‘Pedir o fim do Governo seria colocar os interesses do PSD à frente dos interesses dos portugueses’

O vice-presidente do PSD acredita que Luís Montenegro ‘será primeiro-ministro mais cedo do que mais tarde’, mas considera que ‘chegar ou não ao fim da legislatura depende fundamentalmente do próprio Governo’.

O Governo tem sido ‘assombrado’ por vários casos e casinhos. Quando fez um ano de maioria absoluta disse no Twitter que foi um ano perdido e um país adiado. Está a ser uma oportunidade perdida? 

Quando o eleitorado confere uma maioria absoluta a um partido político confere-lhe paralelamente um mandato de enorme responsabilidade. O eleitorado está a dizer de uma forma muito clara que quer transformações no país e que não estejam dependentes de agendas de terceiros, quer uma transformação alicerçada no programa. Houve eleições, houve uma maioria absoluta e no último ano não se viu absolutamente nada. Vê-se um SNS adiado com mais desinvestimento, uma escola pública com os professores a manifestarem-se, dúvidas se há ou não exames com dois ministros que não se entendem: Ensino Superior e Educação. Um ministro desautorizado permanentemente tanto pelos professores na rua, como pelas associações de pais e pelas associações sindicais. Vemos um país adiado no último ano e vemos o PS numa luta interna que já se adivinhava e hoje está de uma forma muito clara aos olhos de todos os portugueses. A única coisa que atualmente move os dirigentes do PS e concomitantemente os governantes é o perspetivar o dia a seguir a António Costa. Por um lado, Fernando Medina a posicionar-se, por outro lado, Pedro Nuno Santos a posicionar-se e com ele todas as tropas do partido. O PS coloca o seu próprio interesse à frente do interesse do país. 

E quem paga fatura é…

Adiou o país por um ano e vai hipotecar muitos anos de Portugal, não permitindo um Portugal mais próspero e mais capaz. 

Depois de os portugueses terem dado maioria absoluta ao PS, acha que se sentem defraudados? 

Hoje, esta penalização vê-se claramente nas sondagens. O desfoque, a incapacidade governativa, o desgoverno e o empobrecimento dos portugueses vê-se como um espelho nas sondagens. O PS, hoje, está a ser penalizado pela sua incapacidade de reformar o país. Agora, o PSD é um partido responsável. Tivemos eleições há um ano e estamos na altura de confrontar o PS com a sua capacidade governativa, estamos na altura de exigir ao Governo que governe de uma vez por todas, porque foi esse o mandato que os portugueses lhe deram. Não estamos em altura, nem o país espera por uma crise política um ano depois de eleições legislativas. E foi por isso que, com enorme responsabilidade, o PSD se absteve na moção de censura, porque não era o tempo. É o tempo de exigir, é o tempo da exigência, do escrutínio, de estar sempre atento ao desgoverno socialista e exigir outros caminhos, outros rumos. Um partido responsável não pode estar a pedir moções de censura todos os dias, ainda para mais quando temos consciência clara de que o PS nunca cairá no Parlamento. Nunca teremos o Partido Socialista a votar favoravelmente uma moção de censura. Portanto, deixemo-nos de fait divers e foquemo-nos naquilo que é preciso, que é a oposição fazer oposição e com o PSD a liderar essa oposição, porque este Governo só cairá de três formas: ou por uma contestação clara dos portugueses à sua governação, ou se o Presidente da República avaliar negativamente a continuidade deste Governo, ou algo que acredito que seja cada vez mais provável que é o próprio primeiro-ministro entender que já não tem capacidade de gerir estas multiplicidades de máscaras dentro do PS e que desista perante a sua incapacidade de governar e de levar o país a bom porto. 

A contestação está focada em algumas atividades, o Presidente da República tem afastado um cenário de eleições e António Costa já disse ‘habituem-se’… 

Temos greves dos transportes, na TAP, na Administração Pública e numa multiplicidade de serviços e de setores. A contestação social está de uma forma muito quente e presente nas nossas vidas. Sentimos todos os dias essa contestação, que está muito viva. Os portugueses, hoje, pagam mais impostos e têm piores serviços, pagam mais impostos e não têm um Governo capaz de governar. 

