Coaching. O segredo dos discursos motivacionais

Primeiro em 2016, depois de Éder ter entregue o mérito do golo no Mundial, à sua coach Susana Torres. Hoje, graças ao evento Cristina Talks. A palavra coaching nunca esteve tão na ordem do dia. Mas afinal o que é? De que forma influência a vida das pessoas? Por que tendemos a confundi-lo com a…

Hoje, mais do que nunca, vivemos numa sociedade que tende a procurar formas de melhorar o seu bem-estar e desempenho. Cada vez mais, as pessoas procuram ajuda para atingir objetivos de vários níveis na vida, quer seja através da terapia, com psicólogos, quer seja através da melhoria de resultados, juntamente com um coach, por exemplo. Contudo, se o aumento da procura, por um lado, significa que se dá mais importância à Saúde Mental, por outro, segundo vários especialistas, gera um “atração por parte de profissionais das mais variadas áreas em promoverem as suas alegadas práticas de coaching, procurando ganhar dinheiro”, acabando por existir também uma série de dúvidas quando toca a distinguir conceitos e necessidades.

Por isso, numa altura em que os holofotes estão virados para a área do coaching – depois da apresentadora e empresária, Cristina Ferreira, ter enchido o Altice Arena no dia 14 de janeiro, com o evento Cristina Talks, que contou com a participação do coach Fred Canto e Castro, de Joana Salgueiro dos Honeymooners, de  Paulo Figueiredo, diretor do Pisca Pisca e ainda de Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, cobrando 19 euros por pessoa -, as interrogações sobre a área e sua influência aumentaram. “10 mil pessoas marcaram presença numa manhã completamente mágica, impactante e transformadora. Quem foi, não saiu igual. Todos, sem exceção, foram à procura de alguma coisa, algo que melhorasse e mudasse as suas vidas”, lê-se no site oficial da anfitriã daquela que foi a segunda edição do evento. Mas porquê? O que é o coaching e qual a sua importância e perigos? Qual a linha que o separa da psicologia? De que forma se regula a atividade e quem a ela se dedica? Em Portugal, quais as maiores dificuldades e quais os preços praticados? 

Recorde-se que a carreira de Cristina Ferreira como oradora motivacional não é recente e, ao longo do tempo, parece estar para perdurar. A digressão da diretora de Entretenimento e Ficção da TVI pelos palcos do País começou no Pavilhão Multiusos de Gondomar, a 15 de outubro de 2022, e foi presenciada por 3000 pessoas. Depois disso, seguiu-se o Altice Arena, em Lisboa, a 14 de janeiro.

Três dias depois, nas redes sociais, a apresentadora anunciou uma nova data: 20 de maio, no Pavilhão Multiusos de Guimarães. Foi preciso apenas um par de horas para o evento ficar esgotado. “Inacreditável”, descreveu na sua conta de Instagram. Face à procura, no dia seguinte, Cristina Ferreira, divulgou que existiria mais uma Cristina Talks, desta vez no Altice Fórum Braga, a 16 de setembro. Da mesma forma, os bilhetes esgotaram em apenas duas horas. 

Em 2020, mais uma vez, à Visão, a apresentadora de televisão admitiu um dia ser capaz de candidatar-se à Presidência da República.

Além dela, um outro nome tem marcado a atualidade. O coache de 29 anos, Fred Canto e Castro. Aos 20 anos, a estudar na melhor faculdade de gestão do país, teve a ideia de sair da faculdade para criar uma agência de modelos com pessoas “autênticas” – a Sonders. Segundo o mesmo, depois de muito trabalho, aos 22 faturava meio milhão de euros, colocava milhares de pessoas a filmar para mais de 30 países e trabalhava com as maiores marcas mundiais, da Apple à Nike. Dois anos depois, escreve no seu Instagram, decidiu que queria ser orador em empresas e começar a partilhar conteúdos nas redes. “Queria partilhar a minha experiência e inspirar as pessoas a atingirem o potencial que sei que todos temos dentro de nós”, continua. Apesar de à sua volta o clima ser de incerteza por parte de quem o acompanhava, dada a sua idade, aos 25, estava a falar nas maiores empresas em Portugal, da EDP à Jerónimo Martins, da Sonae à Remax, da SportTV à Accenture, da Fnac à L’Oreal e ainda a partilhar conteúdos, para o que se tornou numa comunidade de mais de 100 mil pessoas que o acompanham nas diferentes redes. Este ano e ao lado de Cristina Ferreira, a sua plateia cresceu. 

