Uma escola de alunos em série

Não é fácil haver espaço para a diferença e para a genialidade numa escola com turmas tão grandes e programas tão extensos.

Um dia destes, alguns amigos do meio académico falavam sobre os diferentes alunos que encontravam nos mestrados. Uns mais geniais e fora da caixa, outros mais ‘by the book’. No fundo uma amostra de todos nós. Contavam por exemplo que uma aluna que faz tudo ‘como deve ser’ e que foi sempre andando apoiada nos professores porque pede ajuda para quase tudo, provavelmente irá acabar por ter a melhor nota porque tem o trabalho em dia e sem incorreções. Mas também sem grande novidade, presumo.

Depois desta conversa fiquei a pensar na forma como a escola lida com os vários tipos de alunos, como os acompanha, como puxa ou inibe quem quer ‘sair um pouco da caixa’, quem vê coisas diferentes. O que é que se promove na escola? O que é que se premeia? O que é que se espera dos alunos? Que sejam súbditos dos professores, que repitam as mesmas frases e matérias repisadas nos últimos 50 anos e as passem para a folha de exame, que deem todos exatamente as mesmas respostas sem sentido crítico? Ou que se questionem, que se impliquem no conhecimento, que vejam de outra forma ou encontrem novas fórmulas?

Não é fácil haver espaço para a diferença e para a genialidade numa escola com turmas tão grandes e programas tão extensos. A repetição à exaustão de algumas inutilidades que se têm de pôr na cabeça para despejar nos exames e logo a seguir serem esquecidas deixa pouco espaço para o diferente, para a irreverência e para o que é realmente importante. Na escola há pouco tempo para pensar, ouvir, tentar perceber o ponto de vista de cada um, acompanhar o raciocínio, não temer a mudança, valorizar a diferença, procurar as especificidades e respeitar os diferentes ritmos de trabalho. Tudo isso requer um enorme investimento. O resultado é que muitos alunos não são habituados a participar, a pensar, a ser autónomos e agentes da sua aprendizagem.

E não é só na faculdade, esta forma de estar no ensino começa muitas vezes logo no primeiro ano do primeiro ciclo, e às vezes até no pré-escolar, quando a maior preocupação é a de ensinar os alunos a contar, ler e escrever em vez de os deixar brincar.

Mas o mundo só pode evoluir se houver alguém que questione o que para os outros é uma verdade absoluta, que queira ir mais longe, que não se contente com o que lhe oferecem. Se no meio académico se vê muito pouco espaço para isso, no caminho que é feito até lá, embora haja cada vez mais escolas e professores que se esforçam por fazer diferente, muitas vezes a preparação tende ao automatismo, quando devia insistir na procura da novidade, na curiosidade, participação, autonomia, troca de ideias, individualidade e irreverência. No ensino, como na sociedade, tem de haver espaço para todos sem receios nem inércia, e é importante que os mestres não se sintam incomodados, mas orgulhosos, quando os seus discípulos, a partir dos seus ensinamentos (ou não), os ultrapassam ou escolhem caminhos diferentes.

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