Reino Unido com escassez de fruta e legumes

Escassez de alimentos pode estar ligada à falta de mão-de-obra provocada pelo Brexit.

A escassez de frutas e vegetais no Reino Unido levou a maioria dos grandes supermercados a racionar estes alimentos. Segundo um dos maiores grupos de produtores de alimentos britânico, a situação poderá prolongar-se até maio.

«Devíamos estar a colher tomates, pimentos e beringelas, neste momento. No entanto, eles só estarão prontos em maio, pois acabámos de plantá-los agora, em vez de em dezembro do ano passado», disse o secretário da Lea Valley Growers Association, Lee Stiles, à CNN.

«A produção de alimentos tem que ser planeada com meses de antecedência, não é como uma fábrica que pode ser ligada e desligada à vontade», explicou.

Segundo a associação, que representa cerca de 80 produtores no sudeste do Reino Unido, uma importante região de cultivo, onde é produzido aproximadamente três quartos dos pepinos e pimento do país e cerca de um quinto das suas beringelas, não foi possível colher estes alimentos, como geralmente acontece, porque os altos custos de energia no inverno atrasaram a sua plantação.

A crise foi agravada pela menor produção de inverno em estufas no Reino Unido e na Holanda devido aos altos custos de energia. Segundo o ministro da Agricultura, Mark Spencer, a crise mostrou como o Reino Unido pode ser dependente de certas rotas comerciais para alguns tipos de alimentos.

«Sei que as famílias esperam que os produtos frescos de que precisam estejam nas prateleiras quando vão fazer as suas compras semanais. É por isso que estou a convocar os chefes de supermercado para saber o que estão a fazer para reabastecer as prateleiras e delinear como podemos evitar que isso se repita», disse Spencer em comunicado.

Perante a escassez, supermercados como o Lidl, Tesco, Asda, Morrisons e Aldi impuseram um limite de compra em legumes como os tomates, pepinos e pimentos. O Lidl disse que ainda tem uma «boa disponibilidade» de produtos na maioria das suas lojas, mas viu um aumento recente na sua procura e a Tesco limitou a compra destes alimentos a três embalagens por cliente.

A situação levou o governo a agendar uma reunião com os principais grupos de supermercados do Reino Unido para discutir o que pode ser feito para reabastecer as prateleiras com estes produtos.

Segundo o Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais do Reino Unido, a escassez de produtos no país já vai na sua terceira semana.

Apesar dos supermercados britânicos ainda não terem estabelecido uma relação direta entre o Brexit e a crise, a falta de trabalhadores pode ser uma das razões para esta escassez.

«É muito tarde para os produtores plantarem para a estação verão-outono. Os trabalhadores não estão cá, vão demorar 30 dias a encomendar as sementes e mais 12 semanas a começar a colher», afirmou Lee Stiles, acrescentando que o Brexit «restringiu» o número de trabalhadores migrantes.

«Os produtores espanhóis e marroquinos também decidiram vender para a Europa de forma a evitar os custos de uma viagem de quatro dias para o Reino Unido, os custos adicionais de combustível, taxas alfandegárias, burocracia e filas na fronteira», explicou.