Que sentido fazem estas greves?

o que vemos é serem ‘patrões’ dos ‘funcionários públicos’ os membros dos governos. São eles, em última instância, quem os emprega e desemprega, quem lhes paga, quem os organiza e dirige. Com uma assinalável diferença: o dinheiro com que gerem o Estado, não é deles, não lhes doe se a População for mal servida.

por António Maria Coelho de Carvalho
OCA reformado

Nunca na minha vida de trabalhador aderi a greves. Não admira, porque nasci e vivi no Estado Novo até aos 46 anos e, em 1974, eu já não acreditava muito na ‘democracia socialista’ que se anunciava com a Revolução.

Com a agonia e morte da MDF, tive que deixar Tramagal para ganhar dinheiro que ajudasse a manter a família nessa altura já enriquecida com 4 rapazes e 3 raparigas. Valeu-nos uma amizade, que felizmente perdura, de um engenheiro que me abriu as portas da INDEP, uma empresa do Estado que fabricava armas ligeiras e munições para vender ao Irão e ao Iraque, nessa altura em guerra.

Para colmatar a minha ignorância do ‘b a, ba’ da política e poder enfrentar as comissões de trabalhadores, comunistas, que faziam o seu papel no PREC, filiei-me na FDT. Uma organização financiada pela Fundação Conrad Adenauer, FDT que depois se apagou, julgo eu para a fundação alemã apoiar o CDS. Lembro-me de que uma das lutas que a FDT tinha como bandeira era ‘o direito à greve pelos funcionários públicos’. Achei estranho os funcionários públicos terem que lutar pelo direito à greve. Na Alemanha fazia sentido? Era só receio da FDT de que isso fosse previsível no Portugal em construção? Agora pouco interessa. A vida foi-me moldando o pensar e o sentir e hoje já não tenho dúvidas: as greves que afetem serviços prestados pelo Estado na Saúde, na Justiça, na Educação, nas Finanças nos Transportes e na Assistência Social devem ser substituídas por outras formas de luta.

Quem me conhece, ou julga conhecer pelo que escrevo, já estará a pensar: ‘Lá está o tipo a ter saudades do tempo em que não havia greves…’. Confesso que tenho saudades, mas só quando comparo o Estado Novo com o estado a que ISTO chegou…não por causa das greves.

O movimento grevista é um fenómeno social muito recente na história da humanidade. Terá nascido com a Revolução Industrial, no século XIX, principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, os primeiros países a industrializarem-se e onde os trabalhadores, sem leis que os protegessem, reagiram com greves à exploração dos patrões, traduzida em baixos salários, duração e condições de trabalho desumanas e sem garantias de sobrevivência quando deixassem de poder trabalhar. Foi, também, por estas alturas que os patrões ’descobriram’ o Futebol para entreterem e apaziguarem a classe operária… Também nasceram então os sindicatos para organizarem as lutas e ganharem peso na defesa das leis que iam aparecendo para proteger os trabalhadores.

Os patrões, há 100 anos, sentiam direta e rapidamente que as greves lhes roubavam lucros porque, não produzindo, a fabrica não podia vender e não vendendo o suficiente não entrava dinheiro para suportar os custos e ter margens de lucro que lhes permitissem ganhar dinheiro.

Hoje, o que vemos é serem ‘patrões’ dos ‘funcionários públicos’ os membros dos governos. São eles, em última instância, quem os emprega e desemprega, quem lhes paga, quem os organiza e dirige. Com uma assinalável diferença: o dinheiro com que gerem o Estado, não é deles, não lhes doe se a População for mal servida.

Dir-me-ão os políticos profissionais em regimes mais ou menos democráticos: «Nós somos julgados em eleições onde a população nos pode premiar ou castigar…». Digo eu, com algum cinismo: ‘Se mantiverem o povo ignorante e o enganarem com Propaganda semelhante à de Goebells, podem ganhar novamente eleições, talvez com maiorias absolutas, e voltar a desgovernar o país’. Haja quem procure uma alternativa a estas greves que só servem para mais empobrecer Portugal, amargurar e complicar a vida do Povo e desviar o seu azedume dos membros do Governo para os trabalhadores em greve.

Atendendo aos malefícios da hegemonia da ‘partidarite’ e do facto de uma das clivagens que nos dividem ser uns quererem mais Estado, outros menos Estado, arrisco uma sugestão: emendar a Constituição para que nela conste um referendo, promovido pelo PR, em que se pergunte ao eleitorado se está satisfeito com o Governo. Se houver uma abstenção superior a 60 % ou um ‘NÃO’ superior a 50 % o PR formará um Governo de Salvação Nacional, que dentro de determinado período, poderá usar todos os recursos disponíveis, do Estado e de particulares, para satisfazer as necessidades prementes.