Maior operação policial de sempre

Todos os elementos da PSP estão proibidos de tirar férias entre 24 de julho e 7 de agosto. Câmara garante um retorno enorme em relação ao investimento.

Maior operação policial de sempre

«O que se está a passar é completamente insólito e demonstra a cegueira de algumas pessoas. Gastaram-se 18 milhões com o Eurofestival da canção, que trouxe menos de 20 mil estrangeiros a Portugal, gastaram-se mil milhões com o Euro-2004 – que teve um grande retorno, é certo, mas que deixou estádios que são autênticos elefantes brancos –, já se gastaram mais de 70 milhões com a Web Summit e agora um palco que poderá ser usado no futuro, que custa cinco milhões é que merece toda esta guerra? E o que dizer dos seis milhões e meio gastos nas torres técnicas? Podia gastar-se menos, mas se houvesse um corte de eletricidade e não existisse o sistema de geradores montados, seria um fiasco, pois levaria algum tempo a irem-se buscar os geradores que ficassem num carro de apoio», exalta-se um dos organizadores da Jornada Mundial da Juventude.

«Onde é que estiveram cerca de um milhão e meio de pessoas num evento em Portugal? As pessoas têm consciência do que o país vai ganhar com isso? Vão ser milhões de euros de retorno e anda-se a brincar com a JMJ só por ser da Igreja. Se fosse para uma Web Summit ninguém diria nada», acrescenta a mesma fonte.

A JMJ não se vai cingir ao Parque Tejo, onde ficará o palco-altar, mas estender-se-á ao Parque Eduardo VII, onde se previa um palco eficaz para que 700 mil pessoas se sentissem integradas, além dos palcos no Terreiro do Paço  e outro na Alameda, onde as diversas representações presentes poderão mostrar um pouco da sua cultura. Além dos palcos previstos, haverá mais 50 espaços onde se realizarão atividades religiosas ou culturais, havendo pavilhões, cinemas e teatros afetos a essas atividades.

Com as dúvidas do Presidente quanto ao custo dos palcos do evento e do Parque Eduardo VII não se sabe como estes irão ficar, mas sabe-se que o palco previsto para o Parque Eduardo VII esteve para ser montado no Marquês de Pombal e que por questões de segurança foi decidido ser deslocado para o alto no  Parque Eduardo VII. Dessa forma,  em caso de necessidade de evacuação do Papa, que será recebido aí, as escapatórias são melhores e o caminho estará livre em toda a zona da Praça de Espanha em direção ao aeroporto.

Por tudo isso, a operação da JMJ será a maior alguma vez realizada em Portugal. Todos os serviços policiais estão envolvidos na segurança, liderados por Paulo Vizeu Pinheiro, secretário-geral do  Sistema de segurança Interna.  Quem não estará muito feliz com as medidas adotadas são os elementos da PSP que estão proibidos de tirar férias de 24 de julho a 7 de agosto. Mesmo quem estiver de folga sabe que terá de estar de prevenção, pois pode ser chamado a qualquer momento. E o mesmo é válido para os militares da GNR.

Para se ter uma ideia da dimensão da JMJ diga-se que centenas de polícias serão deslocados da sua área para Lisboa. Muitos dos motards das divisões de trânsito espalhados pelo país trarão as suas motas para a capital para ajudarem a manter a segurança nas estradas. Os homens da desminagem percorrerão túneis e esgotos para se certificarem de que tudo correrá bem, nos trajetos que Papa irá realizar.

O Corpo de Intervenção de Lisboa será reforçado pelos seus elementos do Porto e do Algarve, e o Grupo de Operações Especiais (GOE) estará todo destacado para a ocasião, já não falando do Corpo de Segurança Pessoal. Dependendo do número de participantes, o diretor-nacional da PSP – que foi entretanto reconduzido no cargo como o Nascer do SOL tinha noticiado há dois meses – decidirá quantos homens precisarão de ficar em Lisboa. O antigo quartel da Polícia Militar, na Ajuda, o quartel do Ralis e a Escola Prática de Torres Novas são os locais onde os agentes destacados irão provavelmente dormir. «Não se pense que há luxos,  vão dormir em camaratas, nos beliches existentes», ironiza um dos agentes que espera ser destacado.

 

Ajusto direto fora da agenda

Muito se falou do ajuste direto para a construção do palco-altar do Parque Tejo, mas o Nascer do SOL sabe que não houve concurso público por ser impossível seguir esse caminho. «Como não foi feito nada até outubro do ano passado, tornou-se impossível fazer concursos públicos, pois bastava um concorrente impugnar para tornar o evento impraticável», diz ao nosso jornal fonte conhecedora do projeto.

