As regras que alguns movimentos católicos recomendam aos padres sobre abusos sexuais

“Bispos encobridores, a existirem, retirem-se de funções” e “Todos os abusadores que estejam atualmente ao serviço da Igreja sejam suspensos com caráter preventivo sempre que haja indícios minimamente credíveis sobre abusos”, são algumas das diretrizes que os signatários de uma carta aos dirigentes do clero querem ver impostas.

Um grupo de católicos de vários movimentos como ‘Nós Somos Igreja-Portugal’, Ação Católica dos meios sociais independentes (ACI), Foco Ecológico da Comunidade da Capela do Rato, GRAAL, à Metanoia – Movimento Católico de Profissionais e ao Nós Entre Nós – Grupo Sinodal, elaborou uma carta, que enviou aos bispos, onde deixa uma série de diretrizes sobre a forma como a igreja deve abordar a questão dos abusos sexuais.

No imediato, isto é, até 30 dias, destaca-se a criação de uma «nova comissão independente, à semelhança da anterior, que prossiga o trabalho, continue a receber denúncias de abusos e a acompanhar casos, composta por pessoas de reconhecida competência, corajosas, íntegras, com capacidade de liderança e maioritariamente externas à Igreja, especialmente capazes no âmbito das ciências sociais, para dar sequência ao processo». Defendem também que sejam criados mecanismos que «viabilizem apoio e ajuda psicológica e psiquiátrica às vítimas a realizar fora do âmbito eclesial, e ajuda espiritual, caso elas a pretendam». Querem ainda que seja definido «um mecanismo para pedir perdão às vítimas de acordo com as suas necessidades, e realizado um momento solene e coletivo que simbolicamente projete publicamente esse pedido de perdão».  E pedem aos bispos que aceitem a ajuda do Vaticano «para refletir seriamente sobre os abusos na Igreja e como ultrapassar a atual crise».

Quanto às recomendações a curto prazo, isto é, 60 dias, os signatários pretendem que «a atividade das comissões diocesanas sobre abusos seja recentrada exclusivamente na prevenção primária e formação, de acordo com um mandato claro e com um programa discernido construído por pessoas devidamente habilitadas». Noutras alíneas, são bem claros, outra vez. «Bispos encobridores, a existirem, retirem-se de funções»; «Todos os abusadores que estejam atualmente ao serviço da Igreja sejam suspensos com caráter preventivo sempre que haja indícios minimamente credíveis sobre abusos e, quando considerados culpados à luz da moral cristã, independentemente de eventual processo judicial, sejam dispensados de funções e no caso de clérigos passando ao estado laical».

Por fim, nas recomendações a médio prazo, isto é, até seis meses, querem que «todos os agentes pastorais tenham acesso e estudem o relatório da comissão independente, estudem as conclusões, prevenindo a tentação negacionista ou de relativização do fenómeno criminal»; que «seja elaborado um manual de boas práticas que ajude os agentes pastorais a prevenir situações de risco e a identificar indícios de casos de abusos, bem como a acolher e encaminhar vítimas». As preocupações dos autores da missiva vão mais longe. Desejam ainda que «seja encetada uma reflexão de fundo sobre o impacto negativo que a perceção distorcida sobre a sexualidade humana tem vindo a causar em toda a Igreja, com a ajuda de especialistas externos», além de que «seja proporcionado um acompanhamento aos abusadores que necessariamente inclua tratamento psiquiátrico e psicológico».

O documento termina com um apelo. «Precisamos todos de cooperar na construção de caminhos que levem a Igreja a deixar de ser autoritária, clerical e arrogante e a ser mais inclusiva, mais fraterna, mais humilde e mais capaz de ler os sinais dos tempos, com Deus vivo no centro dos nossos corações. Queremos uma Igreja onde todos se possam abrigar e acolher».