A intifada da geração mimada

A geração Z – a infeliz coincidência com a tropa russa não passa disso mesmo – tem todo o direito de querer trabalhar menos do que os pais e de ter mais tempo para os prazeres da vida. Nada contra, desde que não sejam aqueles que trabalham que tenham que ‘pagar’ essa nova forma de…

A manifestação ‘Casa para Viver’ decorreu tranquilamente, com várias reportagens a darem conta de casos de pessoas que estão numa situação muito complicada, havendo até o testemunho de um homem de 81 anos que está em vias de ser desalojado, pois não consegue acompanhar o aumento da renda que lhe foi exigido. De uma forma pacífica, e até com alguma imaginação, os milhares de manifestantes foram dizendo de sua justiça. Até que entraram em ação os meninos da geração mimada, que mais não são do que uns copiadores baratos do que se passa em França. Se há uns meses se ficou a saber que alguns dos meninos e meninas que se colavam ao chão e a obras de arte, atirando sopas e afins para o que estava exposto, tinham recebido treino para enfrentar a Polícia, já alguns dos que estiveram no Martim Moniz devem ter estagiado em Paris nos últimos tempos. Por isso, atiraram com tinta para montras, além das motos da PSP que foram o alvo da rapaziada. Mas o mais curioso, e que revela bem os tiques de festa revolucionária, foi a quantidade de garrafas de cerveja que atiraram contra os polícias, ficando depois muito escandalizados quando o Corpo de Intervenção entrou em ação. Se a Polícia tivesse tido um comportamento abusivo, não faltariam imagens desse comportamento, mas o que se viu foi os jovens mimados a fazerem a sua intifada com as garrafas de cerveja que tinham bebido. Calculo que nenhum terá perdido a cabeça e tenha atirado a garrafa ainda com líquido. Era um desperdício, seguramente. Depois dos desacatos até houve concertos e a festa continuou. A geração Z – a infeliz coincidência com a tropa russa não passa disso mesmo – tem todo o direito de querer trabalhar menos do que os pais e de ter mais tempo para os prazeres da vida. Nada contra, desde que não sejam aqueles que trabalham que tenham que ‘pagar’ essa nova forma de estar.

A propósito da carga policial, lembrei-me das vezes que tive de fugir ao Corpo de Intervenção, chamado Polícia de Choque, nos concertos no Dramático de Cascais. Sempre que algum bêbado atirava uma pedra ou garrafa aos polícias, estes varriam tudo o que estava à frente e foram muitas as vezes que até entraram na Igreja para apanhar os que tinham fugido para lá. Longe vão, felizmente, esses tempos do famoso coronel Coimbra. Agora parece que estamos a viver o contrário, o que também não deixa de ser anedótico. Quem vai à guerra deve estar preparado para dar e levar, e não para fazer queixinhas. Mas a geração mimada gosta disso, de queixinhas.

O que se tem passado na comissão de inquérito à TAP tem ultrapassado tudo o que poderíamos imaginar. Pedro Nuno Santos aparece como o grande aldrúbias, como se dizia nos Olivais, e será difícil prever-se algum futuro político ao enfant terrible do PS. Embora muitos lhe tenham feito o funeral, Pedro Nuno Santos tem a vantagem de ter à sua volta uma espécie de fiéis, que olham para o antigo ministro das Infraestruturas como os católicos olham para o Papa. Há uma devoção clara da parte mais esquerdista do PS. Mas não é só Pedro Nuno Santos que sai mal do retrato, pois o Governo sai de rastos e será difícil João Galamba manter-se no_Executivo. Sempre fui contra eleições antecipadas, pois os partidos são eleitos para quatro anos, e acho que as eleições europeias não podem servir de barómetro, mas esta equipa de António_Costa deve ter feito uma aposta para ver quem faz pior. É uma vergonha para o país ouvir que tem sido dito. Até parece que estamos perante um grupo de artistas, que se julga acima da lei. Ah! A carta do antigo secretário de Estado das Infraestruturas à CEO da TAP revela, verdadeiramente, o que o Governo pensa de Marcelo. «Uma frase dele contra a TAP ou o Governo e ele empurra o resto do país contra nós. Não estou a exagerar. Ele é o nosso principal aliado político, mas pode transformar-se no nosso maior pesadelo».

vitor.rainho@sol.pt