A ‘fita do tempo’ em tempo de fitas

.Pedro Nuno Santos, espera(va)-se, é(era) um ativo político importante do Partido Socialista para o seu futuro, independentemente de chegar, ou não, a ser eleito secretário-geral.

A política portuguesa tem singularidades interessantes. Pedro Nuno Santos foi verificar a ‘fita do tempo’, no seu telemóvel, e verificou que afinal sabia, e terá dado a sua concordância, à indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis, quando esta saiu da administração da TAP.
As ‘fitas’ da falta de memória têm sido recorrentes na vida pública nacional, bem como a adoção de expressões idiossincráticas como esta da ‘fita do tempo’, que já ouvimos utilizada sucessivas vezes por outros políticos, desde que o ex-ministro a utilizou.
Pedro Nuno Santos, espera(va)-se, é(era) um ativo político importante do Partido Socialista para o seu futuro, independentemente de chegar, ou não, a ser eleito secretário-geral. 
Os partidos nunca são entidades monolíticas, devendo ser capazes de agregar tendências distintas dentro das suas famílias políticas. Fernando Medina não pensará de modo exatamente igual a Pedro Nuno Santos, que certamente diverge em muito de Ana Catarina Mendes e, esta, de Sérgio Sousa Pinto. 
Não obstante, o PS tem sido capaz de federar dentro das suas fileiras tendências distintas do socialismo democrático. Desde o episódio do Movimento Esquerda Socialista (MES) que não há uma rutura dentro desta ‘família alargada’. 
O Partido Social Democrata foi incapaz de fazer conviver as diferenças de pensamento, de objetivos e de egos das suas personalidades. É o resultado de ter tido lideranças frágeis, incapazes de se impor ou de agregar em torno de um bem maior, redundando num espaço político esfrangalhado. Se, no PS, vemos uma série de opções para a liderança do partido, naquele que foi ‘o partido mais português de Portugal’, vemos um deserto lamentável.

O que vem acontecendo no PS não é muito diferente do percurso que o PSD fez, há alguns anos. Se Pedro Nuno Santos saiu como saiu, precisando de recorrer à ‘fita do tempo’ para um episódio importante do maior problema que tinha para gerir, a guerra interna que se vive no partido é a repetição do que os grupos do PSD fizeram.
As notícias ‘encomendadas’ e as denúncias anónimas são o reflexo de uma guerra civil, que parece servir aos interesses de grupo, mas que não servem nem ao partido e, menos ainda, a Portugal.
Nenhum país é capaz de se governar sem instituições partidárias fortes e sem centro político que, simultaneamente, garanta a alternância democrática e sirva ao interesse nacional. 

Acreditamos que os grupos que se digladiem não pensem nisto, no seu quotidiano ‘caciquista’, mas os chefes desses grupos têm de ser capazes de entender os partidos de modo institucional, com espírito de serviço e instrumentais ao todo nacional.
Aos do PS que estão felizes com a fragilidade estrutural do PSD, insuflando a direita caceteira e populista, de certa forma, em modo vingança, como o que lhes foi feito no início da década de 2000, com o Bloco de Esquerda, importa que aprendam com os erros alheios. 
O PSD, então, ‘patrocinou’ o crescimento do BE, criando o extremar de posições políticas que vêm inviabilizando os consensos de regime, que transformaram Portugal.
O apoio do PS à direita populista trará mais do mesmo. A continuação da paralisação do país.
Ganham, neste momento, os que pensam mais na cadeira e nos cargos, do que aqueles que se preocupam efetivamente com a vida das pessoas e com o futuro do País. Ganham, também, as corporações que têm crescido em preponderância contra o todo.
Nota final para a comunicação social. Também ela, alimenta-se e tem alimentado anos de casos e de fitas, contribuindo para o ‘pântano’. 
Quando recuarmos a ‘fita do tempo’, mesmo que alguns ganhem, todos teremos perdido.