E, perante esse cenário, acha possível o Governo chegar ao final da legislatura?

Como português e como patriota, não o desejo, não anseio o fim prematuro deste Governo, isso seria colocar os interesses do PSD à frente do interesse dos portugueses. Os portugueses querem um Governo que governe, que lhes dê condições mínimas de perspetiva de futuro que hoje o Governo não dá. O chegar ou não ao fim da legislatura depende fundamentalmente do próprio Governo. Não dou para esse peditório de ver se vai ou não cair já nas europeias. Ainda esta semana, o ministro Santos Silva teve uma necessidade quase visceral de vir dizer a público que o Governo não cairá por um mau resultado nas europeias e que não cairá por sondagens. Quando já há a necessidade de grandes figuras do partido virem dizer isto a público é demonstrativo da fragilidade deste Governo. Quer dizer, um Governo de maioria absoluta teve necessidade de pôr uma das suas figuras cimeiras a dar uma entrevista para dizer que o Governo não cairá por um mau resultado nas europeias ou pelas sondagens, isso é sinalizador de que a base está absolutamente perdida e que este Governo tem pés de barro. 

O PSD tem recusado a ideia de pedir eleições antecipadas…

Não, porque como já disse o PSD é um partido responsável, não pede eleições antecipadas, nem pede cabeças de ministros, nem anda com moções de censura atrás de moções de censura e faz o seu papel. Acho que é unânime dizer que o PSD faz uma oposição muito mais presente, mais audível, muito mais impactante do que fazia anteriormente. Também é claro que, nos últimos nove meses da liderança de Luís Montenegro, o PSD tem vindo a crescer. Podem ser, às vezes, crescimentos marginais, mas a crescer sustentadamente. Não há dúvidas. E as sondagens mostram que hoje o maior partido do espetro democrático português, que detém a confiança dessa maioria dos portugueses, é o PSD. Isso é legado e já é um ganho da liderança de Luís Montenegro. O PSD está a fazer o seu trabalho e, ao contrário do que se diz, está preparado para governar. 

Mas há muitas vozes a dizer que o PSD ainda não tem ‘a casa arrumada’ para poder vir a governar…

Isso é mais um fair divers. O PSD, nos últimos 40 anos, esteve sempre preparado. Nos momentos mais difíceis que Portugal atravessou, o PSD nunca virou as costas. Nunca disse não estar preparado ou que não era a altura. O PSD, sempre que os portugueses precisaram, esteve lá e agora o partido está mais preparado, assim como o seu líder. É um político extremamente experimentado, pois foi líder parlamentar durante muito tempo. É um homem que conhece muito bem todos os dossiês da governação, fruto também do seu papel na Assembleia da República. E tem hoje um partido coeso. Claro que não é um partido onde existem unanimismos, mas existe uma capacidade de unidade à volta de um projeto de liderança e transformador para o país. O PSD tem todas as condições necessárias e suficientes para dizer aos portugueses que tem um projeto reformista diferente para Portugal, com uma liderança forte, com uma equipa capaz de assumir os destinos de Portugal, quando assim for exigido pelos portugueses. Agora, sem pressas, sem colocar o carro à frente dos bois, sem colocar os interesses pessoais ou partidários à frente dos interesses do país. Isso é uma marca de responsabilidade que o PSD nunca perderá, porque faz parte do seu ADN. 

Houve um virar de página em relação a Rui Rio? 

Sou suspeito para o dizer, mas claramente há uma mudança de página no partido. Luís Montenegro esteve agora no distrito da Guarda e está todas as semanas a percorrer o país para sentir, auscultar, cheirar e ouvir os portugueses, porque o país real não é só aqui na bolha de Lisboa ou nos media. Há um país real lá fora, com problemas reais, e um político que não é capaz de ouvir e de sentir também não é capaz de gerir, nem de transformar, nem de inspirar. Luís Montenegro faz isso todos os meses, com esta vontade de descentralizar o PSD. Hoje, o partido está unido e é capaz de dar essa confiança aos portugueses. E está preparado, ao contrário do que dizem, mas sem pressas. 

