Portugal está entregue à bicharada

Não gosto de fazer de velho do Restelo, mas começa a ser confrangedor assistir às trapalhadas que põem em causa o futuro do país.

Neste país de berros e gritos chega a ser um bálsamo ter a oportunidade de ler António Barreto a explicar tim-tim por tim-tim o que está em causa na imigração. No seu último artigo do Público, o sociólogo e uma das vozes mais independentes deste país, demonstrava de uma forma cristalina e sem complexos de qualquer ordem, como devemos receber os imigrantes. Se assim não for, se o Governo entrar pela maluqueira de escancarar as portas do país a todos, iremos ter problemas muito sérios, além de que muitos dos imigrantes irão ter uma vida desgraçada, quando o que se quer é precisamente o contrário.

Que venham muitos, mas que se saiba para o que vêm e como irão ser adaptados à realidade portuguesa, sem estarem nas mãos de máfias e que percebam que têm de respeitar os nossos costumes, nomeadamente no que diz respeito às mulheres, crianças e às minorias. Por acaso o Governo tem ideia de quantos milhões poderão vir? Já existe algum plano para se saber onde poderão ficar alojados? O Sistema Nacional de Saúde está preparado para os receber? Poderíamos ir por aí fora, falando nos transportes, na segurança, na educação, etc. Os imigrantes são muito bem vindos, até porque são indispensáveis, mas que venham com condições para serem uma mais-valia e para melhorarem as suas vidas. Se não houver controlo poderemos estar a abrir as portas a redes de mafiosos, que tornarão este país igual a qualquer outro que se debata com graves problemas de segurança.

E, nesta matéria da imigração, é óbvio para mim que o privilégio que se dá à comunidade de países de língua portuguesa faz todo o sentido. Por muito que queiram mudar a História, temos uma relação única com esses países. Chegar a Angola ou ao Brasil, por exemplo, onde se fala a nossa língua, tem alguma coisa a ver com ir ao Burkina Faso, com todo o respeito pelo país? É natural que se privilegie a comunidade de língua portuguesa, muitos países há onde quem não fala a língua local não pode ser naturalizado.

E, já agora. Tive um familiar que foi estudar e trabalhar para a Austrália e eu fiquei como fiador. Tive de entregar a minha declaração de IRS, mostrar o saldo dos últimos três meses, até para pagar um eventual ‘recambiamento’. Correu tudo lindamente e não me senti discriminado pela devassa da minha vida económica, são as leis deles e quem não quer cumprir, não vai para lá. A minha familiar foi e sentiu-se muito feliz.

Não gosto de fazer de velho do Restelo, mas começa a ser confrangedor assistir às trapalhadas que põem em causa o futuro do país. A história dos metadados, vista de fora, deve dar vontade de rir. Como é possível chegarmos a este ponto de se querer destruir provas factuais em nome não se sabe bem do quê? Da privacidade de supostos criminosos? Se o caso de Tancos for anulado então é mesmo melhor fechar as portas e entregar as chaves a algum doido que queira tentar governar um país ingovernável. Para os supostos criminosos pensamos na privacidade, mas na história dos arrendamentos compulsivos podemos andar de porta em porta a vasculhar a vida de todos. Fantástico, Melga, como diria o outro.

Como é possível Luís Montenegro não ter sugerido já a António Costa uma revisão constitucional cirúrgica para acabar com esta palhaçada dos metadados? E não é só dos metadados, já que a Justiça está ainda mais bloqueada porque duas luminárias do PS e do PSD convenceram o resto da rapaziada a aprovar uma lei que praticamente bloqueia os tribunais, com a história das incompatibilidades. Quem recebe um processo, jamais poderá ter alguma coisa a ver com o mesmo, mesmo em terras onde praticamente só há um juiz. Isto não é de loucos? Temos um país fantástico, mas como dizia a anedota, Cristo colocou cá os portugueses. Os tais que não se sabem governar nem querem ser governados.
vitor.rainho@nascerdosol.pt