Os portugueses não estão satisfeitos com o jeito deste Governo

As dificuldades na realidade das famílias sentem-se e todos sabemos que não serão melhores nos próximos tempos.

por Raquel Paradela Faustino
Jurista e Porta-voz do CDS-Partido Popular

O Governo não se pôs a jeito, dá é um jeito a todos os amigos que por lá passam. E é exatamente isso que todos nós pensamos.

A insensibilidade e a tentativa de moldar a realidade é tão fraca, que todos os argumentos parecem ocos. Assim como a justificação da guerra é falsa, no sentido de procurar justificar os inúmeros casos de corrupção, de ‘questões de ética’ e, ao cabo de um ano, a manifesta falta de um projeto estratégico para a governação do país.

As medidas para a atenuação da inflação e quebra de rendimentos foram, e são, curtas. As dificuldades na realidade das famílias sentem-se e todos sabemos que não serão melhores nos próximos tempos. Claro que nos acalma a alma lermos que, na realidade, não nos encontramos numa recessão, mas até num quadro de relativo crescimento da economia portuguesa. Que a crise que iria demorar e custar a passar pode já até ter passado. Mas a dura realidade é aquela que todos sentimos e essa é distinta dessas narrativas, estando longe de se justificar apenas com a guerra na Ucrânia.

Ainda que tal seja real, que tenhamos escapado à recessão com um ligeiro crescimento de 0,2%, aquilo que vemos é (i) a taxa de desemprego a subir para 6,7%, em dezembro, (ii) o turismo que contou com menos estrangeiros face a 2019 e (iii) a Euribor a três meses a superar os 2,5%.

Logo três fatores que afetam, transversalmente, a sociedade e que, apenas em parte, se prendem diretamente com a guerra na Ucrânia. O desemprego aumenta, mas a dificuldade dos empresários em contratar funcionários também; o menor número de estrangeiros que recebemos face a 2019 afeta o setor dos transportes, do turismo, da restauração, que ainda não recuperaram da contração dos anos de pandemia; e, por fim, o peso dos juros nos empréstimos das famílias e das empresas, que reduzem significativamente a disponibilidade orçamental de todos.

Para além disto, o nosso poder de comprar continua a cair, ao mesmo tempo que, por exemplo, na saúde, se dá uma tremenda injustiça, ao sermos obrigados a pagar duas vezes um sistema que nos acautele, facto que, obviamente, também nada tem a ver com a guerra na Ucrânia.

Quando sabemos que o tempo de espera nas urgências dos hospitais supera as seis horas de espera, sabemos que, com este sistema de saúde, não podemos contar. Por isso, todos quantos podem, asseguram algum conforto e certeza, acabando por pagar duas vezes a necessidade de resposta na saúde, investindo em seguros privados que lhes garantam uma resposta imediata nos momentos de aperto.

Ninguém entende a facilidade com que é possível dar um jeito na alocação de determinados gastos, quando não se consegue dar um jeito na saúde, na redução do IVA nos bens essenciais ou na diminuição dos casos de dependência do subsídio de desemprego e outras prestações sociais. Mas, acima de tudo, que se tente justificar a ineptidão da governação do país com a guerra na Ucrânia.