Reações do público “Ouvi muito disparate. Disparate daquele de quem não foi e tem raiva de quem tenha ido, sabe? Esse tipo de disparate. Ouvi questionar a capacidade de trabalho de quem foi, a vontade, esforço e perseverança de quem dedicou tempo e as motivações. Questionou-se quem foi, por não se gostar de quem fez. Absurdo, mas aconteceu”, conta ao i Cláudia Anica, que no dia 14 de janeiro se sentou na plateia do Altice. “O momento que se viveu ali e se viverá nos próximos, nada mais é do que um género de TedTalks onde pessoas em quem a Cristina acredita, falam do seu percurso e da forma como conseguiram estar onde estão hoje (seja esse lugar mais alto ou mais baixo do que o sonhado)”, explica a criadora de conteúdos, que garante que não foi “à procura de milagres”. “Não sou uma ‘Cristinete’, mas sou uma profunda admiradora do seu percurso, trabalho e esforço e reconheço e agradeço a ela a abertura de caminhos para que mulheres possam sonhar mais alto e estar mais alto também. Eu fui à procura de alento. Fui à procura de ouvir que era possível, no meu cenário, na minha condição, na minha verdade e com o meu sonho”, admitiu. “Com o Fred recordei e imaginei, com a Joana deslumbrei-me pela beleza da vida mesmo nos momentos difíceis, com o Carlos Moedas entendi a importância dos detalhes para o destaque e com o diretor do Pisca Pisca entendi que a nossa decisão pesa sempre mais, por mais duro que seja o prognóstico”, detalhou, acreditando que quem gosta de TedTalks, irá “de certeza gostar do evento”.

João Pereira fez parte do grupo de pessoas que já se encontrava na fila do evento às 7 da manhã. “Ao assistir a este evento onde confesso que me emocionei diversas vezes, percebi que eventos como estes conseguem mesmo ajudar quem precisa de uma luz ao fundo do túnel. Foram diversas as vezes em que olhei à minha volta e percebi que quem lá estava, estava mesmo de corpo e alma”, contou ao i. Segundo o mesmo, está numa fase muito boa da vida e, por isso, “ao contrário de muitas pessoas”, não sentiu que o Cristina Talks o ajudou “a encontrar-se”. “O evento fez-me pensar sobre momentos menos felizes da minha vida e também sobre o meu futuro enquanto sonhador de entretenimento e televisão”, explicou, admitindo acreditar que estes eventos “conseguem ajudar muitas pessoas”. 

O seu único receio em relação a eventos como estes é “a promessa que é feita de que ‘se lutarmos pelo nosso sonho é certo que o cumpriremos’”. “É necessário existir uma determinada noção por parte do recetor da mensagem de que, infelizmente, nem toda a gente, por mais que lute e trabalhe, consegue realizar o seu sonho. Se infelizmente alguém não perceber isso pode acabar por se sentir enganado ou até mesmo desmotivado para consigo mesmo”, alerta.

Se há quem, como Cláudia e João, acredita que as motivações por trás do evento não têm nada de perigoso ou desonesto, tendo saído do evento inspirados, outros, não acreditam no seu poder, condenando este tipo de projetos. “10 mil pessoas gastaram cada uma 19 euros num bilhete para assistirem ao segundo Cristina Talks –  julgo que, uma suposta conferência, do tipo ‘Igreja Universal do Reino de Deus’, tanto que o ponto alto desta foi a confissão feita pela própria Cristina, acerca de a mesma ter (supostamente) encontrado uma miniatura de uma nossa senhora de Fátima num dos sapatos de 495 euros que comprou com o salário da TVI. Acho que todos os presentes no Altice, choraram de emoção com a revelação”, escreve uma internauta. “Sim. Faz-me muito sentido que num país que enche o Altice para ouvir qualquer um dos Carreira (sempre que eles quiserem, e querem muitas vezes … ) e a própria Cristina Ferreira, numa verborreia de coaching básico, deprimente e miserável, com nossas senhoras de Fátima à mistura, tenhamos este nível de corrupção no poder político central e autárquico, e o ‘chico espertismo’ à escala global nacional”, continuou, acrescentando que “não  há classe profissional, ou pequenas e médias hierarquias que em Portugal não usem dos seus ‘pequenos poderes podres’ para privilégio próprio”.

