Restauros polémicos: alguns dos casos mais desastrosos e mediáticos

De Espanha ao Brasil, passando pelo Canadá, pela China e por Itália, não faltam exemplos de restauros cujo resultado final foi tudo exceto o esperado. Recordamos cinco casos das últimas décadas que ainda não foram esquecidos. 

Virgem Imaculada
Em Valência, uma cópia da Virgem Imaculada de Murillo tem vindo a dar que falar e já é conhecida por ‘Ecce Homo valenciano’, devido às suas parecenças com o resultado do restauro da obra que viria a ser denominada de ‘Macaco Cristo’. “Como se observa na fotografia, a obra sofreu duas restaurações. Tudo começou quando um colecionador valenciano decidiu restaurar a obra. Não foi a única que restaurou, pagando um total de 1.200 euros. Quando o restaurador de móveis lhe devolveu a peça, o proprietário observou que a obra estava desfigurada. Claro, a sua aparência não tinha nada a ver com a original. «A nova Virgem era muito semelhante ao Ecce Homo de Cecilia Giménez», narra o blogue Totenart, sendo que quando o proprietário da obra pediu explicações, o suposto restaurador fez a segunda intervenção, cujo resultado foi… ainda pior que o primeiro. Ao confiar num restaurador de móveis para restaurar uma obra de arte… Podemos dizer que o proprietário se esqueceu das especificidades da Conservação e Restauro. 

Menino Jesus 
Uma escultura de argila, feita à mão, da cabeça do menino Jesus, que foi adicionada a uma estátua partida do lado de fora de uma igreja católica no Canadá provocou diversão e deceção. «Por quase uma década, uma estátua de pedra branca de Maria e do menino Jesus ficou do lado de fora da igreja católica Ste Anne des Pins, no centro de Sudbury. Às vezes, vândalos tinham como alvo a estátua, deixando a cabeça do menino Jesus a rolar no chão próximo. Há cerca de um ano, a cabeça do menino Jesus foi arrancada novamente. Desta vez, ao que parece, os vândalos levaram-na com eles», noticiava o The Guardian em 2016, explicando que a estátua ficou sem cabeça durante meses enquanto o padre da igreja, Gérard Lajeunesse, perguntava às empresas locais o que poderia ser feito. A resposta era sempre a mesma: poderia ser feita uma nova por milhares de dólares. Foi aí que a artista local Heather Wise entrou em ação, sentindo-se ‘magoada’ com aquilo que via e, assim, deu vida a uma nova interpretação da imagem.

Santa Bárbara ou Santa Barbie
«Ao longo de 200 anos, a imagem foi sendo pintada e repintada. Na fase de decapagem, [os restauradores] descobriram que em alguns pontos tinha três ou quatro camadas de tinta, e aí tentou-se chegar à pintura original, de quando a imagem chegou ao Brasil», afirmou o major Migon, oficial do Exército, que detém a propriedade da capela e da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói, no Brasil, em 2012, dias depois de o historiador Milton Teixeira – que fotografa a imagem há mais de 30 anos – ter denunciado publicamente o trabalho, que considerou mal conseguido. O problema? Há quem tenha dito e continue a dizer que Santa Bárbara – invocada como protetora por ocasião de tempestades, raios e trovões, dando origem à expressão “Só se lembram de Santa Bárbara quando troveja” – parece… a Barbie.

Dinastia Qing 
Estes frescos foram repintados para torná-los mais visíveis no templo budista de Yunjie, em Chaoyang, na China, em 2013, quando as imagens originais estavam a desaparecer. No edifício, um templo construído há 270 anos na cidade de Chaoyang, os antigos frescos foram completamente cobertos com pintura nova, representando personagens pintadas com cores berrantes. O resultado? Os funcionários responsáveis pela proeza foram despedidos. As autoridades da província de Liaoning afastaram das suas funções o responsável pelo templo e o responsável pela gestão do património da cidade, segundo o jornal Global Times. «Como residente de Chaoyang, acredito que aqui existem algumas pessoas que merecem um transplante de cérebro», terá dito, inclusivamente, um morador da cidade àquele órgão de informação.

Jessé 
É uma figura descrita na Bíblia como o pai de Davi, que se tornou o rei dos israelitas, mas a verdade é que o seu restauro, na Capela Sistina, tem dividido completamente opiniões no mundo da arte. Tanto Jessé como Daniel, assim como outras personagens retratadas por Miguel Ângelo, Ghirlandaio, Perugino e Botticelli, entre outros artistas italianos de extrema importância, levam a que muitos apontem falhas estruturais aos restauros: principalmente, o desaparecimento de detalhes como ornamentações na arquitetura que emoldura as cenas, pregas nos mantos e o modelado dos corpos e das sombras, resultando em planos mais achatados e anulando parte do efeito escultórico da pintura. No caso de Jessé, são os olhos, agora considerados deformados, que mais incomodam os críticos.