O fanatismo ideológico na questão dos imigrantes

Do que se sabe, a maioria dos imigrantes são explorados por máfias que os transformam em escravos.

Em Portugal a melhor forma de evitar que se discuta seriamente algum tema é catalogar de fascista e xenófobo quem pensa de maneira diferente. A maioria fá-lo por desonestidade intelectual, embora outros sigam esse caminho mas por inocência, creio eu, até porque tenho amigos nesse lado da barricada. O melhor exemplo do que falo é o tema da imigração. Já o escrevi várias vezes, mas nunca é demais dizê-lo. Durante um determinado período da minha vida ia com muita frequência a Angola e Moçambique, chegando a ter dois passaportes precisamente por os vistos demorarem uma eternidade, e precisar de pedir autorização para ir aos dois países em datas seguidas. Imaginemos que queria ir a Angola no princípio de março e a Moçambique em meados do mesmo mês. O que acontecia era que o passaporte ficava retido no consulado do primeiro país, inviabilizando-me o visto para Moçambique. Fizemos então uma exposição e os serviços responsáveis pela emissão dos passaportes aceitaram ‘passar-me’ dois, o que nalguns aeroportos europeus criava alguma confusão, pois o SEF desses países estranhava que na base de dados eu tivesse os dois documentos. E por que razão eu tinha de ter dois passaportes? É simples, eu só podia entrar nesses países com uma carta de chamada de uma empresa, além do comprovativo da morada do local onde iria ficar hospedado. Quer Angola como Moçambique, à data, à semelhança de Portugal, só permitiam a entrada a quem tivesse, de certa forma, um visto de trabalho ou de recomendação. Eram os dois países racistas e xenófobos por quererem controlar a imigração? E Portugal? Se tinha que se seguir as diretivas de Schengen era natural que respeitasse a mesma política. Percebo que quando André Ventura fala na imigração todos lhe caiam em cima – o simples facto de respirar já é suficiente para muitos ficarem com urticária. Mas por que carga de água é que não se deve e pode discutir a imigração? Carlos Moedas só disse o que é evidente, e todos lhe caíram em cima.

Vejamos, Portugal precisa urgentemente de largos milhares de imigrantes para os setores do turismo, construção civil, agricultura e por aí fora. Até agora, e salvo bons exemplos como a Carris Metropolitana, que contratou 60 motoristas de Cabo Verde, dando-lhes condições condignas, a maioria dos imigrantes são explorados por máfias, dos seus países, e deixados ao deus dará. Estes imigrantes, por vezes, trabalham em condições miseráveis e são, no fundo, os novos escravos. Não será então de o Governo controlar estas máfias e de fomentar a vinda de imigrantes que possam ser acolhidos condignamente? Será que o Canadá, a Alemanha ou a Grã-Bretanha são países racistas por quererem controlar a imigração? A discussão é tão tonta que as pessoas nem pensam. Vamos imaginar que as portas estão abertas a todos, sem qualquer controlo. Não se tornará Portugal um paraíso para as máfias de diferentes países? É assim tão complicado querer uma imigração controlada? Sejam eles paquistaneses, indianos, brasileiros, suíços e por aí fora. Eu, volto a repetir, não me senti discriminado por ter sido obrigado a estar devidamente legalizado para trabalhar no exterior.

Como a histeria tomou conta deste país, é natural que não se possa discutir nenhum assunto de forma séria. É ou não melhor para os imigrantes saberem com o que podem contar? Por fim, Portugal é assim tão grande que possa, por absurdo, receber 20 milhões de imigrantes?

vitor.rainho@nascerdosol.pt