Celebrar a diversidade

A recusa da diversidade acentua-se mesmo quando a diversidade marca cada vez mais o mundo. É preciso sair da duvidosa tolerância que nos faz tolerar o intolerável – recusar o que mais trilha na condição de humano – o ser diverso.

Por Hélia Bracons 

[Fazei] com que as pequenas diferenças entre os nossos trajes, entre as nossas insuficientes linguagens, entre os nossos estranhos e diferentes usos, entre as nossas imperfeitas leis, entre as nossas insensatas opiniões, [fazei] com que todas essas pequenas matrizes que distinguem os átomos chamados humanos, não sejam sinal de ódio e perseguição» (Voltaire, Tratado sobre a tolerância).

O mundo que vislumbramos não é com frequência motivo de regozijo. É provável que o desaparecimento de marcas de referência habitual, a revisão de ordens de coisas que pareciam eternas, favoreçam o recrudescimento de numerosos extremismos. As manifestações de recusa e exclusão multiplicam-se: algumas são abertamente irracionais, outras mais disfarçadas invadem o discurso público.

A recusa da diversidade acentua-se mesmo quando a diversidade marca cada vez mais o mundo. É preciso sair da duvidosa tolerância que nos faz tolerar o intolerável – recusar o que mais trilha na condição de humano – o ser diverso.

 

Porque, afinal, a diversidade é a marca distintiva da humanidade e que lhe dá a sabedoria necessária para esclarecer o mundo. Pensar a humanidade na sua diversidade é, na verdade, um trajecto semeado de escolhas que exige a abertura de uns e outros face à alteridade. A diversidade é omnipresente nas concepções e soluções de vida ao longo dos tempos; enriquece os nossos valores e é indissociável do quotidiano nos modos como nos relacionamos e conhecemos, como usamos os espaços, na forma como nos alimentamos ou como valorizamos o nosso corpo. Tudo aquilo que, confundindo, impede uma uniformidade desesperante de invadir o planeta.

 

Mais, ao aceitar a diversidade, não escolhemos a diferença, somos solicitados por ela. Espantemo-nos pelo novo e pelo diferente. Como diz Tolentino Mendonça, o espanto permite «um olhar aberto, longo e profundo ao que causa admiração, estranheza, surpresa e assombro», mas também alegria, afecto e aprendizagem. Tudo se mistura no exercício da diferença.

 

Tudo isto vem a propósito do Dia Mundial do Serviço Social, que este ano tem como tema ‘Respeitando a diversidade através da ação social conjunta’. Não se trata apenas de afirmação de tradição de convivência mas da evidência do presente. O Serviço Social é, sem dúvida, uma profissão que faz a diferença na vida das pessoas e o trabalho com pessoas, grupos e comunidades oriundas de outras culturas, implica, cada vez mais, por parte dos assistentes sociais, uma acção orientada e uma habilidade necessária para interactuar em situações de diversidade, celebrando as diferenças, com sensibilidade, respeito e compromisso.

 

*Diretora da Licenciatura 

em Serviço Social

Universidade Lusófona 

Centro Universitário de Lisboa