque não, fizesse algumas reformas que essa maioria suportasse. Passou cerca de um ano e, perante a sucessão de tantos ‘casos e casinhos’ a ofuscar o dia-a-dia, alguém reteve alguma medida governamental que tenha sido implementada, para além dos apoios sociais de emergência? Talvez a nomeação de um CEO para o SNS, fosse aquela que a maioria das pessoas referiria.

Infelizmente, não há semana em que não se verifique um caso mediático a envolver personagens governamentais e, apesar do esforço dos certamente muito bem pagos profissionais de comunicação contratados para assessorar os diferentes ministros e restantes governantes a tentar minorar os danos causados, a verdade é que as sondagens refletem uma elevada degradação, quer da imagem do Governo quer da credibilidade pública dos governantes (já agora: gostaria de saber quanto nos custam esses consultores!). 

Perante esta realidade a fragilizar a autoridade, não surpreende o borbulhar das contestações sociais, alimentadas por uma inflação que quase chegou a dois dígitos em 2022 e que trouxe subidas de preços a ‘aleijar’ os bolsos dos portugueses, sobretudo em áreas essenciais na vida das pessoas, como os custos com a alimentação e a energia (esta alimentada pelos efeitos da guerra na Ucrânia). 

Como se isso não bastasse, existem diversos problemas estruturais a aguardar resolução e sem fim à vista. A título de exemplo, passo a referir:

• O caso dos professores que descreem no Ministério da Educação e que se manifestam em greves que não têm fim;

• um SNS que não responde às necessidades da população, sobretudo pela dificuldade de recrutamento e/ou retenção de quadros de pessoal, sem falar na organização e métodos?

• A Justiça que tarda em se ‘endireitar’ com substanciais riscos de prescrição em processos intermináveis?

• A TAP que espera uma privatização a 100% do capital, perante o desespero da esquerda que insiste em dogmas qualquer que seja o custo para o bolso dos portugueses e onde os interessados escasseiam pelo que já vimos o ministro da Economia a apelar ao interesse da Iberia;

• as greves nos portos que não estão resolvidas porque os seus problemas estão adiados, e; 

• o Turismo anseia por decisões sempre adiadas sobre o novo aeroporto de Lisboa. 

Chegados a este ponto em que, para cúmulo, assistimos a um ‘ping-pong’ verbal entre o primeiro-ministro e o Presidente sobre o preenchimento ou não do famoso questionário ‘de idoneidade’ para os atuais membros do Governo, sabendo todos que, caso o mesmo fosse aplicado, quatro ministros e dois secretários de Estado seriam abrangidos por resposta embaraçosa a pelo menos uma pergunta, forçosamente tenho que questionar: que mais será preciso para o Presidente Marcelo demitir o Governo e, perante o facto de a oposição não se percecionar por enquanto como alternativa, solicitar a Costa que forme um novo Governo para encetar ‘vida nova’?

Ou será que o Presidente Marcelo se tem recusado a fazê-lo porque tem a convicção de que o desgaste, pessoal e governativo, de Costa é tão profundo que lhe escasseia a margem de manobra para recrutar quadros credíveis para o Governo, sobretudo agora que os obriga a preencher um questionário humilhante e, perante um cenário destes, o menor dos males é mesmo ‘deixar assentar a poeira’? Até quando?

 

2. O Congresso eleitoral da Iniciativa liberal (IL) confirmou o que esperava dele, ou seja, um partido fraturado pela saída inopinada de Cotrim de Figueiredo (JCF). Surgiram dois candidatos à liderança e mais um terceiro (José Cardoso) que mais valia ter desistido. Como se esperava, a disputa foi renhida e Rui Rocha (51,7%) venceu por escassa margem a oposição de Carla Castro (44%).

A surpresa do Congresso não foi a vitória, mais ou menos esperada, de Rui Rocha (RR), mas a enorme animosidade entre os principais candidatos e o ambiente de guerrilha em que o mesmo decorreu. Os discursos foram duros, a emoção muitas vezes prevaleceu sobre a razão e nem a união tão defendida no discurso de vitória do novo líder fez esquecer as palavras antes ditas de ambos os lados.

Eleito RR, veremos o futuro dos liberais, atualmente a quarta força política nacional, em resultado de um discurso inovador e incisivo de JCF, um líder de carisma agregador e incontestado perante os eleitores. RR recebeu um partido em circunstâncias muito especiais na vida política portuguesa, face à atual instabilidade governativa e à objetiva necessidade da IL ser parte de uma solução alternativa para Portugal, pelo que os próximos tempos não se lhe perspetivam nada fáceis, com imenso trabalho pela frente, desde ‘colar os cacos” desavindos do Congresso, até demonstrar aos eleitores que o partido continua o mesmo, com a vantagem de ter rejuvenescido.

A designada direita portuguesa precisa de uma IL forte, não apenas pelas suas ideias liberais que não se encontravam representadas na sociedade portuguesa, mas também para fortalecer a democracia. O PSD continua bastante apático como principal partido de oposição e, mesmo nestas circunstâncias difíceis, não gera a perceção de se constituir como alternativa. O CDS perdeu visibilidade ao sair do Parlamento e o único partido a beneficiar de tantas indefinições é o Chega que continua paulatinamente a crescer. 

Veremos nos próximos meses qual a capacidade de afirmação de RR, quer internamente quer perante os seus potenciais eleitores, mas Carla Castro deve forçosamente fazer parte da solução, sob risco da IL transmitir uma instabilidade que inevitavelmente lhe irá retirar uma parte significativa da sua base de apoio. Os eleitores não se foram embora, mas mudam de voto com facilidade e seria uma pena a IL ficar na história como um partido que apareceu com Carlos Guimarães Pinto, se desenvolveu e desapareceu com Cotrim de Figueiredo.