Também há muitas dúvidas e vários rumores sobre uma coligação com o Chega….

Há um conjunto de personalidades que gostam muito de falar desse tema. Esse não é um tema para o PSD, já o disse, e Luís Montenegro tem-no dito: não é um tema para ser debatido agora. O PSD quer agora debater os problemas dos portugueses. Acredito piamente que Luís Montenegro será primeiro-ministro mais cedo do que mais tarde e será um Governo que não compactuará com discriminações, com racismo, nem com xenofobia. Será um Governo com uma visão clara do papel do Estado, que garante a quem mais precisa Saúde, Educação – enquanto fator de mobilidade social -, e esta é a visão de Luís Montenegro para o país. Luís Montenegro e o PSD não estão disponíveis para abdicar da sua matriz a todo o custo para governar. Um Governo liderado por Luís Montenegro manifestamente coloca nesta matriz humanista social-democrata o tom principal da sua governação e é absolutamente intransigente nestas questões, como o racismo, xenofobia, discriminação, seja ela de que índole for: religiosa, de género, etc. Alguém acredita que um Governo liderado por Luís Montenegro pode defender alguma vez a discriminação de alguém por comportamentos, por ideologias ou por géneros? Não. Luís Montenegro é um social-democrata à antiga, daqueles que coloca cada um de nós, portugueses, no centro da sua ação política, e um humanista como ele não pode compactuar com este tipo de políticas. Isso deixemos já os portugueses descansados e também esses opinadores que estão tão preocupados com uma hipotética deriva do PSD. Outra coisa é discutir coligações ou posicionamentos. Ninguém está a perguntar a António Costa se faz coligação ou não com o Bloco de Esquerda, com o PCP ou com o Livre. Não é o momento. É o momento dos dois maiores partidos, o PS e o PSD,  demonstrarem, um, que é capaz de governar e, o outro, que é capaz de fazer oposição. Uma oposição séria, credível, responsável – e é isso que o PSD hoje está a fazer. O Governo é que está a falhar e, se surgir a oportunidade ou a necessidade de o PSD ter de governar novamente, está preparado. E todos esses temas são matriz que fazem parte do legado do PSD e ninguém nos tira. Não são os opinadores que vêm pôr em causa hipotéticas alianças que nos tiram esse legado. Querer colocar outro rótulo a Luís Montenegro que não este que estou a dizer é pouco sério, nem tem qualquer adesão à realidade.

André Ventura deu ouvidos aos tais opinadores para dizer que recusa um governo de ‘geringonça’ da direita, exigindo um lugar num novo Governo?

O Chega parece o Bloco de Esquerda da direita, mas é extremamente imaturo. O Bloco de Esquerda já leva uns anos disto, enquanto o Chega convive mal com a diversidade de opinião e a forma como os convidados foram recebidos no Congresso demonstra essa tal imaturidade, essa tal incapacidade de conviver com a diferença de opinião. O grito e a berraria são o denominador comum da ação política do Chega no dia-a-dia e, depois, tem outra particularidade: é que, conforme ouvimos no Congresso, André Ventura não tem uma ideia para o país. Tem uma agenda de grande foguetório de temas absolutamente fraturantes, muitas vezes passando os limites do populismo e da demagogia, mas sem nenhuma solução para os portugueses, nem para os problemas reais do país. Ora, os portugueses, hoje, querem soluções perante um Governo que não governa e perante um Estado que é incapaz de lhes garantir serviços face aos impostos que são cobrados. E para lhes dar resposta só vejo um partido que é o PSD. E se os portugueses, na altura certa, forem confrontados com esta escolha entre manter o PS, manter o seu empobrecimento, a sua incapacidade de oferecer serviços públicos de qualidade e um projeto transformador da sociedade portuguesa em Portugal, ou, pelo contrário, votar no PSD e voltarmos a um caminho de prosperidade, de reformas que são absolutamente necessárias no mundo… Quem não vê isto e quem esconde a cabeça debaixo da areia e se refugia nos números de crescimento do PIB e em outros macroeconómicos não percebe o que está a acontecer ao país e então não está capaz de continuar a governar. E aí têm de sair e têm de dar lugar ao PSD. 

