O intenso trabalho que ainda falta ao PSD

Ao PSD cabe apresentar uma ideia de país. Um projeto de futuro a pelo menos 50 anos…

por Eduardo Baptista Correia

Em minha opinião, ao contrário das eleições e dos referendos, as sondagens constituem um elemento de interferência pouco interessante e até pernicioso na vida dos partidos políticos e respetivos dirigentes. Não esqueço que nas eleições autárquicas de 2001 as sondagens de vésperas, que em tese deveriam apresentar um elevado grau de rigor nos seus resultados, falharam todos os grandes centros urbanos. Também não me esqueço de as sondagens, nas quais nunca acreditei, apontarem uma clara vitória do PSD nas anteriores legislativas e do então presidente do partido, convencido da vitória, aconselhar António Costa a um maior grau de humildade.

Não gosto de sondagens; ao invés aprecio o trabalho bem feito porque acredito ser o trabalho bem feito a base inequívoca da atratividade necessária para entusiasmar a imprescindível adesão do povo a votar num projeto político. Dos vários estudos de opinião realizados há um, pela dimensão do resultado, que me merece referência: os portugueses preferem que o atual governo do PS governe até ao fim da legislatura… Este resultado só é possível à luz da ausência, aos olhos dos portugueses, de uma alternativa clara e inequívoca.

É-me absolutamente evidente que o PSD necessita realizar um intenso trabalho na forma como gere a sua presença no território nacional, como gere a sua própria estrutura e se apresenta aos portugueses. O PSD necessita urgentemente evoluir no seu próprio modelo de gestão, para patamares de maior agilidade, contemporaneidade, meritocracia e transparência. Em minha opinião está longe desse patamar. Também necessita rever a forma como no território nacional distribui a mensagem e atrai militantes e eleitores. A imagem e a gestão da marca não evoluíram nas últimas décadas. Perderam até algum do fulgor anteriormente visto. Só depois deste trabalho devidamente conduzido, terá o PSD hipótese de passar ao nível seguinte onde terá obrigatoriamente de fugir das propostas avulso ao sabor da agenda mediática que o tornam numa alternativa excessivamente volátil e sem rumo aparente definido.

Ao PSD cabe apresentar uma ideia de país. Um projeto de futuro a pelo menos 50 anos. É dessa visão e projeto que, de uma forma política e tecnicamente ligada, emanarão as ideias, críticas e propostas. A partir dessa visão será possível aos dirigentes e militantes apresentarem comportamentos, ideias e projetos que em total sintonia e coerência entusiasmem e contaminem o povo português. Apenas dessa forma o PSD poderá marcar a agenda mediática em vez de a seguir.

Ao nível das oportunidades, Portugal tem matéria territorial e humana para se tornar referência geopolítica em inovação científica e tecnológica no domino de ocupação e exploração oceanográfica e espacial. Ao nível das fragilidades Portugal tem uma vasta coleção de áreas para reformar. Desde a burocracia, ao modelo fiscal, passando pelo funcionamento da justiça, ao modelo de educação, ao sistema político, e aos valores de funcionamento e comportamento cívico em sociedade. Não falta trabalho ao PSD para poder de forma inequívoca apresentar-se aos portugueses como a alternativa que querem já amanhã ver a governar o país. Falta ao PSD fazer esse trabalho.