Coaching vs Psicologia Ao falarmos em TedTalks e discursos motivacionais é inevitável que não façamos a ponte até ao famoso coaching, área que tem vindo a crescer um pouco por todo o mundo com milhares de pessoas a largarem empregos onde não são felizes, para se dedicarem a ajudar os outros. Vemo-los em grandes palcos, em palestras que colocam a plateia ao rubro. Ouvimos falar deles depois de atletas de alta competição ganharem títulos – como foi o caso de Susana Torres, depois de Éder ter marcado o golo que tornou Portugal campeão Mundial no ano de 2016 -, ou de grandes empresas aumentarem os seus lucros. Imaginamo-los em reuniões, em retiros, ou mesmo em gabinetes. 

Nicolau Silva (nome fictício) tem 48 anos e, no ano passado, sentiu necessidade de contratar um coach. “Sentia que estava a perder a motivação e a força no trabalho e sofri um grande desgosto de amor ao mesmo tempo. De repente, não sabia como me reerguer”, conta ao i. Primeiro, tentou psicólogos. Contudo, o processo de adaptação não foi fácil já que para se conseguir abrir precisa de sentir empatia da parte da outra pessoa. “Gosto de sentir uma certa reciprocidade, mesmo nos médicos. Mas os psicólogos metem limites, claro. Não podemos ser amigos”, lembrou. Depois, ouviu amigos falarem sobre o coaching e percebeu que este podia ser “uma alternativa”. “Conheci um profissional que me fez um pacote de 10 sessões por 25 euros, podendo eu usufruir delas durante um mês e meio”, admitiu. Nicolau adorou a primeira abordagem e depressa largou o psicólogo. “Era uma sensação de segurança maior. Além das sessões não terem um tempo definido – tive sessões de uma a duas horas – ele respondia-me sempre às mensagens num momento de aperto. Os psicólogos, por norma, não o fazem por não poder existir essa proximidade”, explicou. Depressa se tornou dependente: “Dei por mim sem conseguir tomar uma decisão sem o consultar”, lamentou, admitindo que ainda hoje, já sem consultas marcadas, continua a não perceber como é que, muitas vezes, criticava os outros nessa mesma situação, porém, não conseguiu evitar que isso lhe acontecesse. “É um negócio. Não estou a dizer que o coach que me ‘ajudou’, fosse má pessoa. Nada disso! Aliás, sinto-me muito mais confiante em muitas coisas. Mas claro que esta estratégia de proximidade, significa qualquer coisa”, acredita. 

“Embora sejam abordagens diferentes, o coaching e a Psicologia têm um mesmo sentido: apoiar na evolução do ser humano, na sua realização e bem estar”, começa por explicar ao i Ricardo Mendoza que já trabalhou diretamente com os melhores coaches do mundo, como Deepak Chopra, Wayne Dayer, Philips Mills, Harv Eker, Hermogenes, sendo o Único europeu que acompanha pessoalmente, o considerado melhor coach do mundo, Anthony Robbins e que tem como clientes a MC Sonae, o Altice, a TAP, a EDP, a Mistolin e AutoEuropa.  

Segundo Mendoza, a grande diferença destas metodologias, está no foco, colocado no passado por uma, e no presente e futuro pela outra. “Confundir estas metodologias, usualmente tem fundamento na falta de informação e desconhecimento. Existe espaço para ambas e, na realidade, podem complementar-se para mais resultados”, acredita. “O coaching, é mais orientado para o presente e futuro, resultados e a ação e psicologia debruça-se mais sobre a explicação passada do presente e os métodos de trazer bem-estar ao paciente”, explicou. 