Esteve presente na convenção do Chega. Como vê as críticas de Moreira da Silva, para quem foi ‘lamentável a presença do PSD’…

Jorge Moreira da Silva faz um discurso que é o discurso mais fácil, de alguém que não tem responsabilidades de liderança no partido.

Porque perdeu para Montenegro…

E perdeu de uma forma clara e agora faz o discurso mais fácil nesta altura. Acho até de algum oportunismo, mas vivemos bem com essa diferença. Ao contrário do PSD do passado, este PSD convive muito bem com a diferença e é saudável que esta exista e que essas diferenças se exprimam, se mostrem e que seja transparente, concordemos ou não com elas. Não concordo com essa opinião de Jorge Moreira da Silva, que é um militante destacado do PSD, mas tem a sua opinião, não é a nossa. 

E por que não uma coligação com a Iniciativa Liberal?

Porque não é o momento de discutir coligações, seja com o Chega, seja com a Iniciativa Liberal, seja com quem for. Este é um momento de discutir os problemas dos portugueses e mostrar que o PSD é uma alternativa a este desgoverno e a este empobrecimento. Não nos questionem sobre hipotéticas coligações, porque o PSD não sairá desta linha. É uma linha clara que, nos últimos nove meses, tem vindo a conquistar cada vez mais a confiança dos portugueses. 

E que se está a refletir nas sondagens…

Sem dúvida, porque percebem que há um partido que não se mistura e que não se tenta confundir com o PS. Somos diferentes do PS na nossa forma de agir, de olhar para o papel do Estado, para a liberdade dos portugueses, para as empresas e de olhar para a iniciativa privada. Essa diferença é clara nas nossas políticas, não há aqui confusões entre o PSD atual e o PS. E isso vemos gradualmente na maior confiança que os portugueses estão a depositar no PSD. Ora, isso aumenta a nossa responsabilidade e a responsabilidade de Luís Montenegro, mas, como já disse, estou convicto de que mais cedo do que mais tarde Luís Montenegro liderará um Governo do país, um Governo que volte a pôr Portugal no caminho da prosperidade, de devolver liberdade aos portugueses, de garantir que estes não estejam constantemente asfixiados em impostos, que garanta políticas de natalidade, que garanta perenidade e futuro. 

Os portugueses sentem a diferença entre o atual PSD e o PSD da troika? 

Os tempos são outros. Já passaram mais de sete anos, os protagonistas são outros, mas o PSD tem um profundo orgulho do seu passado. Foi chamado, infelizmente, nos últimos 20 anos a governar sempre em situações difíceis. Primeiro depois do pântano de António Guterres e depois da bancarrota de José Sócrates. Conseguiu governar durante dez anos, entre 1985 e 1995, nas duas maiorias absolutas de Cavaco Silva que foram claramente o período maior de prosperidade e de transformação da sociedade portuguesa. Mas também já deu provas de que, quando os portugueses precisam, em momentos de crise, o PSD está lá, mesmo prejudicando o próprio partido, como foi durante o período da troika, que foi um período difícil. Mas depois também tem o exemplo de quando o PSD pôde governar em liberdade, sem algemas, com condições reais de governabilidade, foi capaz de oferecer aos portugueses esse projeto de felicidade que tanto anseiam e que está adiado década após década, com um socialismo impregnado em toda a sociedade e que não garante aos portugueses um futuro. O futuro que merecem. 

