13 marinheiros, 1 almirante e a vacina

Mas desengane-se quem pense que é com casos como este, de insurreição ou amotinamento, que se mina o caminho do almirante para Belém.

Quando 13 marinheiros, entre sargentos e praças, recusam acatar uma ordem direta e legítima de um seu superior muito mal vão as Forças Armadas do país.
Pior ainda se, em tempo de guerra na Europa e no Mundo, a missão que lhes fora atribuída era precisamente patrulhar a passagem por águas territoriais portuguesas de um navio da Rússia referenciado pela NATO como de espionagem a cabos submarinos (nomeadamente para circulação de dados e informações cruciais, incluindo de natureza financeira, entre a Europa e a América).
Ora, encontrando-se o navio-patrulha da Marinha Portuguesa – o ‘Mondego’ – com problemas técnicos identificados e, portanto, a precisar de manutenção, mas tendo o comandante concluído que estava em condições para navegar com segurança e cumprir a missão de acompanhamento do navio russo ao largo da Madeira e do Porto Santo, é inconcebível a insubordinação dos quatro sargentos e nove praças.

A revolta dos 13 marinheiros, que abortou a missão, pode configurar crime, mas, como sublinhou o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, é desde logo um ato de indisciplina que põe em causa a cadeia de comando, subvertendo-a e atentando contra todos os princípios e regras de funcionamento da hierarquia das Forças Armadas Portuguesas.

Assim, e objetivamente, são as Forças Armadas que são postas em causa.
E, em última análise, é a autoridade do Estado que soçobra.

Comentador-mor da Nação, o Presidente Marcelo logo veio tentar pôr água na fervura, com um discurso condescendente para com os insubordinados, colocando a tónica no investimento na manutenção do equipamento das Forças Armadas – e nos navios da Marinha Portuguesa – e nada adiantando quando perguntado sobre se este fragiliza uma hipotética candidatura do almirante das vacinas nas próximas Presidenciais.

Marcelo não esconde nem consegue disfarçar que não morre de amores pela ideia de ser sucedido como Presidente da República por Gouveia e Melo.

Mas desengane-se quem pense que é com casos como este, de insurreição ou amotinamento, que se mina o caminho do almirante para Belém.

Por inerência constitucionalmente consagrada, o Presidente da República é o comandante supremo das Forças Armadas.

Não pode pactuar nem deixar de condenar liminarmente o comportamento dos 13 marinheiros que se recusaram a embarcar no ‘Mondego’ para assegurar o patrulhamento do navio de espionagem russo na sua passagem ao largo da Madeira e do Porto Santo. 

Independentemente de se verificarem alguns problemas técnicos e de ser real a necessidade de reparação de algumas avarias, o navio estava em condições de assegurar a missão, como testemunha o seu comandante, que tranquilizou a guarnição comunicando-lhe que abortaria de imediato a missão caso houvesse comprometimento da segurança do pessoal ou da própria embarcação.

Senhores, não é só a Ucrânia que está a ser atacada pelas tropas da Rússia de Putin, é a Europa e todo o mundo ocidental e da NATO.

Portugal até pode ser um dos países europeus cujo chefe de Estado continua sem ter ido a Kiev demonstrar a sua total solidariedade para com as tropas ucranianas que tão corajosa e estoicamente têm travado os avanços dos russos.
Mas não pode, em caso algum, demonstrar medo, vulnerabilidade ou cumplicidade com ações da Rússia – como acontece quando um navio de espionagem russo passa em águas territoriais portuguesas sem permanente e até ostensivo patrulhamento.

Fica muito mal, uma vez mais, aos olhos dos seus parceiros da NATO e do Mundo.

Num país que não defende a sua honra nem a soberania que lhe resta não é só preciso investir na manutenção do seu equipamento militar, por degradado que esteja; prioritário e fundamental é restaurar a autoridade perdida.
É por isso que, ao contrário do que já muito se escreveu, este lamentável caso não prejudica em nada uma eventual candidatura do almirante à Presidência da República. 

Bem antes pelo contrário, ajuda a cimentar a ideia de que, na bandalheira em que caímos, ter em Belém um militar com provas dadas numa situação de crise é a melhor vacina para repor a autoridade do Estado e defender a democracia de uma progressiva degradação.