O primeiro sapato do mundo feito de canábis

Já é possível comprar os primeiros sapatos feitos de canábis. E, para surpresa de muitos, são portugueses. A marca 8000Kicks criou uma edição limitada dos Weedo que custam mais de mil euros e que não, não dão para fumar!

Quando ouvimos ou lemos a palavra canábis, é muito provável que o nome faça soar – das duas uma -, ou campainhas de alarmes no pensamento (por estar associada a uma droga que apesar de leve ainda é ilegal), ou sinos recreativos (pelos benefícios já cientificamente aprovados da sua utilização, moderada e controlada, claro). A verdade é que, ao contrário daquilo que muita gente pensa, esta planta serve para muito mais do que fumar. Existem diversos usos e um deles é o têxtil. Se há uns anos atrás pensássemos em sapatos feitos de canábis, talvez nos parecesse impossível. Mas o mundo tem-nos provado que há cada vez menos impossíveis. 

A marca portuguesa 8000Kicks criou os primeiros sapatos feitos com folhas de CBD. «O primeiro sapato de sempre feito com flores de CBD! Sim, leu bem, é CBD real! Apresentamos o Weedo, um sapato que quebra o estigma», lê-se no site da 8000Kicks – focada no fabrico de sapatos de cânhamo, a fibra natural mais resistente e sustentável do mundo – a respeito dos seus novos sneakers de edição limitada. Segundo a página, o modelo peculiar serviu de resposta à constante pergunta dos clientes: «Podemos fumar os sapatos?». Por isso, a startup decidiu levar a brincadeira ainda mais longe, usando a flor da planta em vez da fibra para produzir este sapato «único». O sapato feito de canábis CBD é feito em parceria com a Royal Queen Seeds e com a execução da Nisiseltor Studio. 

O nascimento da ideia 

"A ideia veio dos nossos próprios clientes, que estão sempre a perguntar se o sapato dá para fumar. Então isto fomos nós a levar a brincadeira mais a sério e a criar um sapato feito mesmo de erva, ou mais tecnicamente da flor da canábis. Na verdade, o sapato continua a não dar para fumar, mas cheira 100% a erva e tem o aspeto como tal", explica à LUZ, Bernardo Carreira, fundador da 8000Kicks

De acordo com a empresa, estes são feitos com materiais sustentáveis, incluindo cordões de algodão e cânhamo, palmilhas de cânhamo e um interior de cânhamo. Cada par contém entre 400g e 500g de canábis CBD e leva até 30 horas para ser fabricado «totalmente à mão». «A ideia já tem algum tempo. Começou a ser desenvolvido há 6 meses com a Royal Queen Seeds, que forneceu as flores de canábis, e a Nisiseltor que fez a execução final. Demorou muito tempo a alinhar todos os detalhes», continuou Bernardo Carreira.

O processo de construção

Mas de que forma se constroem os sapatos? «Foi necessário um moedor industrial para triturar a flor de canábis em pedaços pequenos, que foram posteriormente costurados manualmente», lê-se no site. Para garantir que o sapato é vegan e sustentável, «foi utilizada uma cola à base de água para unir os materiais».

«Não foi uma ideia fácil de concretizar, porque foi algo que nunca tinha sido feito. Em primeiro lugar tínhamos de encontrar um fornecedor de ‘erva’, ou mais tecnicamente, de flores de canábis. Em segundo lugar tínhamos de arranjar maneira de transformar o material e aplicar na gáspea do sapato», lembrou o responsável.

Interrogado sobre os maiores desafios enfrentados, Bernardo Carreira admite que foram muitos: «Em primeiro lugar nem todas as transportadoras podem levar canábis. Trabalhar com a empresa errada pode-nos meter em problemas. Em segundo lugar precisávamos de um fornecedor de canábis com credibilidade, e foi ai que entrou a Royal Queen Seeds, a maior empresa de produtos de canábis da Europa, sedeada nos países baixos. Em terceiro lugar a Nisiseltor, um estúdio com anos de experiência em trabalhos artísticos de sapatos. Depois de muitos testes eles conseguiram ajudar a transformar as flores e usá-las na gáspea através da trituração das flores e da aplicação de colas técnicas», detalhou.

Segundo nota a empresa, o modelo foi idealizado para colecionadores devido ao seu material único e não convencional. Porém, garante o fundador, «pode comprar quem quiser». «Mas nós conhecemos o nosso público e sabemos que quem gasta mil euros num sapato tem por hábito comprar outros sapatos de igual valor e guardar toda a coleção em mobiliário especifico. São os ‘sneakerheards’, os colecionadores de sneakers. Porém o sapato é para usar, e nós estamos à espera que os clientes usem o sapato, especialmente em ocasiões especiais», deseja.
Devido aos altos custos e à mão de obra especializada necessária, haverá apenas 100 pares do Weedo disponíveis, com um preço estimado entre mil e 1500 euros.

Passado, Presente e Futuro

Apesar destes serem considerados os primeiros sapatos feitos do material, há uns anos que a utilização de CBD para vestuário tem virado moda. O que poucos sabem, é que a história já vem muito mais de trás. 

Segundo o site oficial da Greenco, empresa de vestuário sustentável, o pano mais antigo que se conhece, era feito de cânhamo e data de 8.000 a.c., na região onde ficava a Mesopotâmia. Além disso, lê-se no texto, os fenícios também usavam o tecido feito das fibras do cânhamo para cobrir as velas. Da mesma constituição, eram os cabos e os panos das velas, utilizados pela maioria dos navios que transportavam os exploradores europeus. As telas das pinturas de grandes pintores, como Rembrandt, Van Gogh, também eram feitas de lona de cânhamo. Na década de 1920, o cânhamo foi ainda utilizado para fazer 80% de todas as roupas da época. Foi importante até na Segunda Guerra Mundial, pois era a matéria-prima da maioria dos uniformes militares americanos.

Mais recentemente, em 2019, uma empresa de estampados de Santo Tirso começou a produzir para os EUA roupa desportiva com acabamentos à base de um derivado da canábis – o encapsulamento de CBD (canabidiol). No mês em que completou 50 anos de atividade, a Adalberto tornou-se mesmo «pioneira mundial na produção de tecidos com derivados de canábis», cuja utilização tem efeitos «anti-inflamatórios, relaxantes e anti-stress», explicava na altura à Lusa a diretora executiva, Susana Serrano. Outra das grandes vantagens do tecido com derivado de canábis, segundo a responsável, reside no facto de facilitar uma mais rápida recuperação do esforço muscular.