A estabilidade eterna só se encontra nos cemitérios

O país tocou no fundo, a divergência com a UE aprofunda-se, o futuro é cada vez mais incerto e a desconfiança dos eleitores nos eleitos atingiu o pico mais elevado

Durante os últimos dias o assunto dominante na comunicação pública social foi determinado pelas estranhas e incompreensíveis revelações surgidas no decorrer dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP.

É provável que nos próximos tempos surjam revelações ainda mais chocantes, que motivarão novas notícias e novas indignações. Mas agora é o momento para uma pequena paragem e uma grande reflexão.

A gestão da TAP é um crime político, a roçar mesmo a fronteira de ‘caso de polícia’, que tem de identificar culpados e implicar a punição de todos os responsáveis.

Mais do que o esforço financeiro que a empresa exigiu e continuará a exigir aos portugueses, quanto mais não seja quando for vendida por um preço muito abaixo do seu valor, a TAP é um caso de estudo da miséria moral que tomou conta dos políticos portugueses.

De resto, este dossier, talvez pelo seu volume (não é todos os dias que se deitam fora mais de 3,5 mil milhões de euros) está a servir para ocultar ou desvanecer outras situações que ocorrem na esfera do setor empresarial do estado e que quando chegarem à opinião pública não deixarão de causar novas ondas de indignação.

A Efacec pode ser o ‘senhor’ que se segue, mas a Transtejo, os negócios da CP e a odisseia do lítio, são dossiers que vão necessitar de escrutínio permanente e exigente nos próximos meses.

E o que é mais preocupante é que por trás de todos os casos se encontrarão sempre os mesmos protagonistas, ou seja o primeiro-ministro (PM), os sucessivos ministros da Economia, que parecem perder qualidades técnicas logo que chegam ao Governo, os amigos mais próximos e o grupo restrito dos ‘intelectuais do sovaco’ que servem de suporte ideológico às tonterias.

A grande lição a retirar do caso é, por isso, de caráter politico pois não haverá folclore, ligado a emails, WhatsApps, mentiras, contradições, ajustes de contas, ou vaidades que invalidem este juízo: a ‘novela TAP’ é o retrato perfeito deste Governo.

Não é necessário esperar pelo fim da comissão de inquérito e proclamar apressadamente que tudo tem de ser investigado, doa a quem doer, porque tudo o que era necessário saber sobre a qualidade do Governo, mesmo para os que andam ou se fazem distraídos, já se encontra hoje a céu aberto.

Claro que o que interessa ao Governo, aos seus acólitos, à comunicação social dependente e, ao que parece ao próprio Sr. Presidente da República (PR) é que o tempo decorra para que os danos possam ser controlados, até que ‘o Sol volte a brilhar para todos nós’.

Para isso, o trabalho dos spin doctors é essencial (e como eles tem sido eficazes!!!)…é anúncio aqui, visita acolá, estatística divulgada hoje, previsão favorável publicada amanhã…mesmo que tudo seja requentado e se traduza, verdadeiramente, numa mão cheia de nada.

Não há outra forma de o dizer, a TAP foi só a última prova, de que este Governo não satisfaz, não está ao serviço dos cidadãos e, se continuar por muito mais tempo, destruirá alguns dos pilares mais sólidos da democracia portuguesa.

O pior cego é o que não quer ver e o maior irresponsável é o que mete a cabeça na areia e se recusa a retirá-la do buraco.

António Costa transformou o PS num laboratório para a escolha do seu presumível sucessor. Misturou tudo, juntou candidatos, adicionou outros (a ‘indigitação’ de Marta Temido é um caso de estudo) e transformou o Executivo num verdadeiro saco de gatos, ainda mais inoperacional e incompetente do que já era.

Tudo isto com a aceitação tácita do PR que usando um critério de estabilidade muito próprio, que aliás só aplica quando lhe dá jeito, ficou quedo e mudo perante estas graves violações do interesse do país.

O país tocou no fundo, a divergência com a UE aprofunda-se, o futuro é cada vez mais incerto (não há PRR que nos valha) e a desconfiança dos eleitores nos eleitos atingiu o pico mais elevado.

Agora o novo karma é a fuga do PM para um posto em Bruxelas.

Na mercearia de Bruxelas tudo se compra e tudo se vende, mas não será nada fácil.

Os lugares de topo, são distribuídas pelos principais grupos políticos e a dimensão destes só é conhecida após as próximas eleições europeias.

Previamente o S&D terá de anunciar o seu Spitzenkandidat, ou seja o candidato à presidência da Comissão, o que torna o desejo de Costa de difícil concretização.

Claro que há também o Conselho (a presidência do PE é para um eurodeputado) mas o português, mesmo dentro do grupo socialista, não será, certamente, o único pretendente.

Numa altura crítica para o país é inqualificável que esta temática domine a agenda política.

O Governo está esgotado e deve ser rapidamente substituído. O verdadeiro PS, o Partido da Liberdade, terá de dar uma contribuição decisiva para essa mudança, se o PR o desejar e solicitar.

Uma nota final sobre as próximas comemorações do 25 de Abril.

Independentemente da personagem em causa, é inaceitável que um líder estrangeiro participe, através de uma habilidade de chico ‘espertismo intolerável’, na cerimónia parlamentar que consagra a nossa Democracia e a nossa Liberdade.

Mais uma asneira que deve ser creditada ao PR e ao PM e, neste caso específico, também ao presidente da Assembleia da República e ao ministro dos Negócios Estrangeiros.

Perante este atentado institucional é muito estranha a reação envergonhada do PSD.

Com Sá Carneiro nada disto sucederia sem haver consequências políticas assinaláveis.