Mas antes de percebermos o que separa o coaching da Psicologia Clínica, de acordo com a psicóloga Jéssica Condeixa “é crucial entender a definição de coaching, enquanto uma ramificação da Psicologia, para entender a importância dessa base de formação em qualquer profissional que exerça a atividade”. Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) o coaching consiste em promover o potencial de alguém, maximizando o seu desempenho e facilitando a aprendizagem e o desenvolvimento de competências. “Podemos entendê-lo como uma aplicação da Psicologia, enquanto ciência comportamental, ao trabalho focado na melhoria de desempenho e bem-estar quer de indivíduos quer de organizações, que não apresentam questões de saúde mental clinicamente significativas ou sofrimento psicológico”, afirmou a psicóloga que admite que a tendência de livros de autoajuda e discursos motivacionais “poderá confundir as pessoas e levá-las a acreditar que essas ferramentas são suficientes para alterarem padrões comportamentais e crenças de base, sem perceberem se na raiz das suas dificuldades podem estar padrões disfuncionais, sofrimento psicológico e até psicopatologias”.

Já para Paula Pinto Almeida, coach certificada com especialização na área de infanto-juvenil, a linha que separa o coaching da psicologia começa nas origens de uma e de outra. Historicamente, “coach” era a carruagem conduzida por cavalos, que transportava as pessoas de um local, para outro local, ou seja, do ponto A ao ponto B. Depois, o conceito foi adotado pelas universidades para designar os profissionais que auxiliavam os estudantes a prepararem-se para os exames. Mais tarde, entrou nas empresas passando a ser considerada uma ferramenta importante para líderes, tornando-se mais conhecido para a população no contexto desportivo.

A especialista dedica-se ao coaching infantojuvenil e familiar porque acredita que quanto mais cedo as crianças e os jovens conhecerem as ferramentas e o método, mais cedo as aplicarão nas suas vidas. “É frequente jovens dizerem-me com entusiasmo: ‘Eu percebi que posso definir os meus objetivos!’. Isto não é (ainda) ensinado nas escolas – algo que pretendo desenvolver – e, é necessário e importante que o seja! Por outro lado, para que as crianças e jovens possam usufruir e beneficiar da aplicação do coaching nas suas vidas precisam de uma maior consciência no ambiente que as envolve: pais, professores e meio escolar. É importante que todos estes possam falar a mesma língua”, conta.

Tempos de uma “panaceia milagreira” Da mesma maneira que é pouco falado nas escolas, em Portugal, apesar de se notar a cada dia que passa, um maior conhecimento sobre a área, o país ainda mostra um atraso em comparação com outros. “Em 2006, quando me certifiquei como life coach, o mesmo era desconhecido em Portugal. No entanto, nos EUA o movimento do coaching tinha começado nos finais da década de 70, ou seja, estávamos atrasados 40 anos face ao mercado”, revelou o coach Mário Caetano, conhecido internacionalmente pelo seu papel inspiracional e pelos seus métodos que estão de braço dado com o espiritualismo. O especialista acredita que o coaching veio para ficar. “A prova disso é o número crescente de certificações que ocorrem não só em Portugal, como em toda a Europa. Portugal está a acompanhar uma tendência de explosão mundial nesta área e as resistências face a este conceito são cada vez menores”, afirma. 

Ao telefone com o i, do Brasil, Jorge Coutinho, especialista em Coaching e Desenvolvimento Humano, fundador da be:coach e primeiro Coach e Trainer Oficial de Língua Portuguesa a integrar a Equipa do “Life and Business Strategist” #1 no mundo, Tony Robbins, afirma acreditar que Portugal e a cultura portuguesa têm sempre uma tendência para “resistir à mudança”. “Nesta área, Portugal tem um ligeiro atraso, comparando com o Brasil, por exemplo, mas a verdade é que em relação ao coaching, é algo a ser feito em todo o mundo. Ainda há muito caminho para percorrer porque ainda não existe uma legislação clara que regulamente a profissão, a certificação e a aplicação do coaching como ferramenta”, defende.

Segundo Jorge Sequeira, reconhecido como um dos mais influentes Keynote Speakers nacionais, apesar desse atraso, o coaching “está a viver tempos de uma certa panaceia milagreira”: “O coaching ‘vai resolver tudo e todos’ e as pessoas estão, de certa maneira, deslumbradas. O que não é necessariamente mau, sendo que essas pessoas querem melhorar as suas vidas, alcançar objetivos mais ambiciosos, querem viver com maior equilíbrio, terem relações mais profícuas e estruturadas”, afirma. 

