A Bíblia do Governo é a mentira

A mentira tornou-se a verdade oficial do Governo de António Costa – pelo menos em alguns gabinetes. 

Um grande filósofo português disse um dia que «o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira». Pimenta Machado era presidente do Vitória de Guimarães e queria com essa frase desmentir a notícia de um suposto despedimento do treinador de então. À luz de hoje, Machado pode ser considerado um visionário. De certeza que em 1987 não imaginava que a sua frase se ia tornar na máxima de um Governo em 2023, mas a verdade de então é hoje a bíblia do Executivo de António Costa. Mentem todos os dias, mas na manhã seguinte inventam uma verdade. Não sei se é possível descer mais baixo, mas alguns dos governantes desta tropa fandanga vão tratar de me surpreender. O caso dos pareceres – ou de toda a embrulhada do caso TAP – que fundamentaram o despedimento da CEO da companhia aérea deve ser estudado nas universidades portuguesas como um exemplo cristalino de falta de moral de alguns dos ministros de Costa. Sem ser muito fastidioso, diga-se que a polémica surgiu quando a oposição quis levar o assunto à Comissão Parlamentar de Inquérito. A novela encheu páginas de jornais até que o gabinete da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares decidiu enviar uma nota à Lusa para tentar colocar um ponto final no assunto: «O parecer em causa não cabe no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e a sua divulgação envolve riscos na defesa jurídica da posição do Estado. Por isso mesmo, a resposta do Governo à CPI visa a salvaguarda do interesse público».

Alguns partidos não ficaram contentes com a explicação e ameaçaram levar o caso ao Ministério Público, por recusa de informação fundamental para a CPI. Eis que entra em ação o ministro Fernando Medina que vem pôr tudo em pratos limpos. «Não há nenhum parecer, a ideia que se criou de que haveria um parecer… Não há nenhum parecer adicional àquilo que é a base da justificação da demissão, que é mais do que suficiente para quem a leu, relativamente ao parecer da Inspeção Geral de Finanças». Extraordinário! A mentira tornou-se a verdade oficial do Governo de António Costa – pelo menos em alguns gabinetes. 

Se fosse buscar algumas das outras mentiras não sairíamos daqui tão cedo e nem as páginas seguintes chegariam para as contar. Mas recordam-se do ministro que não sabia de nada do que se passava na TAP e que pediu à companhia aérea para esclarecer os portugueses? Lembram-se que foi esse mesmo ministro que instruiu um secretário de Estado para explicar à CEO da TAP o que haveria de dizer no Parlamento?

São tantas as verdades das mentiras que não vale a pena estar a chover no molhado. Calculo que Santana Lopes não consiga dormir com pesadelos ao recordar-se que foi demitido de primeiro-ministro por muito menos do que estes ‘aldrúbias’. 

Mas acredito que Marcelo não poderá fazer nada até que passe 2024, pois até lá o país precisa de alguma estabilidade, já que não podemos desperdiçar os fundos comunitários, além de que irão ocorrer outros acontecimentos importantes como a Jornada Mundial da Juventude, que muitos ainda não perceberam que será um acontecimento único que poderá aumentar a população em Portugal em quase 15% no espaço de seis dias. Isto é: Portugal, bem ou mal, vai ter que gramar com um Governo mentiroso, até porque altos valores se levantam. Além do mais, o Governo foi eleito para cumprir até ao fim o seu mandato.

P. S. Muito se discute a vinda de Lula da Silva a Portugal, mas caso a sua visita não coincidisse com o 25 de Abril, e o discurso na AR, nada haveria a opor. As relações entre os dois povos ultrapassam em muito quem está no poder. E é em nome das pessoas que as relações institucionais devem acontecer. Os milhares e milhares de portugueses que vivem no Brasil e os milhares de brasileiros que estão em Portugal assim o exigem. E para que fique claro, tenho por Lula da Silva a mesma simpatia que nutro por Bolsonaro. 
vitor.rainho@nascerdosol.pt