Passos Coelho, candidato às europeias?

A ideia não agrada a todos no PSD. Miguel Relvas, por exemplo, afasta liminarmente a hipótese: o regresso de Passos Coelho deverá ser nas presidenciais de 2026 e o seu papel na política não é ‘servir de lebre a Montenegro’.

Passos Coelho, candidato às europeias?

por Maria Castela

É um cenário que ganha cada vez mais credibilidade junto da direção de Luís Montenegro. O ressurgimento dos rumores sobre o regresso de Pedro Passos Coelho nas últimas semanas, depois de ter participado no jantar dos dez anos do Senado (um grupo de formação política para jovens de direita e centro-direita), imprimiu uma nova urgência ao núcleo de decisão estratégica do líder social-democrata.

A ideia de desafiar Passos Coelho para liderar a lista do PSD às europeias já tinha sido aflorada por alguns sociais-democratas próximos da direção, mas na altura surgiu como um cenário fantasioso e com poucas pernas para andar. Esta semana, um dos defensores da ideia confirmou ao Nascer do SOL que o tema regressou ao centro das discussões estratégicas, mas agora, garante, «aumentou a vontade da direção» em ponderar o cenário. Para isto contribui a ideia de que «Passos Coelho pode ser um ativo ou um fantasma» para a atual direção do partido. «Se não for colocado no quadrado certo torna-se uma sombra» para a liderança de Luís Montenegro, acrescenta a mesma fonte.

O problema que pode atrapalhar este cenário é mesmo deixar passar muito tempo. Dar espaço à especulação de cenários prejudica a iniciativa do partido e ao mesmo tempo dá espaço a que Passos Coelho seja influenciado pelos mais próximos em sentido contrário. De facto, alguns dos mais próximos do ex-líder social-democrata não simpatizam com a ideia de uma candidatura ao Parlamento Europeu (PE). É o caso de Miguel Relvas, que considera que o papel de Passos Coelho não é o de «servir de lebre a Montenegro». O antigo ministro considera que Passos Coelho deve apostar tudo numa candidatura presidencial, que, acredita, será uma candidatura ganhadora. Já os que defendem a opção de que o antigo líder encabece a lista ao Parlamento Europeu argumentam que «a prioridade neste momento não são as presidenciais até porque se pode não chegar lá. Se o PSD perder as europeias o combate das legislativas está perdido. Devemos jogar com tudo o que temos e Passos Coelho é a melhor arma».

Por outro lado, com a vitória nas eleições de 2024, acreditam estes social-democratas que se consegue um duplo efeito: não só garantir uma vitória eleitoral como dar uma machadada na dinâmica de crescimento do Chega. Já a fazer contas para as legislativas, o PSD encara as eleições do próximo ano como uma primeira volta que poderá ditar uma alteração de calendário político no país. E, se isso não acontecer, pelo menos a atual direção ganha uma dinâmica de vitória que lhe garante a sobrevivência e um folego redobrado para o resto do caminho.

Quanto ao prestígio de Passos Coelho, mais uma vez dividem-se as opiniões. Os que preferem uma candidatura presidencial, acham que a ideia de propor o ex- -primeiro-ministro ao Parlamento Europeu ofende a carreira do político. Os que têm a posição oposta, sublinham que há muitos exemplos na Europa que desmentem a tese de que o PE diminua ou dificulte o percurso político de quem opta por Bruxelas. «Em Portugal temos o exemplo de Mário Soares, mas há outros em toda a Europa». O lugar em Bruxelas, acreditam, é um lugar que mantém todas as portas abertas, «até Belém».

Cenários fantasiosos

Numa coisa a direção do PSD e os mais próximos do antigo primeiro-ministro estão de acordo: todos estes cenários são pura especulação e não têm qualquer fundamento. 

Oficialmente, fonte da direção social-democrata garante que o tema europeias não está em cima da mesa e que «neste momento não há qualquer decisão ou pré decisão sobre quem vai encabeçar a lista ao PE». 

E quanto a Passos Coelho, dizem os amigos próximos, não tem planos definidos, está focado em dar aulas, em garantir o acompanhamento da filha menor e talvez nem queira voltar à política. Certo é que não se deixará influenciar pelas alfinetadas que o Presidente da República lhe vai dando pontualmente, garantem. Diz quem o conhece que será ele e só ele a decidir se e como quer voltar à política e as notícias que vão sendo postas a correr nada têm a ver com a ação do próprio, que, para já, se mantém fiel ao que sempre fez desde que saiu da liderança do PSD: distante mas atento.

O que vai na cabeça do antigo primeiro-ministro é um segredo que o próprio não partilhou com ninguém, a fazer fé nos que têm privado com ele.