O facto de ter intervindo presencialmente em 32 países e visitado bem mais de uma centena, leva Ricardo Mendoza, a acreditar que a Educação e a Cultura, “são os fatores que mais criam o valor generalizado no seu trabalho”. “Ainda assim, observo na minha existência que pessoas fracas criam países e sociedades fracas. No entanto, os problemas e desafios instigam a surgir verdadeiros líderes e, são esses líderes, que construirão países mais fortes e vidas melhores – um ciclo que se repete independentemente do tempo”, explica o coach. Segundo Mendoza, tudo vai depender do significado que damos e onde escolhemos colocar a nossa atenção. “Eu adoro Portugal e aceito o desafio de palestrar em qualquer parte do mundo. Caso haja dúvidas, vejamos o sucesso dos nossos parceiros, Instituto Brasileiro Coaching (IBC), a maior escola de coaching do mundo, com mais de 6 milhões de alunos e 100 mil certificados. Durante anos foram desvalorizados, até que a sua consistência os levou à maior escola do mundo, estando agora a influenciar vidas em dezenas de países”, exemplificou.

De acordo com Ricardo Mendoza, no mundo comercial, usualmente ouvimos esta pergunta: “Comparado com o quê e/ou quem?”. “Acredito que usualmente existe sempre resistência à mudança, ao novo e ao desconhecido”, revela. Na generalidade, mudar é, na maioria das vezes, duro e difícil no início, contudo, durante o processo “torna-se mais acessível” e finalmente “acaba por ser fonte de crescimento, progresso e até algo agradável”.

“O ideal é concentrarmo-nos nas potencialidades e oportunidades que temos neste momento, pois existem países mais evoluídos e outros muito mais atrasados. Já temos em Portugal coaches muito credenciados e requisitados, arrisco-me a dizer que temos mesmo alguns dos melhores mundiais”, acredita, lembrando ainda que “no tempo dos nossos avós, não existiam computadores e o nível de analfabetismo era enorme, contudo a mudança permitiu aceder a tecnologia e conhecimento que não existia anteriormente e criar uma revolução incrível”. “Tal como a implementação do personal trainer nos ginásios, difícil no início, o coach, cada vez mais veio para ficar. Desde as elites de sucesso ao mais comum dos mortais, todos nós temos um potencial infinito por descobrir e o coaching pode ser um atalho e ou incentivo para aceder a essa essência poderosa, que na maioria dos casos ainda não se manifestou ou surgiu”, garantiu. 

Os preços No que toca a preços, de acordo com Jorge Sequeira, quando falamos da América, não só nesta área como em quase todas, são “brutais”. “Um Keynote Speaker, nos EUA, por palestras, é capaz de ganhar de 10 a 30 mil euros (se tiverem obra publicada). São autênticas fortunas! Claro que Portugal não tem esse mercado”, conta. “Os melhores (estamos a falar de meia dúzia deles), não se podem queixar do que ganham. Aqui em Portugal (claro que depende do sítio e da empresa) os bons levam mil euros, os muito bons levam 2 mil euros, os maiores de todos levam 4 mil. É como tudo”, revelou, acrescentando que “é a mesma coisa que pensar naquilo que ganha um grande chef com estrela Michelin e um cozinheiro de tasca”. 

Tal como ele, Mário Caetano afirma que o preço varia muito, “pois o nível de entrega varia de profissional para profissional”. “Por exemplo, realizo retiros desde 2008 e o preço dos mesmos é o mais caro do mercado português, bem como a duração do retiro. O fator preço reflete o nível de resultados entregues e da transformação real que ocorre na vida das pessoas. O mesmo se passa com as sessões de coaching, cursos e mentorias. As diferenças de preço refletem sempre a qualidade dos produtos e o cumprimento da promessa de entrega de resultados”, frisou.

