Porno-sociologia

Boaventura Sousa Santos e Bruno Sena Martins são tratados como predadores sexuais e o CES um antro de hipocrisia não muito diferente de alguns círculos da Igreja Católica…

O Centro de Estudos Sociais de Coimbra, o seu diretor emérito Boaventura Sousa Santos e o seu putativo sucessor Bruno Sena Martins estão no centro de um escândalo sexual como já não acontecia desde os vídeos do arquiteto Taveira. Num livro titulado Sexual Misconduct in Academia, os dois investigadores são acusados de assédio sexual e o CES é acusado de encobrimento desses abusos. As autoras afirmam relatar as suas experiências pessoais, além das de outras mulheres que também foram vítimas de idênticos abusos e do mesmo silenciamento por parte do CES quando tentaram denunciar o sucedido.

Segundo as autoras, Boaventura Sousa Santos e Bruno Sena Martins – tratados como o Professor Estrela e o Aprendiz – tinham o hábito de convidar as doutorandas que estavam sob sua orientação para jantar fora, tentar embebedá-las e depois levá-las para as suas casas. Ou então, para irem direito ao assunto, convidavam-nas logo para as suas casas. Os convites eram justificados como trabalho académico. Algo semelhante ao que no meu tempo se chamava ir ‘estudar para casa de um amigo’. A diferença é que nunca íamos estudar para casa de amigas, nem os pais das amigas as deixavam vir estudar para a nossa casa, nem tão-pouco se ofereciam bebidas alcoólicas a ninguém. A semelhança é que havia de facto um amigo que tinha umas revistas com doutorandas em atos íntimos de trabalho académico com orientadores – um grande contributo da Sociologia para a libertação da mulher.

As autoras afirmam ainda que as mulheres que recusavam as manobras de sedução sociológicas sofriam represálias dos sedutores falhados que lhes destruíam a sua carreira académica. Teses chumbadas e ostracismo no meio sociológico. Ou seja, estavam arrumadas e mais valia mudarem de profissão.

Os visados negaram as acusações. Porém, dias depois a antiga investigadora brasileira Bella Gonçalves garante que um dos casos de assédio no livro é a sua própria experiência enquanto esteve em Coimbra. E Moira Millán, ativista mapuche argentina, acusa também Boaventura Sousa Santos de a tentar violar no seu apartamento.

O caso parece inadmissível e criminoso. Boaventura Sousa Santos e Bruno Sena Martins são tratados como predadores sexuais e o CES, onde decorrem estudos feministas, contra o patriarcado e o  colonialismo, um antro de hipocrisia não muito diferente de alguns círculos da Igreja Católica. Contudo, à luz dessa ciência tão exata e objetiva como é a Sociologia pode ser explicado.

Vejamos, no livro é afirmado que «certa vez, o Aprendiz convidou os alunos para uma festa em sua casa. Rindo, disseram que ele provavelmente estava a planear uma orgia». Isto parece indicar que os alunos do Aprendiz já associavam a sua casa a um lugar de sexo sociológico. E, se fosse verdade? Se a Sociologia é a ciência que estuda o comportamento das massas e a interação entre os indivíduos, faz todo sentido que o sexo em grupo seja um dos objetos do seu estudo. O sexo com apenas duas pessoas é para a Direita reacionária e preconceituosa. Ora como o CES é um viveiro de ideias de Esquerda, apenas uma orgia com homens, mulheres e transexuais – e eis uma falha grave do Aprendiz –, com todos à molhada, cantando a Internacional entre gemidos e orgasmos, faria sentido. Portanto, como nas universidades portuguesas ainda perduram resquícios salazaristas que proíbem o sexo nas aulas, a intenção do Aprendiz poderia ser a de promover um trabalho de campo num local adequado. Se calhar, perdeu-se um grande estudo sociológico que, na linguagem rococó da Sociologia, poderia ser chamado Libertador, Emponderador, Pornográfico e  Giro: O Sexo Entre Orientadores e Doutorandas.

Também pode ser explicado o caso de Bella Gonçalves que abandonou Portugal e mudou de orientador por Boaventura Sousa Santos, depois de a levar para a sua casa e lhe tocar num joelho, a convidar a ‘aprofundar o relacionamento de ambos’ como ‘troca’ pelo seu apoio académico. Para tal, basta recordarmos o filme Dr. Strangelove onde o referido cientista louco se debate com uma mão que não lhe obedece e desata a fazer saudações a Hitler. Ora, e se estivéssemos perante um joelho semelhante que, num impulso de estranho amor, se lançou contra a mão casta do Professor Estrela? Portanto, estaríamos perante um dilema parecido com o ‘mão na bola’ ou ‘bola na mão’ do futebol. Assim, é imprescindível que sejam integrados na Comissão de Inquérito aos abusos alguns comentadores de futebol porque mais ninguém poderá ajuizar corretamente se foi mão no joelho ou joelho na mão.

Em suma, tudo isto só prova que o CES está a fazer um excelente trabalho que rompe com os preconceitos neoliberais e abre novos horizontes às alunas. E não são as feministas que ficaram caladas e os  que já não pintam os lábios que devem ser criticados, mas sim as investigadoras estrangeiras que não reúnem aptidões suficientes para chafurdar na Porno-Sociologia.