Intersindical. Da primeira reunião ao Congresso de todos os sindicatos

Da primeira sessão de trabalho na sede dos Bancários do Sul e Ilhas, em Lisboa, passando pelo apoio à Revolução dos Cravos e outros  momentos-chave, a Intersindical viveu intensamente os anos 70.

Nos primórdios conhecida como Intersindical – e só em 1977 apelidada de CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses) –, resulta da união das direções do Sindicato Nacional dos Caixeiros do Distrito de Lisboa, do Sindicato Nacional do Pessoal da Indústria dos Lanifícios do Distrito de Lisboa, do Sindicato Nacional dos Técnicos e Operários Metalúrgicos do Distrito de Lisboa e do Sindicato dos Empregados Bancários do Distrito de Lisboa, que convidaram, em 29 de setembro de 1970, outras direções sindicais para “comparecerem numa sessão de trabalho para estudo de alguns aspetos da vida sindical cuja discussão lhes parece da maior oportunidade”, na sede dos Bancários do Sul e Ilhas, na Rua de S. José, em Lisboa.

Contudo, “tendo como princípios a unidade, a democracia, a independência, a solidariedade e o sindicalismo de classe e de massas”, a CGTP, para além de ser influenciada pelo Partido Comunista Português (PCP), tem traços de organizações como a Liga Operária Católica e a Juventude Operária Católica. Como é possível ler no site oficial da confederação sindical, a ordem de trabalhos proposta para a primeira reunião intersindical “reflete, desde logo, uma conceção de sindicalismo que não separa a resolução dos problemas dos trabalhadores da luta pelos direitos e liberdades democráticas fundamentais”, sendo que entre as questões “da maior oportunidade” que foram propostas para estudo constaram o decreto-lei nº 49 212 (contratação coletiva), o horário de trabalho, a censura e a liberdade de reunião. Por outro lado, “no dia 11 do mesmo mês, realizou-se em Lisboa a primeira Reunião Intersindical com a presença de 13 direções sindicais” e “iniciava-se assim o movimento das reuniões intersindicais”.

No ano seguinte, a 21 de março de 1971, deu-se a aprovação do Programa Básico da Intersindical, documento através do qual foi reivindicada a liberdade sindical, o direito de livre negociação e o direito à greve. Volvidos três anos, quando o Estado Novo caiu, “desde a primeira hora, a Intersindical manifesta o seu apoio e encabeça o processo de democratização, através da destituição das direções corporativas dos ‘sindicatos nacionais’ e da eleição de novas direções pelos trabalhadores”, sendo que “o aparelho corporativo acabou por ser desmantelado em poucos dias”.

Em 1977 – um ano antes da concentração dos trabalhadores das empresas com salários em atraso junto ao Ministério do Trabalho –, ocorreu o Congresso de Todos os Sindicatos, em Lisboa, estando presentes 1147 delegados, em representação de 272 sindicatos, 13 federações e 17 uniões. “Apesar da alteração da correlação de forças com os acontecimentos do 25 de Novembro – diziam as conclusões do Congresso –, a Constituição veio institucionalizar o Estado democrático em transição para o socialismo” e a CGTP lembra também que o “II Congresso foi o grande congresso da unidade e consolidou a CGTP-IN como a grande central unitária dos trabalhadores portugueses”.

Ao longo dos anos, em termos de chefia, e como o DN destacou no artigo “CGTP-Intersindical faz 50 anos. A central que nasceu do casamento mais improvável”, Armando Teixeira da Silva foi reconhecido como o primeiro dirigente que deteve oficialmente o título de coordenador da central (no período compreendido entre os anos de 1977 e 1986). No entanto, órgãos de informação, à época, noticiavam que a Intersindical havia sido primeiramente liderada por Francisco Canais Rocha – foi preso pela PIDE, pela segunda vez, em 1968, e libertado somente em 1973 –, um operário que chegou a historiador e viria a morrer em 2014, aos 84 anos.