Renováveis: O futuro da energia?

O futuro da energia passa pelas renováveis, que ganham cada vez mais destaque. E Portugal é um bom país para a sua produção, segundo a Greenvolt. Mas há quem fale em grandes entraves nas licenças.

Num mundo cada vez mais desenvolvido, ouvimos falar muito em energias renováveis como sendo a melhor aposta para um futuro que se mostra cada vez mais presente. Mas qual será a realidade no curto, médio e longo prazo e o peso das renováveis em Portugal? “Portugal é dos países que mais precocemente começou a apostar nas energias renováveis, pelo que a representatividade destas no mix de geração de energia é já elevada”, começa por explicar ao i fonte oficial da Greenvolt, defendendo que, “fruto das várias barragens, o país gera muita energia através de recursos hídricos, mas cresceu muito também através da energia eólica, contando com vários parques espalhados pelo território nacional”.

No que diz respeito ao solar, a empresa defende que existe “um crescimento exponencial nos últimos anos, seja através de projetos de larga escala, seja mais recentemente através de soluções de auto consumo e de comunidades de energia”. Por isso, acredita que o peso das renováveis “só vai aumentar daqui para a frente, sendo que o maior potencial estará no solar”.

Para isso, só há pontos a favor, com destaque para a localização privilegiada do país para a geração de energia solar, “nomeadamente pelo número de horas de irradiação de luz solar que tem anualmente, muito superior ao de outros países europeus”. Ainda assim, para a Greenvolt, “a geração de energia a partir desta fonte é ainda substancialmente inferior, por comparação” (com outras), o que significa que “é urgente esta aposta”. E está “preparada para ser um dos players no desenvolvimento de soluções que permitam ao país assumir a dianteira nesta frente”.

Uma opinião partilhada por uma fonte do setor, que admite que este mercado “já devia estar muito mais avançado do que está”, referindo, no entanto, que não é por falta de investimento, nem por falta de vontade por parte dos investidores. “O problema está na máquina burocrática do Estado, que pura e simplesmente não tem tido a capacidade de dar luz verde aos projetos, quer em termos regulatórios, quer em termos de licenças”.

Os dados mais recentes da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), divulgados esta segunda-feira, mostram que quase 85% dos 5.338 gigawatts-hora (GWh) de eletricidade gerada em Portugal Continental, no mês de janeiro, teve origem renovável. E revelam que, entre dia 1 e 31 de janeiro, Portugal foi o segundo país com maior incorporação renovável na geração de eletricidade, ficando atrás da Noruega, que obteve 98,9%.

 

PRR pode beneficiar empresas de energia

Para Henrique Tomé, analista da XTB, é claro que o futuro das energias renováveis “parece promissor, tendo em conta a evolução das renováveis na produção e no consumo interno”. Ao i, o analista relembra que a aposta em alternativas aos combustíveis fósseis tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos “e tem-se refletivo na produção interna, na qual também tem ajudado o país a ser autossuficiente na produção de energia”.

Na prática, “mais de metade da produção de energia em Portugal é proveniente de fontes renováveis, sendo que a energia eólica e hídrica representa metade de toda a produção gerada pelas restantes renováveis”.

Mas, para esse futuro promissor de que se fala, há que contar que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) poderá dar uma ajuda. Luís Mira Amaral diz que as medidas de apoio à descarbonização assentam no apoio à energia renovável por parte das empresas industriais. “Isto significa que a indústria ao fazer o seu investimento em descarbonização poderá instalar painéis fotovoltaicos e essa verba será contemplada no plano”, começa por explicar, lembrando a ajuda específica que existe também para a produção de hidrogénio verde.

Mas será que as empresas estão sensíveis para esta questão? O economista diz também que “é importante mostrar à indústria a necessidade de fazer contratos a médio e longo prazo e, nesse sentido, as empresas que já estavam a pensar nessa aposta poderão reforçar o investimento em painéis solares, porque como foi massificada a produção de painéis fotovoltaicos – em que aparecem com preços muito competitivos – é uma boa aposta da industria em investir em painéis fotovoltaicos para produção própria, é a chamada unidades de produção para auto consumo”.

Outra hipótese poderá passar pelos chamados PPA, que são os contratos de aquisição de energia. “Suponhamos que há um produtor que investe em Portugal em produção fotovoltaica, depois pode fazer um contrato específico direto com o consumidor para que consuma essa energia produzida”.

Nesse caso, defende o economista, “os preços podem ser muito competitivos porque os painéis foto voltaicos baixaram muito de preço devido à sua massificação. E há muitos investimentos que são anunciados em termos de fotovoltaicas que se anunciam para Portugal”, diz, acrescentando, no entanto, estar convencido de que “muitos deles só conseguirão ser viáveis se tiverem contratos com grandes consumidores industriais, com o tal contrato de aquisição de energia”.

Já Henrique Tomé não tem dúvidas de que estas empresas de energia podem ser beneficiadas pelo PRR, uma vez que este programa “assenta sobretudo em medidas de apoio à sustentabilidade para PMEs que estejam envolvidas na produção e desenvolvimento de energias renováveis”.

Mas será o valor do PRR suficiente? Henrique Tomé recorda os números: “O PRR disponibiliza uma verba superior a 370 milhões de euros para o investimento em três áreas distintas, sendo que esta verba está também a contabilizar as regiões autónomas”. Assim, para o hidrogénio e gás estão destinados 185 milhões de euros, para a potenciação da eletricidade renovável no Arquipélago da Madeira são 69 milhões e para a transição energética nos Açores o valor é de 116 milhões de euros.

Por sua vez, fonte oficial da Greenvolt diz que a empresa não será beneficiada. Pelo menos diretamente. “A Greenvolt não precisa de apoios, não precisa de subsídios. Temos tudo o que necessitamos para colocar no terreno as nossas soluções de geração de energia renovável, sendo apenas vital que os processos de licenciamento seja mais céleres para que possam ser uma realidade no curto prazo”.

No entanto, indiretamente, “todas as empresas de energia renovável poderão beneficiar no sentido em que muitas empresas poderão recorrer a esses fundos europeus para acelerarem no importante processo de transição energética”, diz a mesma fonte.

 

Alternativa face aos preços?

O analista da XTB defende que a energia renovável poderá ser uma alternativa, principalmente numa altura em que os preços da luz e dos gás estão a aumentar. “A produção de energia renovável poderia atenuar o aumento dos preços da energia para os consumidores, uma vez que a exposição dos mercados internacionais fica reduzida e o risco de eventos externos, como foi o caso do corte de fornecimento de gás natural russo à Europa, são possíveis de ser mitigados por esta via”.

Já a Greenvolt é perentória: “A energia renovável é, sem dúvida, o futuro”. E justifica que esta energia, “obtida a partir de biomassa residual, do vento ou do sol, além de ser vital para o futuro do planeta, é economicamente racional”.

A mesma fonte detalha ainda que “a geração de energia renovável é substancialmente mais barata do que a energia obtida a partir de fontes fósseis, razão pela qual é de extrema importância que se faça essa aposta, o que, felizmente, temos visto”, diz, recordando que, recentemente, a Comissão Europeia (CE) apresentou o REPowerEU, “um programa que visa reforçar a aposta europeia nas energias renováveis, implementando, entre outros, um conjunto de medidas que visam desburocratizar os licenciamentos”. E não tem dúvidas que este “é um passo importante, no nosso entender, para a afirmação das renováveis como a solução para a energia na Europa”.

* com Sónia Peres Pinto