A verdadeira história de Pamela Anderson

O mais recente documentário da Netflix, Pamela Anderson, ‘Uma História de Amor’, coloca a atriz, modelo e antiga playmate em primeiro plano a contar a história da sua vida, passando a pente fino os maiores traumas e as injustiças que sofreu por parte do olhar do público.

Quando pensamos em Pamela Anderson e vídeos caseiros, a nossa mente pode, imediatamente, escapar para o controverso vídeo desta a ter relações sexuais com o seu ex-marido, Tommy Lee, baterista dos Motley Crue, divulgado sem o consentimento de ambos, mas não é isto que a antiga estrela de ‘Marés Vivas’ nos quer mostrar.
No documentário, ‘Pamela Anderson, Uma História de Amor’, lançado no dia 31 de janeiro de 2023, somos levados a um velho armário na casa da atriz que, entre diversas cassetes antigas, escolhe uma para nos mostrar.
Numa velha televisão com VHS, mostra-nos diversas gravações de momentos amorosos entre ela e o seu ex-marido, como uma viagem numa gôndola nos canais de Veneza ou um momento em que o músico, disfarçado de cavaleiro numa armadura prateada, declara o seu amor e a pede em casamento outra vez.
Tal como Pamela Anderson tem várias cassetes caseiras com muitos momentos diferentes, neste documentário, esta quer também mostrar-nos as suas várias facetas e todas as dificuldades que passou na sua vida.
Ao longo de cerca de uma hora e cinquenta minutos somos apresentados à vida da antiga playmate e todas as peripécias que esta enfrentou, desde o momento em que foi descoberta depois de aparecer num ecrã gigante durante um jogo de futebol americano, até ao seu mais recente casamento, com um homem que esta descreve como uma «pessoa normal».

Uma longa jornada marcada por traumas

Na primeira parte deste documentário, conhecemos os primeiros anos da vida de Pamela e algumas histórias trágicas que marcaram o seu percurso.
Esta recorda a sua conturbada infância marcada pelo seu pai, Barry Anderson, que maltratava a sua mãe, Carol, enquanto estava alcoolizado. A atriz recorda como, por vezes, tinha de sair de casa com o seu irmão mais novo enquanto os pais estavam a discutir, assim como um episódio em que o pai agrediu a mãe porque esta começou a aspirar a casa durante um jogo de hóquei.
 Mas esta não foi a única historia infeliz que recordou, refletindo sobre os abusos sexuais que sofreu, entre os 6 e 10 anos, por parte de uma babysitter que era uma amiga querida da família, referindo que a tentou matar apunhalando-a com uma caneta. 
A mulher revelou ainda como foi violada por um homem de 25 anos quando tinha apenas 12. Para além destes crimes, Pamela também foi violada por um namorado e o seu grupo de amigos quando tinha 14 anos, uma história que ficou de fora do documentário.
Estes abusos fizeram com que esta se tornasse mais reservada e insegura de si e do seu próprio corpo, culpando-se por lhe ter acontecido estes crimes. 
Esta faceta apenas seria revertida quando começou a sua carreira como modelo. Depois de ter sido «descoberta» durante o jogo de futebol dos BC Lions, em Vancouver, esta foi convidada para fazer publicidade à cerveja Labatt (marca que figurava na sua t-shirt quando apareceu no ecrã gigante) e, pouco tempo depois, surgiu um convite para tirar fotografias para a Playboy.
Depois de lhe serem colocadas algumas dificuldades para entrar nos Estados Unidos – enquanto canadiana, esta não podia trabalhar neste país –, Pamela viajou de autocarro até Seattle, onde apenas confirmaram numa seleção aleatória a nacionalidade das duas pessoas (sentadas à sua frente e atrás de si), e rumou até Los Angeles onde começaria o improvável percurso que a tornaria uma das maiores e mais reconhecidas celebridades do planeta Terra.
Pamela explicou que depois de anos a sentir-se reprimida esta experiência ajudou-a a libertar «algo». «No início estava tímida, mas, no final da semana, era capaz de sair nua à rua», é referido numa passagem retirada dos seus diários.
Esta experiência ajudou a modelo a recuperar o seu «poder» e conquistar a sua «sexualidade» e, além disso, foi a oportunidade para poder mudar-se a tempo inteiro para os Estados Unidos, onde continuou a servir como playmate, e onde, com o passar do tempo, se tornou a modelo que mais vezes pousou para a revista da Playboy.
Mas não seria apenas nesta revista para adultos que Pamela elevaria o seu perfil para um ícone sexual da sua geração. Depois de ter rejeitado diversos convites, foi convidada a participar na série ‘Marés Vivas’, onde, com o seu icónico fato de banho vermelho, tornou-se uma estrela global.
Os seus atributos físicos tornaram-na uma das figuras mais reconhecidas do mundo e valeram-lhe uma presença quase constante em diversos talk-shows, em que, recorda, as questões centravam-se no tamanho dos seus seios, afirmando tratar-se de uma questão aborrecida (uma vez que era repetida até à exaustão).
Esta afirma que sempre falou frontalmente sobre estas questões e era bastante verdadeira sobre as cirurgias que realizou, concluindo que esta sinceridade e honestidade a tornaram um alvo fácil para os entrevistadores homens.

