Qual a estratégia para a marca Portugal?

“Será que queremos começar já a olhar para os 75% do PIB e pensar 2035/2040?”, desafia Castro Henriques

por Luís Ferreira Lopes

Português é bom». É o que afirmam, cada vez mais, vários investidores e empresários estrangeiros que compram produtos e serviços made in ou created in Portugal. Isso acontece há vários anos, em todos os setores da economia, como bem quem sabe quem exporta, por exemplo, calçado, têxtil e vestuário, máquinas, cortiça, tecnologia ou produtos alimentares. A perceção externa melhorou, em especial na União Europeia, com a Hannover Messe, realizada no final de maio e início de junho do ano passado.

Luís Castro Henriques, presidente da administração da AICEP, considera que esta feira industrial, em que Portugal foi o país convidado no início da era pós-covid-19, foi um ponto de viragem no reconhecimento dos mercados mais exigentes da qualidade dos produtos portugueses, mas sabe que há ainda muito por fazer quando se atingiu um valor recorde que nos coloca agora maior exigência no crescimento via exportações, se queremos ser uma economia mais competitiva e que não fique nas últimas carruagens do comboio europeu.

Em entrevista que nos concedeu no final do seu mandato, o economista que conclui, dentro de duas semanas, a sua missão pública na liderança da agência de promoção externa e investimento do país, admite que o grande desafio da próxima década é a aposta na ‘marca Portugal’, ou seja, no que Portugal faz bem e pode fazer ainda melhor. Castro Henriques defende um desígnio que «deve dominar esta próxima década: a afirmação e o posicionamento da marca Portugal. E quando digo a marca Portugal, não estamos a falar de um logótipo. Falamos de uma narrativa global para chegar aos consumidores finais.»

Compromete-se, por isso, a entregar até ao final do seu mandato, nas próximas semanas, «uma estratégia para a marca Portugal para a próxima década». Isto pressupõe três premissas: «Um trabalho sistémico ao longo de, pelo menos, uma década»; «tem de ser feito, de forma transversal, por todos»; «exige uma boa coordenação entre todos», ou seja, órgãos de soberania, associações e empresas.

Este economista acredita que, após a meta de 50% de exportações no PIB em 2022, esta é a altura de «começar a discutir como é que vai ser chegar a 75% de exportações no PIB. Será que fazemos agora um esforço até chegar aos 60% e depois é que pensamos no seguinte? Ou será que eu quero começar já a olhar para os 75% e pensar, a longo prazo, 2035/2040? Esse género de planos e de ambições tem de nascer do facto que nós sabemos que conseguimos concretizar!». Para isso, é preciso estratégia e ousadia para executar, mas depende do Governo para reduzir a incerteza e carga fiscal.

Esta é a missão para crescer, fazer e inovar que temos defendido há largos anos no jornalismo económico (ex: Sucesso.pt, 2006/15, na SIC Notícias), em diversos livros e na missão como assessor do Presidente da República para Empresas e Inovação, em Belém, onde conheci melhor o jovem dinâmico que deixa marca na AICEP. Faço este disclaimer porque, entre 2016 e 2022, conheci melhor a personalidade e o estilo de liderança de Castro Henriques em momentos mais solenes como a preparação e realização de fóruns empresariais em visitas de Estado ao estrangeiro e na receção de chefes de Estado, e também em momentos informais nos aeroportos, longas viagens de avião e na procura prática de soluções de defesa das empresas nacionais durante a pandemia. Provavelmente, LCH terá sido o melhor presidente da AICEP na resolução rápida de problemas e foco nas soluções.