Direita organiza-se para eleições

Liberais e centristas acreditam em ganhos eleitorais depois de Montenegro ter rejeitado o Chega. IL acredita no potencial eleitoral de ser essencial a um Governo de direita e CDS espera renascer das cinzas.

Por Raquel Abecassis

A entrevista de Luís Montenegro à CNN foi um momento de viragem para a reorganização da direita num cenário de eleições antecipadas. Iniciativa Liberal e CDS viram na clarificação do líder do PSD, ao excluir entendimentos com «políticos e políticas xenófobas, racistas e extremistas», o sinal determinante para alinharem estratégias para o futuro.
Embora ninguém neste momento queira falar em coligações, o facto é que a exclusão do Chega da equação faz sonhar com uma soma de votos que permita um entendimento pós-eleitoral sem grandes dificuldades e isso terá o seu peso junto dos eleitores.

As expetativas de que a clarificação de Montenegro venha a sentir-se já em próximas sondagens são grandes tanto na IL como no CDS que espera com isso recuperar algum do eleitorado perdido para o Chega.

Neste momento, nem IL nem CDS trabalham em cenário de coligação. No caso da Iniciativa Liberal, esse cenário está completamente afastado no que respeita a europeias e legislativas; no caso dos centristas, as ordens são para preparar o partido para ir sozinho a eleições; se se vier a colocar outro cenário, logo se vê. Sendo certo que as coisas são muito mais complicadas para os democratas cristãos, que nas últimas legislativas desaparecerem do Parlamento, a expetativa é que, não sendo o Chega opção de governo, o CDS possa somar votos úteis.

Em declarações ao Nascer do SOL, Nuno Melo, presidente do CDS, saúda a clarificação de Luís Montenegro em relação ao Chega, porque «torna evidente que o espaço útil de votação só pode recair no CDS ou na IL». O líder centrista confia que com os dados que estão agora em cima da mesa «uma alternativa ao desastre socialista só pode passar pelo somatório de votos em partidos que sejam capazes de se entender para a formação de Governo» e Nuno Melo confessa a sua expetativa em relação ao comportamento do eleitorado à direita: «Não me identifico nada com o Chega, mas respeito o seu eleitorado e os novos dados deixam claro para muitos desses eleitores que o CDS soma e este é um dado novo».

Quem também viu fumo branco à direita na última semana foi Marcelo Rebelo de Sousa, que, enquanto garante em público que a dissolução da Assembleia da República não é cenário, às quatro paredes do Palácio de Belém confessa que estuda a hipótese. Nesse sentido, as declarações de Luís Montenegro à CNN foram um bálsamo para os ouvidos do Presidente, que esta semana já fez questão de colocar na agenda oficial de Belém uma audiência ao «líder da oposição» e outra ao «deputado André Ventura». Subtilezas com que assinala os seus desejos de entendimentos à direita.

Do lado do PSD, o ambiente também é de grande satisfação. Depois de várias semanas a levar pancada por não ser alternativa ao poder socialista. A direção social-democrata considera a aposta estratégica dos últimos dias uma aposta ganha. A decisão da direção social-democrata de acelerar calendários, que o Nascer do SOL assinalou há duas semanas, permitiu que Montenegro e o PSD marcassem a agenda política ao longo da semana. Primeiro com a entrevista do líder e depois com a decisão de realizar em Lisboa a iniciativa Sentir Portugal, que, entre outras coisas, possibilitou uma audiência extra com o Presidente da República e deu palco a Montenegro para marcar a atualidade numa semana que Costa tinha escolhido para aliviar a pressão. A cereja em cima do bolo foi a recusa do Governo em fornecer à Comissão de Inquérito à TAP o parecer jurídico que abriu a porta ao despedimento por justa causa da CEO e do Chairman da transportadora aérea. Mais um ‘tiro no pé’ do Governo que desta vez somou a um bom momento dos sociais-democratas. Dentro do partido, há quem comente que esta semana nem toda a máquina de propaganda socialista, com anúncios de aumento de pensões, subsídios e a entrada em vigor do IVA zero, conseguiram recuperar o mau momento que o PS e o Governo atravessam.

Enquanto se preparam para garantir a tal alternativa política que faz falta ao país, PSD, IL e CDS continuam a contar com os novos episódios do dossiê TAP, o ‘ativo tóxico’ que o próprio consultor de comunicação de António Costa já profetizou ser a desgraça dos socialistas. Resta saber se o desastre é de dimensão para levar o Presidente a dar o passo da dissolução.

CDS prepara novidades para os novos embates eleitorais
Admitindo que a circunstância é dificílima, os centristas preparam os futuros embates eleitorais fazendo apelo aos famosos quadros do partido.

Para os próximos meses está prevista a conclusão de um profundo trabalho de revisão programática do CDS. Um trabalho que foi entregue a António Lobo Xavier e que deverá ser o mote para o próximo congresso do partido a realizar no outono.

Na expetativa de se manter no Governo Regional da Madeira em coligação com o PSD, numas eleições a que os dois partidos devem apresentar-se coligados e onde apostam numa maioria absoluta, os centristas esperam ganhar aí um no folego para os desafios eleitorais seguintes. E o teste seguinte não será fácil. As eleições europeias, reconhecidas como aquelas em que o voto é mais livre, podem ditar a saída do CDS do Parlamento Europeu. Realistas, mas não rendidos, os centristas terão feito um toque a reunir interno aos quadros do partido e contam com isso para apresentarem às eleições europeias uma lista ‘à prova de bala’.

E se houver uma proposta de coligação com o PSD? É um cenário com que os centristas não contam, mas que não rejeitam como cenário hipotético. Garantem, contudo, que o que se prepara é uma aposta para enfrentar as urnas sozinhos lutando pela manutenção de um lugar no Parlamento Europeu.

IL aposta tudo no teste das eleições
É a única estratégia possível. Um partido recente na cena política portuguesa e que está em fase de consolidação, não quer perder a hipótese de aferir o seu potencial de crescimento nas urnas. Regionais, europeias e legislativas, a única hipótese em que se admitem possíveis coligações é nas eleições autárquicas, mas mesmo essas têm de ser referendadas caso a caso nos órgãos partidários.

Ao que o Nascer do SOL ouviu esta semana, até as eleições presidenciais podem já ter um candidato na forja. João Cotrim Figueiredo era o nome ideal para os liberais levarem a eleições e há quem diga que o ex-líder teria esse cenário na cabeça quando decidiu abandonar a liderança do partido sem que nada o fizesse prever.

Oficialmente, ninguém comenta, mas o certo é que a saída da liderança não correspondeu a um afastamento da atividade política e Cotrim Figueiredo mantém-se como um deputado dedicado da bancada liberal. E sendo assim, o afastamento não terá sido para se dedicar a outras atividades. Belém na mira?