Victoria’s Secret, de volta, mas sem asas

Os desfiles de alto nível, conhecidos por desfilar modelos elaboradamente aladas e seminuas, atraíram críticas por sobrevalorizar padrões corporais irrealistas. Quatro anos depois, o grande show da Victoria’s Secret está de volta e promete mudanças. Pouco se sabe sobre o que aí vem, mas fica a promessa de dobrar o ‘compromisso em defender as vozes…

Depois de quatro anos parado, há boas notícias para os fãs da Victoria’s Secret. O grande show está finalmente de regresso mas avizinham-se muitas mudanças. Os novos tempos assim o ditam. O anúncio foi feito pelo próprio diretor financeiro da marca, Timothy Johnson. «Vamos continuar a apostar nos gastos de marketing para investir no negócio… e também para apoiar a nova versão do nosso desfile de moda, que está para acontecer ainda este ano», anunciou na apresentação de resultados de 2022.

Embora para muitos este possa ser um regresso muito aguardado, a notícia divide opiniões uma vez que a queda da marca dos anjos está envolta em muitas polémicas que não deixaram os fãs muito satisfeitos. E há vários especialistas que já avisaram: «A marca não pode voltar ao que era».

A Victoria’s Secret ainda não divulgou mais nenhuma informação sobre esta nova versão do desfile – que deverá acontecer em novembro, se mantiver a tendência das edições anteriores – que também é conhecido como o Super Bowl da moda, mas defendeu que o mesmo vai «refletir quem somos hoje», o que pressupõe uma mudança. O que trará de novo este regresso, não se sabe mas é quase certo que a marca quererá riscar os erros do passado.

Numa declaração exclusiva partilhada com o Page Six Style, a Victoria’s Secret escreve que a empresa vai dobrar o seu «compromisso em defender as vozes das mulheres e as suas perspetivas únicas». E acrescenta que «como dissemos antes, a nossa nova projeção e missão de marca continuarão a ser o nosso princípio orientador. Isso vai levar-nos a novos espaços, como recuperar uma das nossas melhores propriedades de marketing e entretenimento até ao momento e virá-la de cabeça para baixo para refletir quem somos hoje», prometendo que vão existir mais novidades este ano.

«Acreditamos que estamos no segundo ano de uma jornada de cinco para mudar o nosso negócio e temos uma estratégia clara para ser o líder mundial do retalho de roupa interior», disse também o CEO, Martin Waters.

Este anúncio acontece na mesma altura em que a gigante americana de lingerie divulgou os seus resultados de 2022: as vendas caíram 6,5% face a 2021, para 6,3 mil milhões de dólares (5,9 mil milhões de euros). Neste exercício encerrado no final de janeiro, o lucro também caiu, cerca de -46%, fixando-se nos 348 milhões de dólares (327 milhões de euros).

 

A queda do império

Durante 23 anos, até ao ano de 2018, a Victoria’s Secret era o centro das atenções devido aos seus esplendorosos desfiles e, claro, às ‘Angels’. No entanto, a marca tornou-se alvo de intensas críticas que diziam respeito à hipersexualização, à falta de inclusão e às acusações de assédio sexual.

Voltando atrás, o show foi interrompido em novembro de 2019 depois de uma queda nas vendas, da baixa audiência da televisão – 2018 foi o ano com menos assistência na história da marca com 3,3 milhões de telespetadores – e as controvérsias em torno da marca.

Nessa altura, noticiou-se que o então CEO da empresa, Les Wexner, tinha laços estreitos com Jeffrey Epstein, que foi acusado de tráfico sexual de menores e conspiração para se envolver em tráfico sexual. Um ano mais tarde um artigo do New York Times acusava Edward Razek – o ex-diretor de marketing da L Brands, empresa mãe da marca de lingerie – de criar uma «cultura de misoginia, bullying e assédio». As acusações foram sempre negadas.

A marca acaba então por praticamente sair de cena pelas críticas do movimento contra o assédio sexual e agressões sexuais, #MeToo, a falta de diversidade de corpos, tons de pele, imposição de padrões e a hipersexualização das modelos nas passarelas dos desfiles.