“Temos líderes como o Anthony Robbins a cobrar 1 milhão de dólares por sessão e coaches a darem sessões de borla. O meu valor hora está bem acima do mercado nacional e internacional e mesmo assim tenho clientes há oito anos comigo”, acrescentou Ricardo Mendoza, apontando que para quem não pode pagar  o seu valor tem consigo “uma mega equipa capaz de servir com a máxima qualidade, nas várias áreas e necessidades, a preços acessíveis para todos”. 

“No meu caso, estou numa área muito específica que é a área da Alta Performance que, de certa forma,  não deixa de ser um transporte (tal como as outras ramificações do coaching), mas altamente focada nos resultados. Aqui falamos de diferenciação. A alta performance significa conseguirmos ter resultados acima da média, de forma consistente e a longo prazo”, afirma por sua vez ao i, Susana Torres, coach especializada em treino mental que desenvolve programas de coaching desportivo e coaching direcionado para empresas. Susana criou a maior certificação internacional em coaching de alta performance, onde participam todos os anos mais de 350 pessoas. Tem mais de 7000 alunos ativos nos seus cursos online e mais de 1000 participantes no 5am club, o maior programa de coaching de alta performance às 5 horas da manhã.

“Coaching é coaching e todas as ramificações acabam por surgir da criatividade dos coaches e dos nichos que estes procuram para trabalhar. Se eu for health-coach significa que eu estou focada em ajudar as pessoas a criar transformação na área da saúde. Se eu for uma sport-coach, vou usar as ferramentas para atuar no mundo do desporto. Eu acredito que os profissionais vão criando os seus próprios espaços”, explica. Interrogada sobre o porquê da escolha da alta performance, a especialista explica que quando atuamos na vida, seja com os filhos, na forma como interagimos com o chefe, na forma como nos cuidamos, na forma como queremos ganhar dinheiro, “temos sempre de nos organizar”. “Uma das coisas em que acredito é que se nós não tivermos o diferenciamento entre estas várias áreas da nossa  vida, aquela que descorarmos, vai ser aquela que nos vai puxar para trás”, admite.

“Aqui em Portugal, correndo o risco de pecar por falta de humildade, a verdade é que eu sinto que o meu posicionamento no coach em Portugal foi de partir pedra e abrir muitas portas. Em 2016 o coaching começou a ser falado depois do Europeu, depois do Éder ter falado de mim, do nosso trabalho. Fui contactada por diversos profissionais a agradecer por eu ter dado uma maior visão sobre este trabalho num país que acreditava que o coaching é a ‘banha da cobra’”, lembrou. “Se olharmos para os EUA, país mais desenvolvido nesta área e onde as pessoas mais procuram este tipo de trabalho, conseguimos perceber que grandes CEO’S de grandes empresas, o próprio Barack Obama, a Oprah, tiveram e têm coaches? Olhando para isso, percebemos que as pessoas que têm sucesso e atingem grandes patamares, até pelo nível de exigência, pensam que não chega pensarem sobre a própria cabeça, precisam de perspetiva. É isso que um coach traz”, sublinhou. 

Susana Torres trabalhava por conta de outrem e recebia 35 mil euros ao final de um ano. “Olhando para mim hoje, passados 12 anos de ter abandonado a minha carreira como bancária, posso dizer que alcancei um sucesso muito grande, com uma margem de crescimento muito grande e com muita coisa feita que faz com que o meu impacto seja também ele muito grande. Hoje tenho o orgulho de dizer que todos os meses trabalho com cerca de duas mil pessoas nos diversos programas; que estamos a caminho do segundo Altice Arena (que é uma coisa impensável para muitas pessoas fazer); que temos capacidade financeira para fazer tudo isto e muito mais. No ano passado demos 124 mil euros à Associação Sara Carreira. 100% da bilheteira. Só sou capaz dessas coisas porque as pessoas confiam no meu trabalho”, acrescentou ainda a responsável pelo evento Viver em Alta Performance, o maior evento do género na Europa, em que os bilhetes vão dos 20 aos 75 euros. 

Segundo o seu site oficial, o preço de sessão estratégica de coaching de alta performance com a duração mínima de 1 hora, é de 150 euros. O pack de 12 sessões de coaching de alta performance (acompanhamento durante 3 meses, de 12 sessões semanais com duração mínima de 1 hora) é de 600 euros; outro pack 12 sessões de coaching de alta performance (acompanhamento durante 3 meses de 12 sessões semanais com duração mínima de 1 hora e oferta especial de uma 13ª sessão), custa 1800 euros.

Numa pequena pesquisa no Google é possível encontrar inúmeras clínicas de coaching. Learn 2Be é uma delas. Lá, uma sessão de 50 minutos de coaching individual, custa 54 euros; uma sessão de 50 minutos coaching de relacionamentos, 65 euros, tal como uma sessão de 1h 30 minutos de coaching parental. Já uma sessão de 50 minutos de High Performance Coaching, Coaching de Propósito de Vida, ou de Business Coaching, custa 80 euros.

O custo de um serviço de coaching pessoal na Zaask, tendo por base os valores de referência nacional, ronda os 40 euros. Em média, é possível gastar entre 30 a 160 euros por sessão. Dependendo da área de ação e da experiência do ou da profissional a contratar, os serviços de coaching pessoal podem variar imenso de preço.  

Falta de regulamentação Interrogado sobre as maiores dificuldades existentes na área, Jorge Sequeira lamentou que não existam mais: “Dificuldades? Eu acho que esta área no nosso país devia ter mais dificuldades, porque qualquer um pode exercer a profissão, independentemente do seu background. Pode ser mecânico, artista de circo, economista… Isso para mim é que é problemático. Devia haver, tal como há dificuldade para ser médico. Não é porque faço uns desenhos bonitos em casa que passo a ser arquiteto, não é por saber fazer perguntas que sou jornalista. Não! Tem de se estudar, tem de se perceber as coisas”, exaltou, lembrando que há 30 anos estuda a mente humana e o comportamento de forma científica.

De acordo com Jorge Sequeira, isto faz desacreditar os grandes e os pequenos: “Muitas dessas vezes, essas pessoas que têm esses cursos de coaching feitos à lá minute, fast-food, acabam por ser pessoas muito sedutoras, com um certo ‘papo mole’, e as pessoas ‘babam-se’. Querem resolver todos os seus problemas de forma mágica, rápida. Há muito coach que vende essa ideia: ‘Numa semana ficas outra pessoa!’. Sabemos muito bem que isto de acreditar em magia normalmente dá para o torto”, lembra, acrescentando que o trabalho sério é um trabalho “sistemático, validado, científico e bem apurado”. “Isto é muito perigoso porque anda muita gente a brincar aos feiticeiros. ‘Quero mudar a minha vida!’, o primeiro que me aparece, conta-me uma história muito bonita e pronto. Vendem packs meio milagreiros que, quando as pessoas estão muito sensíveis, têm tendência a comprar”, frisa ainda. 

Em 2017, Thomas Frey, estratega de inovação do DaVinci Institute e considerado um visionário na identificação de tendências pela Google, referiu que 60% dos melhores empregos dos 10 anos seguintes ainda não tinham sido criados, sendo que a profissão de coach por Skype ocupava a décima posição.

“Acredito que o coaching não será somente uma profissão de presente e futuro, mas também uma forma de estar na vida, através do self-coaching”, revelou Mário Caetano. Sempre que existiu uma tendência de crescimento acelerado em qualquer mercado, continuou, a mesma foi acompanhada por um alinhamento do mesmo ao longo do tempo: “Estou tranquilo face às certificações de curto prazo, pois o que vai ditar o crescimento ou desaparecimento das pessoas é o propósito com que as pessoas abraçam as novas oportunidades e a qualidade na entrega de resultados”. 

Depois de ter feito palestras para mais de 300 mil pessoas ao vivo e participado em centenas de eventos a nível mundial, Ricardo Mendoza tem a certeza que os maiores perigos dos discursos motivacionais, são a “precipitação” e a “influência momentânea da ilusão”, ou de “mudanças despropositadas”, sem preparação, sem estratégia e desalinhadas com a realidade. “Muitas foram as vezes que ouvi promessas financeiras do tipo: ‘Hoje podes tudo! Muda já para ficares milionário!’. Os participantes acreditam, despedem-se no dia seguinte e passados uns dias ou semanas ficam piores que antes do discurso. Nada como a paciência e a estratégia progressiva. Se queres mudar de vida, primeiro ganha a vida, nunca esquecendo que o sucesso antes de trabalho, só no dicionário”, frisou.

