Os desígnios de Abril ficaram por cumprir

Temos uma justiça incompreensivelmente lenta e parca com os fortes, temos um Estado cada vez mais gordo ao serviço de clientelas e temos um tecido empresarial sem o apoio devido, temos jovens promissores a emigrar porque o nosso País não lhes dá o justo valor e reconhecimento e muito mais havia a dizer.  

por Fernando Camelo de Almeida

Estamos prestes a comemorar os 49 anos do 25 de Abril e como o povo aprecia muito tudo o que seja comemorações, até se criou um onerosa Comissão, ao nível de um gabinete ministerial, para preparar os festejos dos 50 anos do 25 de Abril que foi útil para a nomeação política bem remunerada de Pedro Adão e Silva que mais tarde foi escolhido para Ministro da Cultura ecuriosamente não se voltou a ouvir falar da tal Comissão que provavelmente servirá para acolher mais alguns “boys”.

É bom termos presente que alguns dos desígnios de Abril continuam por cumprir, continuamos a assistir à promiscuidade entre os negócios e a política, à falta de dignidade na causa pública onde a corrupção continua a imperar, o nível salarial dos Portugueses permanece baixo, os mais velhos estão esquecidos, a classe média está a extinguir-se, as forças de segurança são mal tratadas, as forças armadas vão perdendo reputação e a tentativa de assassinato da Escola Pública é hoje uma realidade preocupante.

Actualmente, ainda não temos igualdade no acesso à saúde, quem tem dinheiro ou a sorte de ter um seguro de saúde é privilegiado, quem não tem resigna-se a esperar demasiado tempo por uma consulta, exame ou cirurgia, temos uma justiça incompreensivelmente lenta e parca com os fortes, temos um Estado cada vez mais gordo ao serviço de clientelas e temos um tecido empresarial sem o apoio devido, temos jovens promissores a emigrar porque o nosso País não lhes dá o justo valor e reconhecimento e muito mais havia a dizer.  

Há muito trabalho para ser feito, assim surjam políticos honestos e competentes com vontade de servir Portugal, encarando o exercício das funções governativas como uma missão de serviço publico transitório e não como modo de vida, e assim os Portugueses os saibam escolher sem a nefasta influência da cegueira partidária ou da ilusão criada por políticos malabaristas ou populistas.

Passaram 49 anos, tivemos vários governos de direita e de esquerda que nos desgovernaram e hipotecaram o desenvolvimento do nosso País, não podemos continuar nessa senda desastrosa, urge, de uma vez por todas, procurar-se alternativas que invertam este rumo. Cabe-nos a todos essa responsabilidade, exigindo mais de quem governa, abandonando a passividade que nos aniquila e manifestando veementemente o nosso desagrado quando assim se justificar.

Falar-se do 25 de Abril ignorando o 25 de Novembro, é um exercício desonesto que apenas tem como objectivo branquear a história. Se é verdade que o 25 de Abril foi o primeiro passo para a liberdade, não é menos verdade que o 25 de Novembro nos trouxe a liberdade plena.

Hoje, como europeus, devemos sentir vergonha e pesar perante o genocídio a que o mundo tem assistido passivamente na Ucrânia. Por cá, há quem critique o líder do País democrático invadido a quem querem coartar a liberdade e poupe o ditador do País invasor, curiosamente, são alguns dos que agem como se fossem donos do 25 de Abril, da democracia e da liberdade em Portugal, mas sabemos bem que liberdade teríamos se não surgisse quem lhes colocasse travão e daí a importância do 25 de Novembro.

 São realmente tempos difíceis os que vivemos!

Mas valerá sempre a pena lutar pela democracia, pela liberdade e por um Portugal mais próspero para todos, cumprindo assim com os desígnios de Abril.