Um argumento chamado escândalo

A Igreja pode afastar padres sem qualquer prova de delito, mas há quem admita processar a Comissão Independente.

Muito se discutiu sobre a diferença entre suspensão e medidas cautelares no seio da Igreja. Em termos práticos, só o Vaticano pode suspender um membro eclesiástico, enquanto as dioceses têm o poder de afastar provisoriamente aqueles que estão debaixo de fogo. Mas há uma diretriz aprovada pela Conferência Episcopal Portuguesa, em 13 de novembro, que ainda não foi debatida na praça pública. O documento, com a epígrafe Proteção de menores e adultos vulneráveis, diz na sua alínea b) que ‘ações se devem empreender, quando se recebe uma notícia de delito’. «Apesar de não haver o delito com menores, mas, perante condutas impróprias e imprudentes, lembre-se que, se for necessário para proteger o bem comum e evitar escândalos, se enquadra nos poderes do Ordinário e do Hierarca tomar outras medidas de tipo administrativo contra a pessoa denunciada (por exemplo, limitações no ministério), ou impor-lhe os remédios penais mencionados». 

E o que quer dizer evitar escândalos? «Não significa evitar polémicas ou desassossego social. Evitar escândalos é evitar que outras pessoas, neste caso, fiquem a pensar que a Igreja é insensível e que admite pôr outras pessoas em risco só para proteger e não incomodar os seus padres». 

E é recorrendo a esta diretriz que alguns membros da Igreja portuguesa entendem que todos os nomes que foram fornecidos pela Comissão Independente devem ser afastados até se apurar toda a verdade. 

O que, como se sabe, não é pacífico, pois há quem entenda que um simples nome sem qualquer denúncia válida não pode ser considerada. «Eu estou à espera que a Comissão de Proteção de Dados me diga se o meu nome está nalguma lista e como é que foi lá parar. Andam a brincar com a dignidade das pessoas e quem não gosta de um padre pode dizer o seu nome, sem qualquer prova ou facto que o torne suspeito», desabafa um padre ao Nascer do SOL. O mesmo diz que irá processar a Comissão Independente e a Comissão Nacional de Proteção de Dados. «Dos 100 nomes avançados pela Comissão Independente, metade já morreu, outros não se sabem quem são e, até agora, só nove padres é que comprovadamente foram afastados por haver indícios fortes. Mas eu como padre, como não se sabe o nome dos verdadeiros pedófilos, estou a pagar por eles. Isto é um pesacdinha de rabo na boca lamentável. Somos condenados de todas as maneiras».

V.R.