A lógica da melancia…

Mariana Mortágua é ativista desde muito jovem e deu nas vistas durante o inquérito parlamentar sobre o colapso do BES.

O que têm em comum Francisco Louçã, Catarina Martins, Mariana Mortágua ou Marisa Matias além do radicalismo de inspiração trotskista? Todos usam um discurso de veludo, contido e, não raramente, alimentado de sorrisos breves e voz colocada.

Ou, se quisermos imitar as parábolas presidenciais, são como as melancias, verdes por fora e vermelhas por dentro…

Ao contrário de André Ventura, não gritam, não engrossam a voz. São contundentes sem perderem as estribeiras. Aprenderam a disfarçar o que lhes vai na alma. 

As ‘caras larocas’, como lhes chamou Jerónimo, num misto de admiração e franqueza, seguem, afinal, os ensinamentos de Louçã, e o seu estilo evangelista, sem carecerem dos arroubos de Ventura.

Por isso, o Bloco foi levando ‘a água ao seu moinho’, conseguindo impor uma agenda, sem esconder as bandeiras, com a cumplicidade da ala esquerda do PS e dos media, em cujas redações vicejam devotos e simpatizantes. 

Fermenta em qualquer deles um neocomunismo militante, traduzido na sua relação hostil para com a propriedade privada, o lucro empresarial, a economia aberta, ou a NATO, a União Europeia e o euro.

São dogmáticos e admiram ditadores, enfeitados de esquerda. E concorrem com o PCP em restrições à liberdade, sejam as de imprensa ou outras.

Por isso, em 2019, tanto o Bloco como o PCP recusaram associar-se à resolução do Parlamento Europeu, que comparou o nazismo e o comunismo, colocando-os no mesmo patamar. 

E mesmo o PS, depois de votar a favor da resolução em Estrasburgo, embrulhou-se em S. Bento numa atitude híbrida e mal amanhada, ao propor e aprovar um voto de condenação de «todos os regimes totalitários», omitindo a palavra «comunismo». 

Não admira, pois, que o PCP tenha reprovado o Presidente da República, quando este anunciou a decisão de condecorar o seu homólogo ucraniano com a Ordem da Liberdade. Se alguém porventura ainda tivesse dúvidas, ficou à vista que o PCP mudou de líder, mas não de natureza. 

 

Para os comunistas, a brutal invasão russa de um país soberano – que dura há mais de um ano, sob a fingida capa de uma “operação militar especial” -, é um ato ‘justo’ a pretexto de ‘desnazificar’ o regime.

A destruição maciça de cidades ucranianas, flageladas pelo arsenal russo, não incomoda o PCP.

Os comunistas, fiéis à sua ortodoxia, continuam a identificar Moscovo como o ‘sol da terra’, mantendo intacta a sua nostalgia da era soviética.

Hoje, com Paulo Raimundo, como ontem com Cunhal, Carvalhas ou Jerónimo, o PCP coloca-se sempre do lado errado da História, apoiando ditaduras, embora ‘encha a boca’ com as ‘liberdades’. 

É importante recordar estes factos, quando o PCP qualificou a intenção de Marcelo Rebelo de Sousa de distinguir Zelensky como uma «afronta aos democratas», o que é patético vindo de um partido que nunca o foi.

As esquerdas perderam o pé e, em desespero, promovem aquilo que melhor sabem fazer. Agitação nas ruas, greves e paralisações em cascata, por iniciativa própria ou através e grupos ‘inorgânicos’ que, obviamente, patrocinam, seja nos professores ou nos transportes.

 

É neste ambiente de protesto quase diário, que Catarina Martins se afasta, retirando, finalmente, as consequências da pesada derrota sofrida nas Legislativas, que acabaram com a ‘geringonça’ e com as aspirações bloquistas. 

Inspirada, talvez, por Louçã – que, ao sair da liderança, indicou os sucessores e o modelo de governação do partido -, também Catarina não esperou pela Convenção para ‘indigitar’ Mariana Mortágua como herdeira. 

Mariana é outra discípula de Louçã que, num delírio, chegou a vê-la ministra das Finanças. 

A provável sucessora de Catarina segue a mesma fé extremista, embora a dissimule numa embalagem macia. 

Ativista desde muito jovem, economista como Louçã, Mariana deu nas vistas durante o inquérito parlamentar sobre o colapso do BES. E sem ser tão exímia atriz como Catarina, há muito que aprendeu a arte de estar em palco.

Elogiada, também, por Pedro Nuno Santos, que a retratou como tendo «todas as condições e qualidades para dar um contributo inestimável à esquerda portuguesa», Mariana não escondeu o seu radicalismo quando afirmou, em 2016, que «do ponto de vista prático, a primeira coisa que temos de fazer é perder a vergonha de ir buscar a quem está a acumular dinheiro».

E desafiou, então, o PS a apostar numa «alternativa global ao sistema capitalista».

É este o perfil político mais genuíno de Mariana. E obedece à mesma lógica usada por Pedro Nuno Santos – um seu admirador confesso -, depois de se ter «marimbado», em 2011, para os banqueiros alemães «que nos emprestaram dinheiro», prometendo, com fina elegância, que «ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida». E se o fizermos «as pernas dos banqueiros alemães até tremem». 

Estão bem um para o outro…