Um medo nuclear

A pergunta a fazer seria: e não se disponibilizarem novos equipamentos, a guerra acaba? Não vale a pena esperar pela resposta. Já se sabe que ela só terminará quando a Rússia conseguir atingir todos os seus objetivos.

Por Carlos Encarnação

Li e quase não queria acreditar.                  Um ano depois da invasão da Ucrânia, especialistas reconhecem e salientam as medidas de diversão que a Rússia lança para atrasar e confundir.
A técnica do pau na roda, da criação da dúvida metafísica.
Não, não foi neste último ano. Tem sido um comportamento consciente que atravessou todo o tempo desde que Putin reconstruiu a sua narrativa sobre a grande Rússia.
O mais extraordinário é admitir-se como normal a declaração de que certos países não têm razão de existir.
A partir daí tudo é possível.
O direito internacional fecha os olhos à invasão, à ocupação, à destruição.
Primeiro com base na ideia dos povos russos residentes, depois com a ajuda aos autonomistas e finalmente com a ação de proteção.
Para ser verdadeiramente eficaz não apenas naquele ou naqueles pontos mas em todo o território.
Quem inicia a ação armada, fá-lo para que o agredido se não torne agressor.
E até anuncia a vontade negocial de acabar com a guerra se deixar de existir resistência.
Havendo, a ameaça do terror nuclear tenta paralisar todos.
Que ninguém ajude porque senão as consequências serão terríveis e a terceira guerra mundial aí virá.
Foi um exagero. Nem os chineses estiveram de acordo com isso.
Mas, se a situação se não resolve, se as forças militares utilizadas não conseguem romper e se desgastam em derrotas, é necessária inventiva.

Gente bem intencionada, os mercenários, ajudam no esforço. Não chega.
Às prisões russas vai buscar-se a fina flor dos criminosos condenados e dá-se uma oportunidade de morrer ou conseguir ser livre da pena.
Em magote, lançam-se na frente de batalha para consumir recursos do adversário em quem não conta.
Percebe-se que países amigos do invadido se unem para atribuir meios de defesa.
Recomeçam as manobras.
Sistemas de artilharia a longa distância, nunca.
Tanques modernos, jamais.
Aviões de nova geração, em tempo algum.
E a ameaça é sempre a da retaliação, fazendo crer que cada ajuda traz uma nova escalada.

A pergunta a fazer seria: e não se disponibilizarem novos equipamentos, a guerra acaba?
Não vale a pena esperar pela resposta. Já se sabe que ela só terminará quando a Rússia conseguir atingir todos os seus objetivos.
Estamos, portanto numa situação sem saída.
A guerra continuará até alguém desistir por exaustão.
Com esta diferença, porém.
Se o invadido desistir, perderá tudo e outro alvo irá, em breve, nascer.
Se o invasor decidir parar ninguém invadirá a Rússia.
Logo, esta forma de mastigar os problemas, de não decidir prontamente, de não fazer o que é preciso coloca as democracias ocidentais paralisadas em situação de debilidade.
Um modo mais firme e mais resoluto é a única linguagem que o poder russo percebe.
Depois virão o sr. Medvedev, o porta-voz, o sr. Pryogin, o sr. Putin , no cortejo do costume, debitar todas as catilinárias de lábios cerrados.
De pouco servirá.
Esta política da chantagem só se vence com a mesmíssima coragem que um dia Churchill exibiu e corporizou.
Sofreremos muito, todos, durante um tempo considerável.
Ganharemos a possibilidade de continuar livres e permitir que outros o sejam.
Quando?
Quando deixarmos de ter medo.