Costa ou um ícaro sobrevivente?

O Governo de António Costa encontra-se em pedaços, arrastando cruelmente consigo as aspirações e esperanças dos portugueses e adiando, uma vez mais, o progresso do país.

Por Nuno Paiva Brandão, Gestor

Diariamente, as imagens televisivas testemunham a enorme fadiga gerada no país, pelas políticas do Governo. Os rostos dos professores nas manifestações maciças por todo o país, os vultos das pessoas apinhadas nos escassos comboios disponíveis, durante os sucessivos dias de greve na CP, e as expressões de desalento dos pais de crianças, esperando e desesperando em urgências pediátricas lotadas ou encerradas, são alguns dos exemplos que traduzem o cansaço existencial dos portugueses, com as políticas e a ineficiente gestão pública deste Governo. Além do enorme peso das situações em si, dos professores que não alcançam o merecido reconhecimento pelo seu trabalho, dos estudantes que perdem semanas de aulas, dos portugueses que não podem deslocar-se no seu quotidiano, e dos utentes mal servidos pelo SNS, há a terrível sensação que nada disto melhora, que as anomalias se banalizam e que o Governo continua a espremer as classes médias e a arrastar a sociedade para o fundo.

O resultado eleitoral do PS, com a sua inesperada maioria absoluta, reforçou, desde o início da nova governação, um impulso para o absoluto, empurrando mais e mais, uma e outra vez, os preconceitos ideológicos até ao limite. Na Saúde, a hostilidade para com o setor privado, e a incapacidade da gestão pública, mantém mais de 1,4 milhões de portugueses sem médico de família e pereniza listas de espera inaceitáveis. Na TAP, o insensato processo de nacionalização, agora em reversão, custou a despropositada soma de 3,2 mil milhões de euros. As convicções ideológicas do Governo nesta situação, equivaleram a colocar 1 milhão de euros, em cada um dos marcos hectométricos (de 100 em 100 metros), na autoestrada Lisboa-Porto! Na política fiscal, e ao contrário do que aconselham diversos peritos (recentemente, a SEDES e Carlos Tavares na AEP), a recusa ideológica em reduzir a taxa de IRC e em eliminar a derrama estadual de IRC, refreia o investimento privado, trava o aumento da produtividade e, consequentemente, limita o crescimento económico. Na política habitacional, o peso ideológico expressou-se no recente pacote de medidas, através do aumento da carga fiscal sobre o Alojamento Local (AL) e da tristemente famosa medida de expropriação do usufruto de imóveis privados.

Como é possível, afirmar-se aspirar ao crescimento económico, à melhoria das condições de vida dos portugueses e, simultaneamente, condená-los a queimar a sua energia vital em semanas de luta por reivindicações justas, em esperas improdutivas por comboios que não circulam, ou em demoras que se eternizam nos serviços de saúde?

Infelizmente, os fracassos do Governo, somados à sua obstinação ideológica, não afetam apenas a sua reputação e a do PS. Esses falhanços infiltram-se na sociedade, castigam os cidadãos, em especial as classes médias, e minam a confiança dos portugueses, num momento em que Portugal vai ter os recursos necessários para dar um salto no seu nível de desenvolvimento.

Na atualidade, se há um juízo de valor incontornável, é que o Governo, em vez de ter uma ambição de crescimento económico, está a desperdiçar a energia produtiva dos portugueses, conduzindo-os para situações de desespero, de apatia, ou para becos sem saída. Hoje, se há uma ideia dominante na sociedade portuguesa, é que os casos à volta de um Governo dilacerado não cessam, que as políticas públicas ineficientes e com carga ideológica permanecem nos setores que mais afetam a vida da população e que, consequentemente, já não existe esperança nem confiança no futuro.

A situação do Governo de Costa, 14 meses depois da sua maioria absoluta, pode ser expressa através de uma analogia, que foi apresentada por uma filósofa francesa, nos anos noventa do século passado. Ela imaginou o estado em que Ícaro teria ficado, se tivesse sobrevivido à queda. A maioria absoluta, levou António Costa a um estado de arrogância, que alcançou o seu pináculo no momento da entrevista à Visão. Ora nessa circunstância, também Costa parecia pensar alcançar o sol. Tal como a Ícaro, o voo fê-lo regressar à terra vertiginosamente, mas, como na analogia criada, Costa ainda sobrevive entre escombros metafóricos e reais.

É aí que se encontra o seu Governo em pedaços, arrastando cruelmente consigo as aspirações e esperanças dos portugueses e adiando, uma vez mais, o progresso do país.

Na conferência de imprensa sobre a TAP, o Governo, pela boca de um notoriamente inseguro Fernando Medina, veio incessantemente falar em ‘virar a página’. Mas o que o país necessita, é de um livro diferente, escrito por um autor bem distinto. Provavelmente, por alguém de um outro calibre que, sem estar agora em funções partidárias, anda por aí.