Porque se atrasa Portugal?

Não há objetivos claros quanto à qualidade da vida individual, coletiva e empresarial. Portugal não define nem sabe o que quer ser. Encontra-se, em linguagem de navegação marítima, à deriva; ao sabor das ondas, do vento e das marés.

por Eduardo Baptista Correia

Compreender as razões do atraso a que Portugal se tem remetido nas últimas décadas constitui fator essencial para a compreensão do fenómeno e, mais importante, construir uma noção estruturada quanto às medidas de regeneração e inovação que devem ser implementadas para que, quanto antes, possamos reverter esta tendência.

Os aspetos que nos atrasam enquanto estrutura socioeconómica são absolutamente evidentes estando, faz tempo, corretamente identificados por um vasto conjunto de estudos, análises e opiniões. Recentemente, com o apoio de um conjunto de grupos de trabalho de alunos meus da Escola de Gestão, analisámos as razões que levaram uma série de países que se encontravam há 30 anos atrasados relativamente a Portugal mas que se encontram hoje numa posição económica mais robusta que a Portuguesa. É do conjunto dessas análises, passadas e recentes, que me parece evidente enumerar os aspetos que nos seriam convenientes tratar na vasta estrutura de falhas e erros que muito nos prejudicam. A apropriada identificação constitui passo essencial para a resolução. Contudo, a resolução depende essencialmente da vontade e competência dos atores políticos que, infelizmente, tem sofrido, nas últimas décadas, uma visível degradação.

A ausência de uma visão relativamente à missão e objetivos de longo prazo constitui um problema de partida para qualquer desígnio a que o ecossistema socioeconómico português possa aderir. Não haver uma rota definida induz à dispersão de esforços estabelecendo a base da falta de confiança de longo prazo na relação com o investimento privado. A reforçar essa falta de confiança o exagerado tempo médio de duração dos processos judiciais torna Portugal, quando observado dessa ótica, um país subdesenvolvido e inseguro. Não há objetivos claros quanto à qualidade da vida individual, coletiva e empresarial. Portugal não define nem sabe o que quer ser. Encontra-se, em linguagem de navegação marítima, à deriva; ao sabor das ondas, do vento e das marés.

Numa outra dimensão as relações laborais e partilha de rendimento são, para alem de pouco flexíveis, altamente penalizadoras da distribuição de rendimento à classe trabalhadora o que tem por consequência direta, a desmotivação para o foco na produtividade e os baixos rendimentos que os portugueses que trabalham para outrem auferem. A exagerada dimensão do sistema político e da burocracia estatal reforçam a pouca qualidade do sistema para acolher e promover investimentos estruturantes e inovadores. Alem disso, constituem a demonstração clara da ausência de foco na qualidade do serviço ao cidadão, respeito ao investimento e à promoção do civismo meritocrático.  A excessiva carga tributária e a ausência de estabilidade nas regras são a prova máxima da incapacidade que o sistema político que, por sua vez, ocupa o estado não está vocacionado para cumprir com a sua principal função: servir e promover a inovação, o desenvolvimento que fomentam a qualidade de vida das pessoas e da economia. O Estado não cumpre as suas funções nem é exemplo de respeito pela promoção da qualidade de vida, da segurança dos investimentos e do respeito pelo atempado funcionamento do sistema de justiça. O estado ao não cumprir de forma exemplar a sua função constitui o principal entrave ao desenvolvimento da economia Portuguesa.

Por fim, o sistema educativo está longe de se ter adaptado às novas condicionantes científicas, culturais e tecnológicas do século XXI, atrasando de forma evidente o futuro da juventude portuguesa.

Muito do elencado neste sumário está identificado faz décadas edificando a demonstração da incapacidade em reformar de forma inovadora. Apenas doutrina que exija e garanta menos sistema político e melhores atores políticos constitui a fonte de inversão. Até lá nada de novo; a tendência manter-se-á: promovendo interesses de um pequeno grupo pouco capaz e incompetente, prejudicando de forma muito vincada o todo.