Ventura rejeita ‘geringonça’ de direita

O presidente do Chega, reeleito no passado fim de semana com 98,3% dos votos, vai exigir lugares num Executivo, se o partido ficar atrás do PSD e caso haja uma maioria de direita numas próximas legislativas.

A 5.ª Convenção do Chega, em Santarém, que decorreu no passado fim-de-semana, foi muito diferente das anteriores. Sem nenhuma voz da oposição interna a avançar, sem moções indesejadas, sem troca de insultos entre militantes e só com discursos simpáticos para o líder. André Ventura saiu da reunião eletiva do partido líder incontestado.

 Reeleito presidente do Chega com 98,3% dos votos, no discurso de vitória, desta vez foi Ventura quem impôs a linha vermelha: «Queremos ser governo em Portugal mas não estamos dispostos a geringonças de direita porque elas nunca funcionaram e connosco também não vão funcionar. Enquanto for presidente do Chega, não haverá nenhuma geringonça de direita em Portugal, pelo menos que o Chega faça parte.»

A mensagem é clara. Ou há Governo com o Chega ou não há Governo de todo. Ou seja, no caso de o partido ficar atrás do PSD nas próximas eleições legislativas e exista uma maioria à direita, na fase de negociação o Chega vai exigir lugares no Executivo.

Apesar de querer levar o partido a liderar um governo, nos próximos quatros anos, Ventura não promete que o Chega vença as eleições ou fique acima do PSD. Mas isso não quer dizer que o partido se demita de criticar a liderança social-democrata. «A oposição não tem feito o trabalho da oposição. Temos uma oposição com medo e que só ganhou vergonha de estar próximo do PS por causa do Chega», atirou.

Ao PS, referiu-se «como um vírus», colocando o Chega como «a única cura» para o «vírus mortal socialista».

No final da intervenção, acabou a gritar: «À medida que nos atacam, espezinham, nos dizem que somos racistas, xenófobos, vamos lutar terra a terra, rua a rua, até sermos governo deste país. Porque António Costa já chegou ao fim.»

Na apresentação da sua moção aos delegados da convenção, o líder traçou as metas para o novo mandato. «Vencer cada uma das eleições, mostrar que somos o principal partido português, e, o teto que me caia aqui em cima, se nós não havemos de ser, um dia, líderes do governo em Portugal», prometeu.

Os discursos, apesar de eufóricos, já foram num tom mais moderado e Ventura esforçou-se para dar uma imagem de amadurecimento e provar que o partido está verdadeiramente pronto para governar. Ainda que ao longo dos três dias de convenção tenham existido discursos mais radicais, por exemplo sobre imigração, segurança ou corrupção.

O entusiasmo das últimas sondagens, que lhes dão praticamente 15% das intenções de voto, também contribuíram para pairar no ar uma certa segurança dentro do partido que lhe permite agora sonhar com outros voos.

António Tânger Correia, vice-presidente do partido, subiu ao púlpito para sublinhar que o Chega também «tem que ser alguém a nível internacional», apontando a mira às europeias de 2024. «Um partido só é grande se tiver presença internacional. A nossa voz tem que ser ouvida na Europa. E vamos fazer com que isso aconteça», garantiu.

Nesse mesmo horizonte temporal, o Chega tem também pela frente as regionais na Madeira. E Ventura quis deixar claro que quer acabar com o «compadrio» na região. «Nós temos uma grande equipa que vai certamente fazer mossa e fazer tremer o Governo da Madeira», ameaçou

Nesta reunião foi também eleita a nova direção nacional do partido. A lista obteve 91,9% dos votos. Da anterior equipa caíram dois nomes envolvidos em divergências com Ventura: Gabriel Mithá Ribeiro que se demitiu por lhe ter sido retirada a coordenação do gabinete de estudos do Chega, e Nuno Afonso que anunciou a desfiliação do partido.

 Santarém foi também a convenção da institucionalização do Chega. Pela primeira vez, outros partidos enviaram representantes. Sentados na primeira fila estavam o PSD, representado pelo vice-presidente Miguel Pinto Luz – o único que nunca rejeitou uma aliança com o Chega –, a Iniciativa Liberal, representada por Rodrigo Saraiva, o CDS, por Paulo Núncio e Telmo Correia, e o Governo, pela ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes.