Seis nações à procura da bola oval

O Torneio das Seis Nações de râguebi reúne as melhores seleções da Europa e poderá ser o mais competitivo da história. A primeira jornada foi de arrasar. O espetáculo continua nas próximas quatro semanas.

Seis nações à procura  da bola oval

Por João Sena

O mais antigo torneio de râguebi a nível de seleções já teve diferentes designações, mas continua a ser uma referência no mundo do desporto. A 129.ª edição começou com a Irlanda, Escócia, França, Inglaterra, País de Gales e Itália a mostrarem o melhor râguebi que se joga no Hemisfério Norte, sem esquecer a tradição do passado, e sempre num ambiente de grande paixão, é um ensaio perfeito para o Campeonato do Mundo de França, que se realiza em setembro e outubro, onde Portugal vai estar presente. São cinco semanas de grande jogos, com seis nações a lutarem pela glória e a levarem atrás de si os indefetíveis adeptos, que fazem a festa com sonoros e divertidos cânticos de apoio. É, indiscutivelmente, uma maneira diferente de estar no desporto de alta competição.

A origem deste torneio foi a Home Nations, campeonato interbritânico, que se jogou entre 1882 e 1909. A Inglaterra foi a primeira vencedora e o País de Gales o último a conquistar esse troféu. Com a entrada da França, em 1910, passou a chamar-se campeonato das Cinco Nações. Contudo, os franceses seriam postos fora em 1931, acusados de profissionalismo num desporto que era assumidamente amador, e o torneio voltou a designar-se Home Nations até 1939, ano em que a França viria a ser reintegrada. Em 2000, foi a vez da Itália se juntar a esta competição, dando origem à designação Seis Nações. Com a chegada do profissionalismo, o torneio passou a ser organizado pelo Comité das Seis Nações e pela sociedade Six Nations Rugby Limited, e nada tem a ver com a federação internacional World Rugby.

A pensar no mundial As melhores seleções europeias vão-se defrontar num torneio em que jogam todos contra todos, numa única ronda. Cada equipa faz cinco jogos, dois em casa e três fora, e no ano seguinte inverte-se a ordem. A diferença para outros torneios é que este tem seis sedes, e cada país indica um estádio onde quer jogar. Obviamente, foram escolhidas as grandes ‘catedrais’ do râguebi mundial como Twickenham (Inglaterra), Murrayfield (Escócia), Stadium de Cardiff (País de Gales) Stadium de Dublin (Irlanda), e os menos emblemáticos Stade de France (França) e Olímpico de Roma (Itália). 

Conquistar o troféu é o primeiro objetivo, mas as seleções mais fortes querem caprichar e fazer o Grand Slam, que é ganhar todos os jogos do torneio. É uma conquista incrível derrotar todos os rivais na mesma competição. Na história da prova, os ingleses são os que conseguiram mais Grand Slam, foram 13. Desde que passou a ter seis seleções, o País de Gales conseguiu esse feito quatro vezes, a França três e a Inglaterra duas. Também há o reverso da medalha neste torneio, o último classificado recebe a virtual colher de madeira. A Inglaterra é a seleção que tem mais triunfos (28) na história desta competição, seguido pelo País de Gales (26), França (19), Escócia (8) e Irlanda. Na configuração atual de seis nações, apenas a Escócia e a Itália nunca venceram.

Desde 2017 que o râguebi tem uma pontuação própria: quatro pontos pela vitória, um para empate e um ponto de bónus para quem marcar quatro ou mais ensaios e um ponto para as equipas que são derrotadas por sete pontos ou menos. Esta é a primeira vez que o Torneio das Seis Nações conta com duas seleções que lideram o ranking da World Rugby. A Irlanda ocupa, atualmente, o número um e a França aparece logo a seguir. 

Na primeira jornada, a Irlanda, Escócia e França impressionaram, e além de ganharem os seus jogos conseguiram um ponto de bónus por terem concretizado vários ensaios. Entrar a vencer é muito importante, já que foram pouquíssimas as equipas que conquistam o título depois de perder a primeira partida. A Inglaterra está sempre na primeira linha para ganhar, mas este ano começou mal. Houve jogo grande em Twickenham, no ‘templo’ do râguebi, mas foi a Escócia que fez a festa, perante 82 mil espetadores, ao vencer a Inglaterra por 29-23, com um ensaio decisivo e um ponto de bónus a poucos minutos do fim, e ficou com a Taça Calcutta – este troféu é entregue desde 1872 ao vencedor do jogo entre as duas seleções. A Escócia há muito que anunciou o renascimento da sua equipa, e este resultado mostra que algo mudou, já as dúvidas sobre a capacidade de Inglaterra com a nova equipa técnica aumentaram com esta surpreendente derrota. 

Irlanda forte Nas outras partidas da jornada inaugural, a Irlanda esmagou o País de Gales por 34 – 10, e somou ainda o ponto de bónus ofensivo com quatro ensaios. O grau de dificuldade vai aumentar e muita coisa pode ficar decidida no fim de semana. “As cinco partidas são difíceis, mas penso que o próximo jogo com a França será o mais complicado de todos”, referiu o internacional irlandês Johnny Sexton. Os galeses mudaram de treinador, mas tiveram uma entrada em falso, eles que são a segunda seleção com mais triunfos nesta competição. 

A França ganhou à Itália por 29-24 e ficou com o Troféu Garibaldi, atribuído desde 2007. A equipa francesa está debaixo de uma onda de lesões e teve dificuldades para derrotar a Itália, só o quarto ensaio e o ponto de bónus no final garantiu a vitória. “Tivemos problemas no início do jogo porque os italianos estavam bem preparados e nós estávamos impacientes e a falhar muitos passes fáceis. Temos de aumentar o nível do nosso jogo em todos os setores”, disse o capitão francês, Antoine Dupont, que na próxima jornada vai defrontar a Irlanda, um jogo entre os dois primeiros do ranking mundial. A França joga também para estabelecer novos recordes: vencer 18 jogos consecutivos e conseguir o segundo Grand Slam. 

A primeira jornada teve jogos de grande qualidade e com resultados decididos em cima da hora. A Irlanda, Escócia e França lideram com cinco pontos, a Itália e Inglaterra têm um ponto e o País de Gales não pontuou. No início desta competição, se duas ou mais equipas terminassem com o mesmo número de pontos, o título era atribuído a essas seleções, como aconteceu em 1973 com os cinco participantes a conquistarem o troféu! Desde 1990, em caso de empate, sagra-se campeão quem tiver melhor diferença de pontos no final dos cinco jogos. O canal desportivo Sport TV transmite todos os jogos da edição deste ano do Torneio das Seis Nações.