Já Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da Câmara de Lisboa, indigna-se com insinuações de que o processo foi menos claro, e as alusões a Paulo Portas que está na Mota-Engil, construtora responsável pela obra, influenciaram a escolha deixam o autarca à beira de um ataque de nervos.  «Repugna-me, só de pensar, que alguém pudesse pôr a mão numa coisa destas. É claro que preferia que tivesse havido um concurso público, mas era impossível fazê-lo. O que pedi em todos os processos da Jornada Mundial da Juventude é que se tivesse um cuidado escrupuloso máximo com este processo. Quero que façam consultas ao mercado, mesmo que não tenham que fazer. Tenham cuidado máximo e quero que fiquem com a evidência dessas consultas com arquivo. Façam um processo de alguma forma informal, porque não é um concurso público. Mas façam um arquivo, um processo de decisão que seja absolutamente transparente e escrutinado. Se, mais tarde, perguntados, possamos dizer que fizemos isso tudo e neste caso, a SRU fez isso. A SRU consultou quatro empresas construtoras, uma delas é empresa que está a fazer a empreitada no terreno. Aquele terreno é um terreno complicado e exigente por causa das características que tem do antigo aterro e por isso mesmo até vão ser eles que fazem a outra empreitada das fundações. E depois foram outras grandes construtoras contratadas. Houve três processos. Um primeiro momento que foi a abertura de propostas [para o palco-altar], com caderno de encargos e especificações. A Mota-Engil apresentou a proposta mais baixa. Fez-se uma segunda ronda, deram-se clarificações, as propostas foram apresentadas com algumas características. Na primeira, consultadas sete, responderam cinco. Na segunda ronda, eliminou-se uma que tinha um valor mais alto, percebeu-se que as empresas de eventos não tinham perfil para esta obra, ficaram as quatro construtoras. Segunda ronda e a Mota-Engil mostra o preço mais baixo. Mesmo assim, fizemos a terceira ronda e a Mota-Engil apresentou o preço mais baixo».

Anacoreta Correia diz ainda que toda a informação irá para oTribunal de Contas, pois «vão todos os documentos. Isto vai ser tudo público», acrescenta.

 

Retorno de milhões

O vice-presidente da autarquia está convencido de que o país vai ter um retorno extraordinário. «Pedi um estudo que está a ser feito. Em Madrid quantificaram o retorno sete vezes o investimento. Tiveram 350 milhões de euros de retorno. Isto há 12 anos. Agora repare bem, se temos um milhão de pessoas – e aqui vai haver incerteza também até ao fim mas, os últimos indicadores podem apontar para mais gente. Em Cracóvia, nesta altura, a oito meses do evento, havia 400.000 inscritos, que é o há agora em Lisboa e em Cracóvia tiveram acho que 1,5 milhões, pelo que a Igreja me disse. Se tivermos aqui um milhão de pessoas, este programa tem uma duração de cinco dias, muita gente vem uma semana antes e vai uma semana depois, alguns não ficam em Portugal. Mas não parece muito irrealista pensar que uma pes, em média, ficará cinco dias, mesmo que a dormida fique em casa de uma família, mas virão os pais — a Igreja estima que cada participante na Jornada Mundial da Juventude é acompanhado por três pessoas. Pensando assim: se tiver um milhão de pessoas e gastarem, neste período, em média, 200 euros, será muito? Um copo, um presente que se dá. Chega-se facilmente a um retorno que vai ficar aqui na cidade. Imenso».

Por fim, se o Governo irá disponibilizar perto de 36 milhões de euros, a Câmara de Lisboa 35 e a de Loures à volta de 10 milhões, a Igreja, pela voz de D. Américo Aguiar, que confessou ter ficado magoado com o valor de cinco milhões do palco-altar, disse que será previsível que sejam gastos 80 milhões pela Igreja. Na alimentação dos participantes cerca de 30 milhões, e o restante em seguros, transportes e outras despesas. Curiosamente, até ao final de 2021, a Igreja só tinha conseguido arrecadar em doações perto de 800 mil euros, segundo o relatório de contas da FJMJ. Mas os organizadores estarão, seguramente, à espera de alguns mihões de euros das inscrições, sendo que a mais cara é de 250 euros. Multiplicando por 150 mil participantes pagantes é fazer a conta. Certo é que todos esperam que o encontro que o Papa terá com os cerca de 20 mil voluntários em Oeiras, depois de terminada a Jornada propriamente dita, seja um momento de festa. E ainda ninguém sabe se o Papa Francisco irá ou não a Fátima, embora tudo indique que sim.