Já Jorge Coutinho, não se considera um “orador motivacional”. Aliás, quando entra num palco diz sempre que não veio para motivar, mas sim para “desmotivar”: “Considero-me um orador inspiracional e que cria desconforto na sua audiência. Reafirmo que realmente há situações que são difíceis, que vão demorar tempo a resolver-se. Costumo dizer que  crescer, transformar, mudar, é difícil, dá trabalho e leva tempo. Por isso é importante existir foco, compromisso, disciplina, consistência e determinação em tudo o que fazemos”, garante o coach. 

Ao contrário deles, Susana Torres não considera que existam perigos nos discursos: “Acho que o perigo pode estar na cabeça de cada um de nós se não soubermos filtrar bem a informação. O problema nunca está na informação. Vivemos numa era em que informação é o que mais há, à distância de um click. O problema estará nas pessoas e na sua capacidade de filtrá-la e usar aquilo que lhes pode servir e fazer bem. Isso é responsabilidade de cada um!”, defende. 

À falta de regulação na área, entidades como a International Coach Federation em Portugal tentam fazê-lo, certificando coaches, para assim dar mais segurança aos clientes. A ICF nasceu nos EUA há 27 anos com o objetivo de “dar credibilidade e regular a prática de coaching através da definição de competências, bem como a definição de padrões de credenciação que incluem rigorosos critérios de formação e experiência”. Atualmente certifica coaches, tendo em consideração a sua formação, o número de horas de coaching e a realização de um exame que atesta o conhecimento das competências de coaching. “Os coaches têm ainda que submeter  sessões gravadas com clientes, com a sua expressa autorização, que são apreciadas por avaliadores da ICF (podendo as mesmas ser realizadas em programas credenciados pela ICF).  As credenciais da ICF são dadas apenas por 3 anos, expirando ao fim desse tempo, se o profissional não cumprir os requisitos de formação Educação de Coaching Continuada (Continuing Coach Education ou CCE)”, afirmou  Anabela Possidónio, da ICF. Na ICF há três níveis de certificação. O primeiro exige 60 horas de formação e uma experiência de pelo menos 100 horas com clientes. O segundo obriga a ter 125 horas de formação completas e 500 horas de experiência. O terceiro implica um mínimo de 200 horas de formação e 2500 horas de experiência. 

Os dados sobre os  membros ICF em Portugal mostram atualmente 216 membros, sendo 141 credenciados.

Fred Canto e Castro,  um dos oradores do evento Cristina Talks, deixou a Nova School of Business and Economics (SBE) a meio para criar a sua primeira empresa aos 20 anos. Além disso, o CEO e Fundador da Seekers Club participou também na criação da Sonder People. Em 2021, Frederico, contava à Forbes que no espaço de um ano, sem qualquer tipo de investimento externo, passaram pela academia mais de 4 mil seekers, que puderam usufruir dos mais de 50 programas online criados com mentores de referência no mercado português.

Atualmente o curso Life MBA, por exemplo, que se realiza em março e que inclui um programa de 1 ano, 4 eventos presenciais, currículo 360º, 40 sessões de mentoria online, 40 conversas inspiradoras online, 400 aulas educativas online, uma comunidade exclusiva e ainda o certificado oficial do curso, custa 995 euros.

Interrogado sobre o evento, Cristina Talks, o coach Jorge Sequeira, admite achar muito vantajoso. “Eu acho muito bem. Não vai lá fazer mal a ninguém. O que lá se partilha são ideias de alcançar metas mais ambiciosas, termos uma consciência social mais apurada, sermos mais capazes. Por isso, fóruns com todas estas dinâmicas de sermos líderes da nossa própria vida, não estarmos à mercê do acaso, daquilo que é aleatório, são bons. São tudo temas que são benéficos e sendo a Cristina Ferreira uma pessoa com tanta notoriedade, até ajuda a pôr na ordem do dia estas temáticas. Como ela tem esse poder, ainda bem que o usa de outra forma. Podia usá-lo para fazer uma asneira qualquer… Só lhe temos a agradecer, por colocar estas temáticas em cima da mesa”, rematou.