Os professores são um problema

À luz das mais modernas teorias educativas de implosão da escola, o professor foi colocado ao mesmo nível dos alunos  independentemente da idade ou grau académico.

por João Cerqueira

Os problemas com os professores vem de longe. Desde que no século V a.C. Sócrates começou a ensinar filosofia nas ruas, arrebanhando discípulos em cada esquina, que a profissão de professor se revelou problemática. O Ministério da Educação de Atenas considerou que ele não andava a cumprir as últimas Portarias e Regulamentos, que não apresentava relatórios, que não respeitava a ideologia de género e o banimento do chocolate nas cantinas, e vai daí condena-o à morte. Seria de esperar que depois deste desfecho mais ninguém quisesse ser professor. Mas, não, os seus discípulos não aprenderam a lição e continuaram a ensinar, a formar escolas e academias, e o número de professores não parou de aumentar.

Para se ter uma ideia do tipo de pessoas que se sentiram atraídos pela carreira de professor, eis o serial killer russo Andrei Chikatilo, o carniceiro de Rostov, responsável pela morte de cinquenta e duas pessoas. Nas horas vagas das matanças, dava aulas de literatura russa. Outro professor de idêntico calibre foi o americano Albert Fentress, condenado a prisão perpétua por matar e comer um aluno. E há muitos mais exemplos de gente estranha, ainda que não necessariamente canibal, a querer ser professor.

É realmente difícil de entender o que vai na cabeça de um ser humano que não advogue o extermínio de minorias étnicas, a escravatura ou o tráfico de bebés querer ser professor. Ter a veleidade de saber mais do que as crianças e os adolescentes, querer instruí-los e dar-lhes um rumo na vida. Só gente com um ego desmesurado e uma soberba doentia pode desejar tal profissão.

E é por isso mesmo que existe em Portugal o Ministério da Educação que, à semelhança do da Atenas de Sócrates, tem por missão acabar com os professores e implodir as escolas. Nos últimos anos, com Tiago Brandão e João Costa em grande, tem tido imenso sucesso. Ainda que as linhas programáticas já venham de trás, o principal objetivo do Ministério da Educação é impedir os professores de lecionar.

Ai julgai-vos muito sabichões e importantes? Ai quereis transmitir conhecimentos, princípios e valores aos alunos? Então, já ides ver o que vos acontece.

E o que lhes acontece é serem bombardeados com toneladas de burocracia, sob a forma de uma papelada esotérica que nunca mais acaba, mas que tem de ser preenchida, apesar de ninguém a ler e o seu destino ser a incineração ou o delete. Além disso, levam ainda com rajadas de decretos, portarias e outros textos mediúnicos que se anulam uns aos outros e cujo objetivo final é enlouquecer o professor.

Obviamente, no fim deste transe burocrático já muito poucos professores estão em condições de dar aulas.

Porém, para os que resistem, há outros tratos de polé: a legalização e o fomento da indisciplina. Se dantes era aceitável o professor bater no aluno, agora tornou-se normal o aluno, os pais do aluno e o cão da família atacarem os professores. O que a sociedade não aceita é que se bata no cão.

Desde há décadas que o Ministério da Educação tem vindo a acabar com esse conceito retrógrado e fascista chamado autoridade. O professor perdeu-a por completo. À luz das mais modernas teorias educativas de implosão da escola – que em Portugal encontram sempre pasto para devorar –, o professor foi colocado ao mesmo nível dos alunos – independentemente da idade ou grau académico. O professor é um gajo ou uma gaja. Assim sendo, é natural que quando um gajo ou uma gaja chateiam um aluno, este o mande para o c…, para a p… que o pariu ou lhe parta o focinho. E quando não há força para bater no gajo ou na gaja, liga-se para os paizinhos e vêm estes mais o cão dar uma lição pedagógica ao professor.

Porém, como a violência escolar é uma coisa desagradável e costuma aparecer na televisão, o Ministério da Educação arranjou uma maneira de mostrar que a condena mediante processos disciplinares. Mas o processo é complicado e lento, tornando-se assim em mais um fardo para o professor. Além disso, ainda que tenha sido insultado e agredido, o professor nunca deixa de ser suspeito de ter contribuído para o seu infortúnio. Algo semelhante à rapariga que vestiu uma minissaia e depois foi vítima do macho ibérico. Ou seja, se realmente aconteceu um ato grave de indisciplina na escola, a verdadeira causa não é a má criação do aluno, a demência dos pais ou os transtornos psiquiátricos do cão da família. Não. A culpa foi do professor.

Somando isto tudo, é realmente inexplicável que alguém queira ser professor em Portugal.

 

P.S. – Sou professor de História da Arte no IPVC