Disse recentemente que o Governo tem uma incapacidade crónica de lidar bem com a verdade e tem uma incapacidade crónica de conviver com o escrutínio saudável em democracia…

É por todas estas questões e por ter recusado permanentemente a ida de ministros e de secretários de Estado à Assembleia da República e vamos sabendo dos casos às fatias. O PS vive neste caldo de cultura dos media e da bolha mediática e gere esta bolha mediática a seu bel prazer, não percebendo que com isto prejudica os portugueses. Cada vez que se troca um secretário de Estado, cada vez que se troca um ministro prejudica-se empresários, prejudicam-se portugueses que tinham decisões que estavam pendentes desses ministros e desses secretários de Estado. É um Portugal permanentemente adiado e António Costa lida com estas situações dizendo, como o fez na entrevista que deu há pouco tempo, que este tipo de casos é para os assessores de imprensa ocuparem duas ou três horas da vida deles. É com esta ligeireza que se trata dos problemas dos portugueses. É com esta ligeireza que se trata da governação. É com esta ligeireza que se escolhe secretários de Estado. É com esta ligeireza e este despudor que se pagam indemnizações, que se trata da coisa pública, quando é o nosso futuro que está hipotecado e há aqui uns senhores que acham que são donos do país, dos portugueses, da sua liberdade e condicionam permanentemente o nosso futuro. Há um momento para dizer basta! O PSD analisou isso e sente muito bem a vontade e essa dor que os portugueses têm. E a resposta para essa dor só há um partido que a pode dar que é o PSD. 

Daí dizerem que tanto António Costa e Fernando Medina devem pedir desculpa aos portugueses, nomeadamente no caso da TAP… 

É um episódio que envergonha todos os portugueses, sem esquecer a arrogância de António Costa na campanha eleitoral de 2015, quando dizia que a TAP é absolutamente incontornável que seja pública e sete anos volvidos já quer privatizar por tuta-e-meia, depois de os portugueses lá terem injetado mais de três mil milhões. É uma vergonha para o país e é uma vergonha para as instituições. Também é uma vergonha quando se analisa a TAP depois de se transformar numa empresa 100% pública. A TAP, quando foi privatizada pelo PSD ou com os privados ainda na sua gestão, foi capaz de aumentar o número de destinos para os quais voava no Continente norte-americano de dois para nove, refinanciou 80% da sua dívida, renovou 100% da sua frota. Hoje, a TAP tem aviões novos. Alguma coisa de bom trouxe a privatização liderada pelo PSD e a posterior gestão privada da TAP. Houve zero greves durante este período, nem houve contestação social. O hub continuou em Portugal. A abertura do mercado norte-americano e o investimento americano que foi trazido para Portugal foi a TAP que liderou esse processo. Nos três últimos anos, o que vimos é uma vergonha em relação às indemnizações, à gestão ligeira, à incapacidade gestionária dos gestores contratados, aos salários milionários, aos despedimentos, ao injetar de mais de três mil milhões de euros numa TAP que era gerida a partir do gabinete do ministro. Não há responsabilização dos gestores. Os gestores são orientados por WhatsApp. Isto demonstra o nível mais baixo a que assisti na minha vida pública de destratar e de desgovernar aquilo que é uma empresa pública capitalizada com o dinheiro de todos nós. Mas este é um exemplo cabal do estereótipo do que é a governação socialista. 

Ficou surpreendido com o ministro das Finanças quando este afirmou que vai levar brevemente a privatização da empresa a Conselho de Ministros?

Tem uma explicação que para mim é óbvia: a comissão de inquérito foi aprovada e Fernando Medina teve necessidade de acelerar o processo de privatização. Porquê? Porque há uma comissão de inquérito que vai começar os seus trabalhos e a tal verdade compartimentada e aos bochechos vai ser conhecida de forma integral e vamos perceber que, afinal, não eram só aquelas situações e eram muito mais – mais indemnizações, mais desgoverno, frota mal gerida, decisões estratégicas mal tomadas. A comissão de inquérito vai servir para trazer a nu e tornar claro para todos os portugueses aquilo que foram os dois últimos anos de gestão na TAP de Pedro Nuno Santos, da TAP de António Costa, da TAP de Fernando Medina. E Fernando Medina teve esta necessidade de fuga para a frente, de vamos privatizar antes que se descubra mais. Infelizmente, acho que estamos a desbaratar a TAP. Vamos ver quais são as opções do Governo, porque isto também é um processo de privatização para inglês ver, porque todos sabemos que há meses que grandes companhias europeias andavam pelos corredores da TAP a fazer perguntas. O processo de privatização e de auscultação do mercado já estava a acontecer. Mais uma vez, é a forma pouco transparente como o PS atua. Não diz a ninguém que quer privatizar, começa a fazer conversações nacionais e internacionais para privatizar e agora é que vai anunciar, depois de uma comissão de inquérito criada.

