Liga dos Campeões. À procura da glória perdida

Inter de Milão e FC Porto defrontam-se amanhã nos oitavos de final da Liga dos Campeões. Apesar da rivalidade, os dois clubes têm um ponto em comum: foi com José Mourinho que ganharam a maior competição do mundo de clubes.

Por João Sena

A história caminha depressa, mas as memórias, essas, ficaram para sempre. O FC Porto sagrou-se campeão europeu em 2003/04 e o Inter de Milão venceu a prova em 2009/10, as duas vitórias tiveram a mão de José Mourinho. Depois, foi o vazio para as duas equipas. Os azuis e brancos ainda têm uma Liga Europa para mostrar (2010/11), o Football Club Internazionale Milano nem isso. Há outra particularidade a ligar as duas equipas. Sérgio Conceição, técnico dos portistas, jogou no Inter de Milão duas épocas (2001-2003), tendo realizado 41 jogos e marcado um golo.

Quem esteve na Arena de Gelsenkirchen, na Alemanha, a 26 de maio de 2004, viu um FC Porto de classe europeia vencer o Mónaco (3-0) e conquistar o segundo título europeu. Foi o dream team de José Mourinho, com Deco a ser considerado pela UEFA o Melhor Jogador da competição. 

O treinador português viria a repetir o êxito a 22 de maio de 2010, com o Inter de Milão, após vencer o Bayern de Munique com dois golos de Diego Milito, o jogador fetiche de José Mourinho. Há 45 anos que o Inter não conquistava a ‘orelhuda’ – é assim que é conhecida a taça – pelo que este terceiro triunfo foi bastante celebrado. A primeira vitória dos nerazzurri aconteceu em 1963/64 com a vitória sobre o Real Madrid (3-1) e repetiram o feito na época seguinte vencendo o Benfica (1-0) na final disputada no seu estádio, o mítico San Siro. A equipa que fez história no futebol europeu na década de 60 era treinada por Helenio Herrera, o homem que introduziu o conceito de Catenaccio no futebol, que se caraterizava por uma tática defensiva e pragmática, com redução de espaços e predominância do líbero. 

Dois meses depois de ter ganho a final no Santiago Bernabéu, José Mourinho regressou a Madrid como treinador dos ‘merengues’. Aconteceu o mesmo no FC Porto. A vitória na final da Liga dos Campeões, em Gelsenkirchen, foi o seu último jogo à frente do clube. “É a melhor maneira de deixar uma equipa, com a emoção da vitória”, disse mais tarde José Mourinho. 

O Special One tornou-se num dos treinadores mais bem sucedidos no mundo, mas pouco consensual. Para alguns foi inovador nos conceitos e na forma de jogar, para outros limitou-se a dar inteligência ao Catenaccio. A sua personalidade controversa e os famosos mind games tornaram-no num dos treinadores mais odiados, sobretudo pelos colegas que lidam mal com o sucesso e arrogância de Special One. 

Repetir a surpresa Inter de Milão e FC Porto estão nesta competição para vencer e repetir feitos passados, é bom recordar que os dois clubes não eram favoritos, só mesmo os crentes e os apostadores mais ousados gastavam as suas fichas com as equipas de José Mourinho. O resultado foi o que se viu. 

Vai ser uma eliminatória muito apertada para as duas equipas. Se Otávio recuperar da lesão muscular a tempo de jogar em Milão, a tarefa fica mais fácil. O facto do FC Porto jogar a segunda mão em casa pode ser determinante, é que ter o Dragão a apoiar dá uma energia extra a uma equipa que já sai do balneário espicaçada por Sérgio Conceição. Na Europa, o ‘ADN Porto’ tem conseguido bons resultados. O treinador mostra ambição, mas reconhece dificuldades: “Não se pode ganhar a Liga dos Campeões sem qualidade, mas há uma distância entre as equipas que pertencem aos grandes campeonatos e os outros. Não quer dizer que não tenhamos a possibilidade de disputar uma final, esse é o nosso objetivo, mas é difícil. O FC Porto lida bem com a pressão e sente-se bem a lutar com os melhores, por isso podemos e devemos sonhar”, afirmou Sérgio Conceição ao magazine da UEFA. 

