A próxima apaga a luz

Catarina Martins, ela própria vítima de um desgaste físico, psicológico e de imagem bem patentes em cada aparição pública, demorou apenas mais tempo a percebê-lo do que Francisco Rodrigues dos Santos, Rui Rio e Jerónimo de Sousa. 

Começou a perceber-se que o Bloco de Esquerda entrou em burnout nas presidenciais de 2021, quando Marisa Matias caiu para menos de metade dos votos que conseguira quer na primeira eleição de Marcelo Rebelo de Sousa, quatro anos antes, quer nas últimas europeias, em 2019.

E ficou mais do que evidente nas legislativas de há um ano, com o chimbalau que o BE levou do eleitorado que premiou o PS de António Costa com a maioria absoluta.

Catarina Martins, ela própria vítima de um desgaste físico, psicológico e de imagem bem patentes em cada aparição pública, demorou apenas mais tempo a percebê-lo do que Francisco Rodrigues dos Santos, Rui Rio e Jerónimo de Sousa – para quem as urnas também foram assassinas ou madrastas – e até mesmo do que João Cotrim Figueiredo, que, a contrario, não resistiu ao crescimento do IL.

A ‘geringonça’, como cedo foi fácil de perceber, transformou-se no abraço de urso que o PS soube tão bem dar tanto ao PCP como ao BE – dois partidos com uma matriz de reivindicação e de protesto incompatível com a submissão ao papel de sustentáculos de um Governo comprometido com objetivos definidos em Bruxelas.

Ainda por cima, António Costa e o PS souberam ‘despachar’ de uma assentada as principais reivindicações do BE, retirando quase ab initio ao parceiro menos fiável daquela coligação praticamente todas as bandeiras, ou causas fraturantes, e esvaziando a sua ação política mais mediática – seja as questões que envolvem a defesa da ideologia de género, a liberalização das drogas ou a eutanásia.

O que o BE percebeu já tarde de mais, aliás, tal como o PCP, acabando por isso ambos a pagar a fatura nas mesas de voto.

Se os comunistas em perda nas autarquias e no Parlamento imediatamente se concentraram na luta de rua, reativando o seu braço armado sindicalista e escolhendo um líder que, mesmo desconhecido e apagado, fala a linguagem do proletariado que resiste, o BE está a ver-se cada vez mais encurralado pela falta de capacidade de penetração nos meios sindicais e nos movimentos ditos inorgânicos, onde curiosamente ditam regras os mais radicais ex-bloquistas, como André Pestana (do STOP), entretanto migrados para outras forças políticas marginais, como o Movimento de Ação Socialista (MAS, uma espécie de POUS de Carmelinda Pereira à moda do século XXI).

De facto, com exceção da Ordem dos Advogados, o BE falhou todas as tentativas de assalto ao poder nas mais variadas organizações setoriais ou sindicais.

Ficando confinado às suas agora reduzidas bancadas parlamentares em S. Bento e em Bruxelas, sem bandeiras visíveis e com o carimbo de partido da esquerda urbana e caviar com uma desmesurada presença nos media ideologicamente colaboracionistas.

Ou seja, o partido de protesto e antipoder converteu-se ao sistema, ainda berra e chora mas também mama, e o povo é quem paga.

E comete um erro capital, aliás, na linha do que recentemente também  aconteceu com o Iniciativa Liberal: troca alguém com capacidade para gerar empatia no eleitorado urbano ao qual se dirige por quem sem graça alguma.

Mariana Mortágua não traz novidade nem frescura ao Bloco, antes pelo contrário.

É uma das ‘manas’ e um dos rostos mais mediáticos do BE nos últimos anos.

Ora, Se Catarina Martins é uma cara desgastada ao fim de 10 anos de presença mediática diária e já pouco atraente para o eleitorado, Mariana Mortágua é outra, tal como a irmã Joana, a eurodeputada Marisa Matias, o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, ou os mais do que estafados Francisco Louçã e Fernando Rosas.

Essa é uma das razões que desaconselham a candidatura de Catarina Martins a render Marisa Matias como número um na lista às próximas europeias: uma ou outra são o espelho do burnout do BE, sem nada de novo para oferecer ou sequer prometer aos eleitores.

É um disco riscado, em que o lado A é praticamente igual ao lado B e com uma única faixa.

Já Mariana Mortágua tem o mesmo problema de Francisco Louçã: apesar das suas muitas qualidades, insiste num discurso demasiado monocórdico, chato, previsível e demagógico.

É, por isso, uma muito séria candidata a fechar a porta e a apagar a luz.