Médica do Hospital de Faro denuncia três mortes de doentes resultantes de negligência médica

Diana de Carvalho Pereira apresentou queixa do ex-orientador de formação e do Diretor do Serviço de Cirurgia do hospital. 

A médica interna Diana de Carvalho Pereira, que trabalha no Hospital de Faro, apresentou uma queixa na Polícia Judiciária, à Ordem dos Médicos, à Entidade Reguladora da Saúde e à Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) contra o seu ex-orientador de formação e contra o Diretor do Serviço de Cirurgia daquele hospital por vários casos de erro e negligência médica ocorridos entre janeiro e março deste ano. 

Através da sua rede social Instagram, a interna explica que reportou 11 casos de negligência, sendo que, em três deles os doentes morreram e em dois os doentes estão internados nos cuidados intermédios. "Os restantes tiveram lesão corporal associada a erro médico, que variam desde a castração acidental, perda de rins ou necessidade de clostomia para o resto da vida", escreve, adiantando ainda que um dos doentes esteve uma semana com compressas no abdómen. 

Na publicação, que já se tornou viral, Diana não revela nomes mas diz que, além do médico em causa, o Diretor do Serviço também é "chefe da sua ex-equipa" e que lhe disse que ela era "uma interna do primeiro ano" e que, por isso, não tinha que opinar. 

"Ele conhece os casos das queixas e não decidiu fazer queixa ou afastar o cirurgião em causa. É portanto, conivente com os atos e foi também, pelo mesmo motivo, alvo das queixas", escreveu ainda, contando que já foi alvo de represálias:

"Inventaram uma história para me difamar junto ao hospital inteiro. Alegam insanidade, quando a minha queixa é referente a atos clínicos, baseada em provas com meios complementares de diagnóstico e relatos cirúrgicos. Alegam insanidade. Eu nunca fui um perigo para nenhum doente, ao contrário deles".

 

 

A médica relatou ainda ter sido escalada para turnos de 24 horas sem lhe perguntarem se concordava, ter trabalhado horas a mais, e sem pausas, "fruto até de ser hiperativa", tendo por isso sido alvo de "chacota" por parte dos seus superiores. Diz ter sido "posta em causa vezes sem conta, tanto por chamar "colega" à telefonista como por gostar dos doentes e tentar ser simpática com eles".

Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, confirmou, em declarações ao Notícias ao Minuto, a denúncia da interna, com quem diz manter-se "em permanente comunicação". 

"Comunicámos as informações a várias entidades, nomeadamente ao Ministério Público, à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), ao Ministério da Saúde e ao próprio hospital, a quem pedimos explicações", adiantou.

O bastonário afirma que as "denúncias têm de ser verificadas, mas têm contornos de grande gravidade", admitindo, contudo, que não tem conhecimento de mais nenhuma queixa do mesmo âmbito daquele hospital.