O talento de vender um Governo em cacos

Quando a oposição não dá os melhores exemplos, é natural que Costa se perpetue no Governo. 

É um facto indesmentível: o Partido Socialista tem um talento único de marcar a agenda mediática, afastando tudo o que lhe é prejudicial. Assolado quase diariamente com histórias rocambolescas do seu Executivo, com secretários de Estado envolvidos em escândalos judiciais, o partido do poder agarrou-se, com a ajuda dos seus amigos, com unhas e dentes à história do custo do palco-altar do Parque Tejo que vai receber a Jornada Mundial da Juventude. O mais extraordinário é que quase ninguém fala do custo do som, luz e imagem do evento, a cargo do Governo, que é muito mais caro do que o famoso palco, que agora irá emagrecer. Por acaso já se foi ver se essa despesa, a cargo do Governo, não pode ser reduzida?

Os socialistas têm esse dom único de afastarem as nuvens que escurecem a sua governação e já começaram a passar a narrativa, uma palavra de que tanto gostam, de que os casos falados de governantes a contas com a Justiça, e de outros a contas com problemas éticos, não passam de fait divers, e que o país tem problemas muito mais sérios do que os desfalques em Ministérios ou de má gestão dos dinheiros públicos.

António Costa é o verdadeiro maestro dessa orquestra que toca a música que a maioria quer ouvir, e consegue mesmo jogar com o tempo para ultrapassar as adversidades. O melhor exemplo talvez seja o dos professores, já que não se consegue resolver o problema na sua raiz, trata-se de começar a culpar os professores – alguns, diga-se, ajudam o primeiro-ministro com os seus protestos radicais. É pois natural que 2023 seja um ano em grande para o Governo, com milhões de euros da União Europeia a entrarem nos cofres do Estado para serem distribuídos ao sabor da rosa, e com as supostas boas notícias do afastamento da crise europeia.

Quando a oposição não dá os melhores exemplos, é natural que Costa se perpetue no Governo. A história do vice-presidente parlamentar do PSD é elucidativa da imagem da oposição. Foi preciso o Ministério Público pedir o levantamento da imunidade parlamentar de Pinto Moreira para este abandonar as suas funções. Para quem quer dar um bom exemplo, este foi o pior que se podia ter servido. Devia ter-se demitido logo quando o seu nome surgiu na comunicação social, até para se defender convenientemente, não mostrando que se estava a esconder no Parlamento.

Mudando de assunto. Penso que não sou só eu que acho um pouco estranho o endeusamento que se fez e faz da ainda primeira-ministra da Nova Zelândia. Jacinta Arder chegou a regozijar-se com a condenação à prisão perpétua de terroristas – em 2022 um miúdo de 15 anos também recebeu a pena máxima – e decidiu proibir o tabaco às novas gerações. Nada disto conta para a nova realidade, onde o que interessa é o que se vende, mulher e jovem, vítima de uma sociedade machista. Até na hora da resignação, quando as coisas não estão a correr bem ao Governo, recebeu os maiores elogios. Extraordinário. Alguém que defende a pena de prisão perpétua e é proibicionista recebe os maiores elogios daqueles que chamam fascistas a quem defende o mesmo.

P. S. Não percebi a razão de Marcelo Rebelo de Sousa ainda não ter ido à Ucrânia. Estará o Presidente da República com receio do quê?

P. S. 2 Acabemos com uma boa notícia: o frio, tão próprio desta época, deixou de ser notícia. Afinal, no Inverno é suposto os termómetros acusarem uma baixa de temperatura, mas parece que para alguns é algo completamente novo. Nesta nova fase das nossas vidas, há fenómenos com milhares de anos que passaram a ser novos, vá-se lá saber porquê.

vitor.rainho@sol.pt