Em Itália, há grande expetativa relativamente a este jogo para perceber o que vale o Inter na Liga dos Campeões, e o futuro do treinador Simone Inzaghi, que foi colega de equipa de Sérgio Conceição na Lazio. No fim de semana, o Inter venceu (3-1) a Udinesse para o campeonato e Simone Inzaghi rodou a equipa a pensar na partida contra o FC Porto. “Mudei alguma coisa, mas quem entrou fez um grande trabalho e a equipa mostrou grande caráter. Precisamos de todos para a próxima partida, que vai ser muito difícil. O Lukaku melhora de jogo para jogo, está em excelentes condições, e vai continuar a jogar, e o Onana vai voltar à baliza. Estou tranquilo porque sei que posso fazer as melhores escolhas contra o Porto”, afirmou o treinador dos neazzurri. O registo de jogos entre as duas equipas é escasso, defrontaram-se apenas quatro vezes para esta competição, com duas vitórias do Inter, uma do FC Porto e um empate, os italianos marcaram seis golos e o os azuis e brancos cinco. O pior é que das duas vezes a equipa portuguesa foi eliminada.

Jogo de equilíbrios Relativamente à época 2022/23, as duas equipas realizaram seis jogos na fase de grupos com resultados distintos. O FC Porto venceu quatro jogos e perdeu dois, ficou em primeiro lugar no grupo e foi cabeça de série no sorteio onde apanhou o Inter, que foi segundo no seu grupo, com três vitórias, duas derrotas e um empate. 

Nos jogos da primeira fase, os nerazzurris fizeram 245 ataques, remataram 32 vezes à baliza contrária e conseguiram dez golos, os portistas têm 222 ataques, 31 remates à baliza e marcaram por 12 vezes. O avançado Lautaro Martinez marcou oito golos em seis jogos, e é um perigo para a baliza de Diego Costa, tal com Taremi, com cinco golos, é uma ameaça para Onana. As duas equipas encaixaram o mesmo número de golos: sete.

No que se refere à posse de bola, apresentam números aproximados. O Inter jogou frente ao Bayern de Munique, Barcelona e Plzen e conseguiu um total de 49% de posse de bola, ao passo que o FC Porto teve 46% nas partidas com o Atlético Madrid, Brugge e Bayer Leverkusen. Na precisão de passe, os italianos foram superiores com 84%, contra 79% da equipa portuguesa (2425 e 1939). A ‘máquina’ do Inter foi mais eficaz nos passes curtos e longos e nos passes para uma zona chave do campo. Ao invés, o FC Porto foi exemplar na recuperação de bola graças ao trabalho de ‘formiguinha’ do seu meio campo (242) face ao Inter (207). Os portistas deram-se também mais ao jogo, percorrendo nas seis partidas qualquer coisa como 706 quilómetros, contra os 690 quilómetros dos jogadores do Inter.

No capítulo defensivo, não há uma diferença significativa nos duelos ganhos (29-25) e nos duelos perdidos (44-51), embora o Inter tenha melhores registos. A menor eficácia da defesa azul e branca levou-a a cometer excessos que deram origem a quatro grandes penalidades, os italianos não fizeram qualquer penalti. Nesses momentos críticos, valeu ao FC Porto ter ‘São Diogo Costa’ na baliza para defender três penaltis.

A semana de Liga dos Campeões começa, hoje, com um grande jogo, que é a repetição da final do ano passado entre Liverpool e Real Madrid, que os ‘merengues venceram (1-0). “A história do Real é melhor do que a nossa, mas toda a gente sabe o que significa jogar em Anfield, estamos preparados”, avisou Jürgen Klopp, treinador dos Reds, que conta com a inspiração do avançado Salah, o melhor marcador da Liga dos Campeões com sete golos esta época, a par de Mbappé.