Os Desafios Naturais da Inteligência Artificial

A IA, como ferramenta poderosa, terá de ser utilizada e explorada de forma regrada e equilibrada.

Por Pedro Sousa Sampaio, Coordenador da Licenciatura em Engenharia Biomédica | Universidade Lusófona

No livro Mentes Digitais – a Ciência Redefine a Humanidade, Arlindo de Oliveira aborda de forma entusiasmante a relação entre a tecnologia de informação e os sistemas biológicos. Esta interligação tem permitido alcançar avanços significativos na compreensão de processos biológicos fundamentais, suportando o desenvolvimento de fármacos mais eficientes e seguros, traduzido pelo aumento da esperança de vida média das populações. Recentemente, com a crescente aplicação da Inteligência Artificial (IA) em inúmeras áreas, a relação entre a tecnologia de informação e a biomedicina tem-se revelado cada vez mais promissora. Como exemplo desta inter-relação, no Hospital Universitário Lisboa Norte foi realizado o diagnóstico do glaucoma com o recurso à IA, permitindo reduzir o desconforto e os custos associados. Em Coimbra, investigadores da Faculdade de Medicina e do Centro Hospitalar e Universitário, em colaboração com a Universidade de Buffalo (EUA), desenvolveram um algoritmo inteligente que avaliará biópsias renais, uma vez que cerca de metade dos órgãos provenientes de dadores falecidos são rejeitados como consequência da subjetividade dos métodos de classificação atuais. Entretanto, na área da justiça, a IA irá ‘julgar’, pela primeira vez, um humano que deseja recorrer de uma multa de trânsito. Será esta a solução para se ultrapassar a lentidão da justiça, já que inúmeros processos se arrastam durante anos sem que haja uma decisão? Em finais de novembro foi lançada a ferramenta ChatGPT que interage com os utilizadores através de texto. O software cria, com recurso à IA, documentos sobre qualquer assunto técnico-científico muitas vezes com critérios duvidosos. Recentemente, alunos da Universidade de Estrasburgo tiveram de realizar o exame presencial devido à utilização fraudulenta desta ferramenta. Como consequência, escolas e universidades estão a banir a utilização do ChatGPT e de outros serviços de inteligência artificial.

A IA, como ferramenta poderosa, terá de ser utilizada e explorada de forma regrada e equilibrada. Estaremos preparados para usar com critério e sem que limitemos as nossas capacidades para criar e sermos críticos? Teremos de incutir na sociedade as vantagens e limites desta fantástica ferramenta, mas evitar que fiquemos acríticos e apenas meros utilizadores das suas fantásticas capacidades sem avaliar se este é, de facto, o caminho que devemos seguir. Teremos de jogar por antecipação, como num jogo de xadrez, e evitar o xeque-mate.