Futebol feminino. Mundial ao pequeno almoço

Portugal defronta amanhã os Camarões e a vitória no playoff intercontinental garante a presença no Campeonato do Mundo de futebol femininio. A seleção nacional está preparada para fazer o que nunca foi feito. É de acreditar!

Bem cedo, pelas 6h00 (hora portuguesa), a seleção nacional entra em campo para assegurar, pela primeira vez, a presença num Mundial. É o momento mais esperado do futebol feminino. Portugal tem registado uma evolução significativa, como demonstra a participação nos campeonatos da Europa em 2017 e 2022. Desta vez, vai à Nova Zelândia procurar uma presença inédita entre as 32 melhores seleções do mundo. O eventual apuramento para a competição que se realizará na Austrália e Nova Zelândia, entre julho e agosto de 2023, traz reconhecimento internacional à equipa das Quinas, pois quando se joga um Campeonato do Mundo é todo o planeta que vê. Além disso, pode ter um grande impacto nas novas gerações, que querem imitar as jogadoras que tiveram êxito internacional. 
Portugal qualificou-se para o playoff Intercontinental depois de ter ganho o playoff europeu com triunfos frente à Bélgica e Islândia. A seleção nacional nunca defrontou os Camarões, mas chega ao encontro decisivo com um registo bem interessante de sete vitórias consecutivas: Sérvia (2-1), Turquia (4-0), Bélgica (2-1), Islândia (4-1 após prolongamento), Haiti (5-0), Costa Rica (1-0) e Nova Zelândia (5-0), jogo particular disputado na semana passada. 
A seleção é uma equipa que privilegia o coletivo, gere muito bem os momentos do jogo e põe grande intensidade na recuperação a bola, ou seja, é uma equipa adulta, onde se destaca a capacidade individual de jogadoras como Jessica Silva, Ana Capeta, Dolores Silva, Kika Nazareth e Diana Silva. A maior técnica e qualidade das jogadoras portuguesas vai encontrar uma equipa que pratica um futebol mais físico e direto, apoiado nas individualidades. Uma coisa é certa, Portugal tem de ser suficientemente competente face a uma seleção experiente, que procura estar na fase final pela terceira vez consecutiva. Com muito trabalho de vídeo e análise do adversário – a equipa e staff técnico assistiram à vitória dos Camarões sobre a Tailândia (2-0) – e a determinação das jogadoras, Portugal pode amanhecer no campeonato do mundo. 

Espírito de conquista Reina na equipa das Quinas o espírito de grupo, confiança e uma grande vontade que chegue o dia do jogo, como se percebe pelas declarações do selecionador e jogadoras. Portugal goleou (5-0) a experiente Nova Zelândia no jogo de preparação, o que deixou Francisco Neto satisfeito. “Saio com boas sensações, mas com algumas coisas a corrigir pois queremos ser melhores. O próximo jogo [Camarões] será completamente diferente e vai-nos colocar novos problemas, mas teremos sempre de manter a nossa identidade e procurar dominar o jogo com a nossa ideia. Temos de ter muito cuidado, respeito e olhar com muita seriedade para o jogo, sem achar que somos melhores”, afirmou o selecionador, que mostrou total confiança nas 25 selecionadas. “Esta equipa tem vindo a crescer muito e temos dito sempre que contamos com todas as jogadoras. Para nós não há titulares nem suplentes”, explicou o selecionador nacional.
A internacional Fátima Pinto tem um discurso realista para o jogo de uma vida. “Os Camarões são uma equipa muito forte fisicamente, e apostam muito nos duelos um contra um. Temos de estar muito atentas a isso. Num jogo de playoff, a margem para errar é pouco ou nenhuma”, sublinhou a centrocampista. Fátima Pinto acredita que Portugal pode tirar proveito de uma eventual desorganização tática do adversário “taticamente, as camaronesas podem desorganizar-se um bocadinho e nós podemos ganhar vantagem nesses momentos. Temos de entrar muito concentradas e fazer o nosso jogo. Só assim ficaremos perto do sucesso”, disse com convicção a jogadora de 27 anos. Sobre as diferenças que separam Portugal (22.º) dos Camarões (58.º) no ranking da FIFA, foi muito clara: “Nos jogos a eliminar, o ranking pouco importa. São jogos de tudo ou nada. A verdade é que as camaronesas têm experiência de campeonato do mundo e nós não. Podem, por isso, ter uma maturidade superior à nossa”. Essa maior experiência exige da equipa portuguesa alguma atenção nas emoções ao longo da partida. ”Vamos ter de encontrar um equilíbrio para fazermos um bom jogo. Seja como for, estamos preparadas, o grupo todo está concentrado e as jogadoras estão todas com o mesmo pensamento. Existe grande sintonia e a equipa está mais madura e confiante em si mesma do que há uns anos, e isso é muito importante”, declarou Fátima Pinto ao site da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
A avançada Jessica Silva revelou igual satisfação e determinação em jogar o palyoff que pode ficar na história. Em declarações à FIFA, afirmou: “Representar o país numa grande competição é algo de muito especial, é o sonho de qualquer jogadora. Sonhamos muito com essa possibilidade e agora estamos na iminência de concretizar essa sonho. Nem quero pensar na possibilidade de perder a oportunidade de estar no Campeonato do Mundo. Estamos a fazer tudo para garantir o apuramento, e penso que todas as minhas colegas dizem o mesmo. Acreditamos muito que Portugal vai estar na fase final”. 
Ana Capeta marcou dois golos à Nova Zelândia e assumiu que a seleção está “preparada para garantir a qualificação para o Mundial, e que quer fazer história com o símbolo de Portugal ao peito”. “Somos muito lutadoras e merecemos estar na fase final”, disse a atacante, considerada a melhor jogadora em campo.
Caso Portugal seja apurado, vai defrontar no Campeonato do Mundo os Estados Unidos, campeã em título, os Países Baixos, medalha de prata no último, e o Vietname.

“Leoas” menos assustadoras Há muito considerada a segunda melhor seleção de África, atrás da Nigéria, os Camarões procuram a terceira presença consecutiva num Mundial feminino. Embora haja sinais evidentes de envelhecimento e cansaço físico e mental entre as “leoas indomáveis”, a confiança é grande. “Nunca pensamos em falhar”, afirmou Gabriel Zabo, selecionador dos Camarões. “O nosso único objetivo é conseguir estar pela terceira vez consecutiva no Mundial. Estamos muito otimistas quanto ao apuramento. Temos de defender bem e explorar as nossas possibilidades no ataque apostando na velocidade”.
Gabrielle Ouguéné é a estrela da equipa depois de ter marcado os dois golos que eliminaram a Tailândia. A atacante afirmou que a equipa está preparada para o playoff que dá acesso ao Campeonato do Mundo: “Vamos ter três dias para preparar o jogo com Portugal, que é uma grande equipa e que respeitamos, mas sabemos que podemos ganhar”, disse a jogadora, que fez uma comparação curiosa. “O Mundial sem os Camarões é como o McDonald’s sem batatas fritas”.