Guimarães vitorioso como nunca

1968-69 continua a ser até hoje a época mais brilhante do Vitória de Guimarães que amanhã jogará na Luz frente ao Benfica pelas 18h.

Não são muitos os clubes que ao longo dos anos deste macrocéfalo futebolzinho português tiveram a capacidade se infiltrarem nos primeiros lugares e na luta pelo título. Em 1968-69 o Vitória de Guimarães tornou-se um deles ao terminar a prova em terceiro lugar, a melhor classificação dos vimaranenses até hoje, e apuraram-se também pela primeira vez para as taças europeias. Numa competição renhida como poucas os 36 pontos que empocharam ao longo das 26 jornadas permitiram-lhe deixar ficar atrás de si Vitória deSetúbal (35) eSporting (30, os mesmo que a Académica) e olhar para cima e ver o campeão Benfica a chegar ao fim com 39 pontos e o FCPorto com 37. Uma bela molhada, como se pode ver.

Só três derrotas sofridas (as mesmas que o Benfica sofreu), nas Antas (1-2), no Restelo face ao Belenenses (0-1) e nas margens do Nabão perante o União de Tomar (1-3). Em Guimarães, o Vitória foi absolutamente destrutivo fazendo do Municipal um castelo intransponível: Benfica (2-0), FCPorto (2-0), Vitória de Setúbal (1-1), Sporting (2-1), Académica (2-1), CUF (2-1), Belenenses (2-0), Varzim (4-2), União deTomar (3-0), Leixões (0-0), Braga (5-0), Atlético (1-0) e Sanjoanense (1-0). Um percurso de campeão.

Curiosamente este Vitória não tinha sido injetado com muitos reforços e mantinha basicamente a equipa da época anterior que se contentara com um sexto lugar. Muito provavelmente o nome mais sonante era o de Bilhó, um avançado angolano de impressionante estampa física. Por outro lado, Juca, um treinador que estabelecera em Guimarães um ambiente quase familiar viu-se obrigado a regressar a Lisboa tendo sido chamado para o substituir Jorge Vieira, um técnico brasileiro que chegou rodeado de excelentes referências. Seria ele um dos principais motivadores de um grupo que contava com jogadores como Costeado, Gualter, Daniel, Joaquim Jorge e Manuel Pinto, Zezinho, Mendes (o Pé Canhão), Manuel, Artur, Augusto, Vieira, Manafá e o capitão Peres, o mais experiente do conjunto.

Má estreia
Não se pode dizer que o início do campeonato tenha sido brilhante para oVitória que recebendo o Leixões, com uma equipa muito inferior, não conseguiu ir além do 0-0 a despeito da exibição ter agradado ao público sempre fervilhante do Municipal. Nenhum dos espetadores que estiveram presentes nessa estreia a 13 de Agosto de 1968 apostaria singelo contra dobrado como nos livros doTexas Jack que o Vitória se iria intrometer seriamente na luta pelo título de campeão nacional. Mas, oito dias mais tarde, na visita à Póvoa de Varzim, o turbilhão ofensivo das camisolas brancas destruiu a defesa do Varzim com uns concludentes 5-0. O ataque do vitória acabaria por ser, no final, o terceiro melhor do campeonato, com 46 golos marcados, apenas superado porBenfica (49) e Académica (48).

As coisas começaram a esquentar com a visita a Alvalade, para defrontar o Sporting, candidato natural ao título. Jorge Vieira montou um cerrado esquema defensivo que permitiu manter o nulo até final. Ficava provado que a equipa estava preparada para defrontar os grandes. E de que maneira. Depois de uma surpreendente e até chocante derrota clara em Tomar (1-3) era preciso levantar a cabeça e recuperar o ânimo. Jorge Vieira era um psicólogo nato. Entendeu que era preciso recuperar a ânsia de vitória. E assim, à 8.ª jornada. o FCPorto sofreu a bom sofrer em Guimarães, completamente dominado pelo seu adversário e podendo dar-se por satisfeito ao sair de lá com uma derrota curta – 0-2. Seguiu-se, na semana seguinte, um empate a zero no estádio daLuz.

O Vitória já não era mais uma surpresa e sim uma certeza. E de tal modo o era que depois de já ter batido em Guimarães o FCPorto quando recebeu o Sporting voltou a ganhar, agora por 2-1, tendo chegado ao 2-0. Jornada a jornada o campeonato aproximava-se do final. À 20ª jornada ocupava o primeiro lugar acompanhado por Benfica e FCPorto, todos com 29 pontos. Derrota nas Antas; vitória sobre o Benfica em casa. A derrota no Restelo (0-1), na 23.ª jornada, acabaria por ser fatal. Houve festa e rija. Mas não do título.