Um dos grupos interessados de quem se fala é o grupo Iberia. Se isso acontecer, Lisboa vai perder a sua importância tendo em conta Madrid…

Claro, Barajas é um aeroporto com quatro pistas, não é o  de Lisboa, que tem os problemas que tem e em que há uma incapacidade para tomar uma decisão. Mais uma vez, o PSD teve de vir acudir o Governo para, pela primeira vez, termos um grupo de trabalho a pensar em todas as soluções, sem dogmas, sem preconceitos, e foi o PSD o pai dessa solução. Mais uma vez, foi chamado a acudir numa situação difícil, mas estamos muito expectantes para ver que visão estratégica existe para a TAP, porque, neste momento, ninguém percebe qual é. O PSD tinha uma estratégia para a TAP quando a privatizou em 2015 e foi clara: tinha de aparecer alguém que comprasse a empresa, mas que tivesse uma visão do continente norte-americano e também do continente sul-americano, com uma visão para a lusofonia e que mantivesse o hub em Portugal. O PS é incapaz de apresentar aos portugueses essa visão estratégica. Como é que se vende alguma coisa, um ativo tão importante como António Costa dizia há sete anos, sem ter uma visão? Então vamos vender a alemães, franceses, espanhóis, brasileiros ou americanos? A quem é que vamos vender? É só o preço? É quem aparecer e pagar mais? É o único critério? Então a TAP era tão importante estrategicamente e agora é só quem pagar mais leva? Envergonha mais uma vez os portugueses.

Ficou surpreendido com a saída do Pedro Nuno Santos? 

Era algo de que já se falava há muito, que Pedro Nuno Santos se iria posicionar e que uma saída precoce do Governo lhe podia permitir esse espaço para ser uma voz independente e senatorial que garanta o seu lugar no futuro do PS. Mas saiu e deixou os seus peões espalhados por todo o Governo. O Governo está com espiões de Pedro Nuno Santos, logo a guerra mantém-se. O general está fora do Governo, mas no terreno de batalha estão os ‘pedros nunos santistas’, estão os ‘nunistas’. É uma batalha campal. É um Governo de batalha campal, incapaz de governar. 

O Presidente da República devia ter uma mão mais pesada? 

O Presidente da República tem tido um papel de enorme dureza. As suas afirmações têm sido muito claras em relação ao que o Governo tem de fazer, muito em linha com aquilo que o PSD tem dito. Foi-lhe dada uma maioria absoluta, governe, foi-lhe dada essa confiança, então esteja à altura da confiança que os portugueses nele depositaram. Não arranjem desculpas, façam, o Presidente da República tem sido absolutamente categórico. Há quem critique o Presidente da República por falar demais, mas tem tido uma enorme coerência nos últimos meses nesse apelo ao Governo para governar. O seu papel é de equilíbrio das instituições e também de algum escrutínio, assim como garantir que o Governo governe e é isso que Marcelo Rebelo de Sousa tem feito. Infelizmente, o Governo não está a ouvir esses apelos. 

Voltando ao PSD. As eleições para o Parlamento Europeu são as únicas que vão decorrer no primeiro mandato de Luís Montenegro à frente do PSD. Vão ser a verdadeira prova de fogo?