Os casamentos

Ao longo do documentário, Pamela recordou os diferentes casos amorosos que teve ao longo da sua vida, mencionando por exemplo, Mario Van Peebles, filho do icónico realizador afro-americano, Melvin Van Peebles, ou do surfista Kelly Slater, e como o Sylvester Stallone tentou que esta fosse a sua «mulher número um», oferecendo-lhe um apartamento e um Porsche, proposta que rejeitou porque isso implicaria a possibilidade de existir uma «mulher número dois» (o ator de Rocky rejeitou estas afirmações).
Contudo, como não poderia deixar de ser, o grande foco foi a sua relação com Tommy Lee, um dos casais mais mediáticos e escrutinados de sempre. Numa história que já foi repetida até à exaustão (incluindo na série Pam & Tommy, que foi criticada e condenada pela canadiana, que acusou os criadores da série de serem uns «cretinos»), o documentário aborda o início, meio e fim do casal que trocou alianças apenas quatro dias depois de se terem conhecido, no México.
 Apesar de Pamela ainda recordar esta relação com muito carinho, lembra também alguns episódios mais violentos, nomeadamente uma luta que ambos tiveram, em 1998, em que este agarrou no seu braço com tanta força que começou a deitar sangue, enquanto esta tentava proteger os dois filhos do casal, Brandon e Dylan.
Em relação a este episódio, num vídeo publicado no TikTok, a 4 de fevereiro de 2023, a atual esposa de Tommy, Brittany Furlan, afirmou que este «não quer saber» do mais recente documentário de Pamela, assim como a biografia que esta publicou recentemente, Love, Pamela. «Tenho sorte de ter um marido realmente amoroso que se ri de todas estas acusações e não se preocupa com elas», afirmou, citada pelo blog StyleCaster.

Uma visão renovada

Apesar de alguns meios de comunicação condenarem a forma «açucarada», tal como escreve o The Telegraph, como o documentário foi feito, com poucos testemunhos, com exceção dos dois filhos de Pamela, a crítica elogiou a forma como a atriz se abriu para falar sobre assuntos sensíveis e reconheceu que, durante demasiado tempo, fomos «injustos» com esta.
«Anderson é uma celebridade com a qual nos preocupamos há décadas e que, por razões sérias e desagradáveis, concedemos residência permanente no zeitgeist», escreveu o editor sénior da The Daily Beast, Kevin Fallon.  
«Mesmo quando não havia nada particularmente grande a acontecer na sua carreira, lá estava ela, como se o seu lugar na consciência do público fosse menos uma casa, mas sim um bunker de guerra fortificado onde ela permaneceu forçada. A série de projetos centrados em Anderson que foram lançados esta semana está a forçar o público a reconhecer que ela não teve voz ativa neste tema. Mesmo quando ela estava a falar, não estávamos a ouvir o que ela tinha a dizer».