O PSD parte para todas as eleições para ganhar, sejam autárquicas, sejam legislativas, sejam europeias, não é algo que nos preocupa muito. São umas eleições importantes para Portugal e para a Europa. A Europa está numa enorme encruzilhada, diria quase de sobrevivência de projeto. O ideário europeu está em causa e as eleições são a altura onde esse debate deve ser feito de uma forma séria. O PSD escolherá o seu candidato a seu tempo e a sua lista. O PSD não pode desvalorizar essas eleições e hoje está unido e preparado para ir a essas eleições e defrontar os outros projetos em alternativa, nomeadamente o projeto socialista. Estas eleições revestem-se de outra particularidade, que é escolher os novos dirigentes à escala europeia, que são tão importantes e que impactam tanto na nossa vida quotidiana, porque já não são só os governos nacionais que impactam na nossa vida. E será a primeira vez, se não existirem outras eleições antes, onde este PSD de Luís Montenegro irá confrontar-se com o PS de António Costa. Nessa altura, os portugueses poderão fazer uma escolha clara entre dois projetos e duas visões diferentes.

Os candidatos ainda não são conhecidos, mas cada vez mais se fala do nome de Rui Moreira como um ativo para capitalizar e congregar nas urnas…

Não vou perder um minuto a fazer essa discussão precoce e fora de tempo de quem será o cabeça de lista, ou quem integrará a lista às europeias do PSD. 

Mas o PSD não tem ficado alheio a algumas polémicas com autarcas a serem investigados e saídas de deputados do Parlamento… 

Claro que não, mas também quer dizer que a justiça está a funcionar e é saudável que assim seja. Do Governo, já saíram 12 ou 13 elementos em 50 e poucos e é um número que impacta. No PSD, também haverá autarcas e outros que estão envolvidos em investigações e é saudável que assim seja, porque é sinal de que a justiça funciona. Fico triste, naturalmente que haja políticos envolvidos, porque deprecia a confiança dos portugueses no sistema. Precisamos de um sistema confiável, de uma democracia confiável, transparente, em que os portugueses acreditem nos políticos, nos partidos, nas instituições, na justiça. Lido muito bem e muito saudavelmente com esse escrutínio dos media, da justiça, das instituições e dos políticos. Preferia que esses casos não existissem, fico triste que existam, mas não posso esconder a cabeça debaixo da areia e ignorar essas situações. 

E isso evidencia ainda mais a falta de confiança na democracia…

A confiança, neste momento, na democracia é muito baixa e só há uma forma de ser restabelecida: com transparência, frontalidade, seriedade e competência. Tem de haver uma independência da política e da justiça, porque só assim é reforçada a confiança. E é importante que isso aconteça, porque o caminhar de forma acelerada para este clima generalizado de desconfiança no sistema faz com que os extremismos aumentem e o povo é sereno até uma determinada altura, depois a paciência vai-se e o sistema é posto em causa. 

Em relação às presidenciais, têm sido avançados vários nomes, mas há um que tem vindo a reunir consenso: o de Pedro Passos Coelho…

O PSD terá, nessa altura, um enorme dilema, porque existem homens e mulheres de enorme qualidade para poderem ser candidatos a Presidente da República. É bom que o PSD nas últimas décadas tenha sido capaz de gerar essas personalidades. A esquerda terá mais dificuldade em fazer esse debate. Em relação a Passos Coelho, sou suspeito para o dizer, mas é um homem a quem muito o país deve e é um homem que está mais preparado para essas funções. Mas a decisão é dele, pessoal e intransmissível. Ele tomará a sua decisão, assim como os outros nomes de quem se fala, como Marques Mendes, Paulo Portas, entre outros. São homens que são capazes de tomar essa decisão individualmente, depois o PSD tomará uma decisão enquanto partido. Mas as presidenciais são uma decisão pessoal, unipessoal, de alguém que quer ser candidato. Não são candidaturas partidárias, são candidaturas independentes, com o apoio ou não de partidos políticos. E cabe a essas personalidades fazerem uma introspeção e avaliação. 

Entre Passos Coelho e Marques Mendes… 

O PSD não tem de entrar agora nessa discussão. Isso é uma avaliação, uma introspeção pessoal de cada uma dessas personalidades de quererem ou não serem candidatos. É uma decisão deles de quererem continuar a disponibilizar parte do seu tempo, do seu talento, das suas competências em prol do serviço público. Depois, na altura certa, o PSD, enquanto partido, tomará a decisão, como cada militante individualmente ou um cidadão individualmente tomará a sua decisão.